Brasil x EUA: um dia de cão na Bolsa de Valores

Ações dos grandes bancos brasileiros desabaram e eles, em um dia, perderam R$ 41,9 bilhões em valor de mercado

Escrito por
Egídio Serpa egidio.serpa@svm.com.br
(Atualizado às 05:03)
Legenda: As ações dos grandes bancos desabaram no pregão da Bovespa ontem. As do BB (foto) caíram 6%
Foto: Paloma Vargas SVM
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Ontem, foi um dia de cão no mercado financeiro brasileiro. A Bolsa de Valores teve uma forte queda de 2,10%, descendo para 134.432 pontos. Foi a maior queda da Bovespa em quatro meses. No dia 4 de abril, a bolsa caiu 2,96% por causa do anúncio das tarifas recíprocas anunciadas pelo presidente dos EUA, Donald Trump.  

O dólar, que há duas semanas chegou a valer R$ 5,38, fechou o dia de ontem cotado a R$ 5,49, tudo por conta da tempestade de ontem. 

Os grandes bancos brasileiros perderam ontem, só ontem, R$ 41,9 bilhões em valor de mercado. As ações do Banco do Brasil desabaram 6%; as do Bradesco, 3,43%; as do Itaú desvalorizaram-se 3%; as do Santander, 4,88%.

A causa desse desastre foi a decisão adotada na véspera pelo ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal, que considerou sem validade no país leis e decisões estrangeiras tomadas contra cidadãos brasileiros que não tenham sido validadas pela corte suprema do Brasil. 

A questão é a seguinte: o ministro Alexandre de Moraes, do STF, está sancionado pelo governo dos Estados por decisão pessoal do presidente Donald Trump, que lhe aplicou a Lei Magnitisky, que o proíbe, entre outras coisas, de ter acesso a instituições financeiras com atuação nos Estados Unidos. É o caso dos bancos brasileiros, inclusive o Banco do Brasil, que tem agências naquele país. 

Diante do pesadelo que foi o pregão da Bovespa no dia de ontem, os bancos pressionaram os ministros do Supremo, tendo o ministro Flávio Dino revisto sua decisão anterior, modificando-a. Agora, conforme a nova decisão do ministro Dino, as ordens de tribunais internacionais continuam a ter eficácia imediata no Brasil.   

É provável que, hoje, quarta-feira, as ações dos bancos voltem a subir na Bolsa. 

De acordo com a Agência O Globo, bancos brasileiros têm operações no exterior associadas a escritórios e bancos norte-americanos, além de relações com empresas multinacionais. Assim, os bancos brasileiros estariam diante do risco de cumprir uma ordem do STF, a qual poderia ter como consequência multas ou impactos diretos nos negócios internacionais dessas instituições financeiras brasileiras. 

Apesar da reviravolta da posição do ministro Flávio Dino, prossegue a tensa expectativa no mercado financeiro. Há o temor de que o governo dos Estados Unidos adote novas sanções contra autoridades brasileiras dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, tudo isto em razão da decisão do ministro Alexandre de Moraes que determinou prisão domiciliar para o ex-presidente Jair Bolsonaro, acusado de tentar um golpe de estado no dia 8 de janeiro de 2023.  

O julgamento de Bolsonaro começará no próximo dia 2 de setembro, e ele poderá ser condenado. Bolsonaro e sua família são amigos do presidente Donald Trump, que está pressionando o STF a encerrar o processo contra ele, no que é uma clara interferência em assuntos internos brasileiros. 

A posição de Donald Trump no cenário da política internacional está hoje abalada pelo fracasso, até agora, de sua tentativa de encontrar uma solução para a guerra na Ucrânia.  

Na mídia europeia e, também, na norte-americana, o que se lê e ouve são críticas ao presidente dos Estados Unidos, que estaria sendo enganado pelo seu colega da Rússia, Vladimir Putin, que não marcou, ainda, o dia nem o local da reunião com o presidente da Ucrânia, Volodomir Zelensky, e com o próprio Trump.  

Enquanto isso, o Exército e a Força Aérea da Rússia continuam a atacar cidades ucranianas, avançando ainda mais sobre o território do país invadido.  

Ontem, surgiu uma boa notícia: os Estados Unidos aceitaram um pedido de consultas feito pelo governo brasileiro no âmbito da Organização Mundial do Comércio, a OMC, o que revela uma sinalização de que os dois países poderão, enfim, iniciar conversações sobre o tarifaço. Tudo estaria facilitado para esse entendimento, se não fosse o aspecto político causador da decisão de Donald Trump de impor uma absurda e extravagante tarifa de 50% aos produtos brasileiros exportados para o mercado norte-americano. 

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