Projeção da OMC para o Brasil e o mundo no comércio exterior 2024
Em 2023, enquanto o volume de comércio mundial recuou, o volume exportado pelo Brasil cresceu 8,6% e o das importações registrou queda de 2,2%.
Em mensagem a esta coluna, o Instituto Brasileiro de Economia (IBRE), da Fundação Getúlio Vargas (FGV), apresenta e analisa as projeções do comércio mundial para ano e destaca a posição do Brasil. Leia-o:
Em abril, antes do acirramento do conflito no Oriente Médio entre Irã e Israel, a Organização Mundial do Comércio (OMC) estimou um aumento no volume do comércio mundial de 2,6% em 2024, após recuo de 1,2%, em 2023, influenciado pelo fraco desempenho da Europa. A OMC chamava atenção, porém, para as incertezas que pairavam sobre o comércio mundial. O cenário desfavorável para uma negociação visando o término da guerra na Ucrânia e do conflito entre Israel e o Hamas. Esse cenário influenciava os preços das commodities e afetava a logística do transporte mundial, em especial no Canal do Suez. A alta probabilidade de manutenção dos juros altos nos Estados Unidos, que poderia levar a um crescimento menor da economia do país, e as dúvidas quanto ao crescimento chinês de 5% anunciado pelo governo do país. Esses dois últimos fatores com impactos na demanda mundial por importações.
Em 2023, enquanto o volume de comércio mundial recuou, o volume exportado pelo Brasil cresceu 8,6% e o das importações registrou queda de 2,2%. Seca na Argentina, problemas de safra nos Estados Unidos, recuperação da China explicaram o bom desempenho exportador do país. Para 2024, o modelo Ibre estimou em março (Boletim Macro), aumento no volume exportado de 2% e das importações de 1,2%, próximo às projeções da OMC.
O que muda após o acirramento do conflito do Oriente Médio? Para o comércio exterior do Brasil, exceto se houver alastramento dos conflitos envolvendo as grandes potências, a oferta de commodities, em especial, do petróleo, poderá ser beneficiada com possível aumento de preços. Os juros altos nos Estados Unidos tendem a desvalorizar a moeda brasileira junto com fatores domésticos como a questão fiscal, entre outros. Nesse caso, pressões inflacionárias não são bem-vindas, mas para a balança comercial o efeito seria positivo.
Não há consenso quanto ao desempenho chinês para 2024. No entanto, sinais de melhora da economia chinesa têm levado a que vários especialistas e institutos comecem a acatar a projeção de 5% do governo chinês para 2024 como viável. A pauta brasileira de exportações para a China está concentrada em três produtos. No primeiro trimestre de 2024 esses produtos explicaram 77% das exportações para a China – soja (31%); minério de ferro (23%); e petróleo (23%). Mesmo com crescimento menor, ao redor de 4%, as exportações devem desacelerar em relação ao resultado de 2023, mas as variações serão positivas e o superávit está garantido. Todas essas considerações supõem que o conflito não irá se alastrar pelo mundo.
A balança comercial de março
Após dois meses consecutivos de superávits recordes, o saldo da balança comercial de março de 2024, no valor de US$ 7,5 bilhões, foi inferior ao de março de 2023. No entanto, na comparação do primeiro trimestre, o superávit de US$ 19,1 bilhões em 2024 foi o maior da série histórica.
Observou-se, em março, uma desaceleração e/ou queda nos volumes de comércio. No caso das exportações, que cresceram 19,7% (janeiro) e 20,6% (fevereiro) na comparação interanual mensal entre 2023 e 2024, foi registrado recuo de 9,6%, em março. No volume importado, o comportamento foi similar: 11,2% (janeiro), 12,4% (fevereiro) e desaceleração para 1,6%, em março. Os preços seguiram a trajetória de queda observada desde o início do ano, e caíram 5,6% para as exportações e 8,5% para as importações. Com esses resultados, o valor exportado em março, em relação a igual período de 2023, caiu 14,8%; e as importações, 7,1%. No trimestre, porém, a variação no valor exportado é positiva.
As commodities, que explicaram 70% das exportações de março, registraram recuo de 7,7% no volume exportado e as não commodities de 14,2%, em relação a março de 2023. Os preços das commodities caíram na comparação mensal e trimestral, mas, em termos de volume, as commodities cresceram 14,4% entre o primeiro trimestre de 2023 e 2024.
O volume e os preços importados das commodities declinaram na comparação interanual do mês de março e do primeiro trimestre de 2023 e 2024. O volume das não commodities aumentaram 10,3% entre os trimestres e 2,9% entre março de 2023 e 2024.
Nos dois primeiros meses do ano, o crescimento de volume exportado da agropecuária e da indústria extrativa foram na ordem de dois dígitos. A comparação interanual entre 2023 e 2024 mostra aumento de 35,7% e de 39,3%, em janeiro, e de 26,9% e 58,5%, em fevereiro, para a agropecuária e a extrativa, respectivamente. Em março, o resultado mudou.
A piora no desempenho exportador em março está associado ao desempenho do setor agropecuário e da indústria extrativa. Na agropecuária a queda no volume (-5,1%) e nos preços (-20,5%), levou a uma variação negativa no valor de -20,8%, na comparação interanual de março entre 2023 e 2024. A queda foi puxada pelas exportações de soja em grão (19,3% das exportações totais do Brasil, em março) que recuaram 4,6 em kilo, e 23,1%, em preço, segundo a Balança
Da mesma forma, a indústria extrativa contribuiu para esse resultado com retração de -21,4% no volume exportado e queda nos preços de -3,2%, com variação negativa de -23,9% no valor. O petróleo bruto, que explicou 12,7% das exportações brasileiras em março, registrou queda de -35,5% em valor, -28,8 em kilo e -10,4% nos preços.
Na indústria de transformação, a queda foi de -3,9% no volume e de -6,2% no valor, na comparação mensal. No trimestre, porém, como mostra o Gráfico 4, os resultados são positivos para a agropecuária e a extrativa, em termos de volume.
Nas importações, chama atenção a variação no volume importado da agropecuária — +17,8% na comparação mensal e +16,3% na do trimestre. Lembramos, que o setor tem uma participação pequena nas importações do país. Em março, explicou 2,3% do total das importações brasileiras. O trigo é o principal produto importado do setor (27% de participação) e registrou aumento em toneladas de 19%.
A indústria de transformação, que explica cerca de 90% das importações brasileiras, registrou variação de +0,5% na comparação mensal e de +8,5% no trimestre.
As importações de bens de capital e bens intermediários são indicadores para o investimento e nível de atividade dos setores. Os resultados do ICOMEX mostram variações positivas para as compras de bens de capital para a indústria de transformação e negativas para a agropecuária. O que sugere que a queda dos preços agrícolas está tendo um efeito negativo nas perspectivas de investimento do setor. Observa-se, porém que as variações positivas na indústria de transformação não alcançam variações superiores as registradas para o setor agropecuário em 2023, na comparação entre os dois primeiros trimestres de 2023 e 2024: 12% para a transformação e 127% para a agropecuária para as importações de bens de capital.
As importações de bens intermediários recuaram na agropecuária e na indústria de transformação, onde os aumentos foram de 1,1% (mensal) e 7,2% (trimestral).
Os principais mercados de destino por países das exportações brasileiras no primeiro trimestre de 2024 foram com as suas participações: China (29,4%); Estados Unidos (12,6%); e a Argentina (3,6%). A participação da União Europeia foi de 12,1%. Estados Unidos é destacado pelo aumento no volume exportado seja na comparação mensal (+21,6%) ou trimestral (+21,0%). As exportações de petróleo bruto explicaram 19% das vendas para esse mercado, com variação em valor entre os dois primeiros trimestres de 2023 e 2024 de 142%. A China registrou variação positiva no trimestre, mas queda na comparação mensal com menores vendas em volume de soja.
Nas importações, o destaque é o aumento de volume para a China e queda para os Estados Unidos. Nesse último caso, chama atenção a queda nas importações de óleo combustível (9,9% das importações) e recuo de -46% na comparação trimestral (Gráfico 8).
Observa-se que a distância da participação da China e dos Estados Unidos nas importações brasileiras tem aumentado ao longo dos anos. No primeiro trimestre de 2024, a participação da China foi de 23,9%, dos Estados Unidos de 15,2% e da União Europeia de 19%. Há dez anos atrás, no primeiro trimestre de 2014, essas participações eram: China (17,4%); Estados Unidos (15,5%); e União Europeia (19,3%).
Por último, ressalta-se que os termos de troca após mostrarem uma trajetória de aumento desde junho de 2022, reverteram essa tendência. Entre janeiro e março de 2024 , os preços exportados recuaram -4,1% e os importados aumentaram +1,2%. O resultado foi uma queda de -5,3%. Com o acirramento das tensões no Oriente Médio, se mantido o cenário atual, os termos de troca poderão manter uma trajetória de queda, mas não muito acentuada
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