Portuguesa TAP tem futuro incerto, mas seu presente é caótico

Empresa aérea, que liga Fortaleza à Europa via Lisboa, atravessa uma grave crise financeiro. O governo de Portugal quer privatizá-la, e há interessados em comprá-la

Legenda: Avião da TAP decola do Aeroporto Internacional de Fortaleza rumo a Lisboa. A empresa aérea portuguesa atravessa crise financeira.
Foto: Kid Júnior / Diário do Nordeste

Incerto é o futuro da TAP, a grande empresa aérea de Portugal, cujo governo socialista anunciou que venderá para a iniciativa privada 51% do capital da empresa – outros 5% serão destinados à aquisição pelo seu conjunto de funcionários. Mas enquanto esse futuro não chega, a TAP vive um presente caótico que está prejudicando seus clientes brasileiros do Nordeste, inclusive os do Ceará.

Empresários, executivos e profissionais liberais cearenses que costumam viajar para a Europa em aviões da TAP contaram a esta coluna, nos últimos dias, que a aérea portuguesa vive uma grave crise financeira que a levou a reduzir sua frota e a alugar aviões da empresa europeia Wamos Air.

Há 10 dias, seis integrantes de uma tradicional família de Fortaleza viajaram de Fortaleza para Lisboa em um avião A-330-200, antigo, cuja Classe Econômica Premium “mais parecia uma lata de sardinha”.

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O pior aconteceu no “check-in”: dois do grupo compraram passagens na classe executiva, mas foram instalados na última fileira da Classe Econômica, sem qualquer aviso prévio e sem devolução do dinheiro pago a mais.

Ontem, empresários brasileiros que estão em Madri participando da Fruit Acttration, grande feira europeia da cadeia produtiva da hortifruticultura, transmitiram mensagens à coluna informando que “as coisas na TAP estão muito desorganizadas”, e citaram dificuldades que tiveram no voo de Fortaleza para Lisboa no domingo passado, a começar pela “péssima qualidade da comida servida a bordo”.

Um deles revelou que a TAP está usando aviões A-330-200, velhos, nos voos para as capitais nordestinas – Fortaleza, Natal, Recife e Salvador – mas mantendo os seus próprios aviões, que são do modelo A-330-300, novos, nas rotas para São Paulo e Brasília. 

De acordo com o cronograma estabelecido pelo governo português, o processo de privatização da TAP deverá estar concluído até o fim do primeiro semestre de 2024.

A TAP, que já foi privada por um curto período, voltou às mãos estatais. O resultado é o que está aí – a companhia, um orgulho do povo português, atravessa outra vez uma zona de turbulência provocada por “cumulus nimbus” da incompetência do Estado na gestão empresarial.

A TAP é a empresa aérea que presta ao turismo brasileiro, máxime ao da região Nordeste, um relevante serviço. Ao criar um voo direto ligando Lisboa a Fortaleza, a TAP aumentou a presença de turistas europeus no Ceará e ampliou, também, grandes e diversos negócios, atraindo investimentos para cá e, ainda, permitindo a construção de parcerias de entidades empresariais lusitanas com suas semelhantes cearenses. 

Por causa dessa ponte aérea, Portugal e Ceará têm hoje projetos de interesse comum, de que são exemplo os ligados à Economia do Mar. Assim, a recuperação da TAP – do ponto de vista operacional e financeiro – é crucial para a manutenção desse intercâmbio de múltiplos objetivos das duas partes.

Além disso, é por Lisboa que a maioria dos cearenses chega à Europa, e neste ponto o voo diário daqui para a capital portuguesa já se transformou numa plataforma de exportação de produtos cearenses para o continente europeu e de importação de mercadorias da Europa para o Ceará.
 
É preciso convir que foi a pandemia da Covid-19 – agravada em em março de 2020 – que desencadeou a crise em que hoje está mergulhada a TAP. O governo português ainda não precificou a privatização de sua empresa área, mas criou, neste ano, um plano de reestruturação da empresa que está custando ao Tesouro lusitano uma montanha de 3,2 bilhões de euros.

Antes de dar preço à TAP, o governo de Portugal deseja, primeiro, ouvir o que têm a dizer os interessados na sua privatização. Entre esses interessados estão a alemã Lufthansa e a franco holandesa Air-France-KLM.

Há dois anos, a Lufthansa comprou 41% do capital da ITA Airways, antiga Alitália. Quase ao mesmo tempo, a International Comnsolidated Airlines Group, dona da British Airways, comprou a empresa espanhola Air Europa. 

Esses movimentos fazem parte de um processo de consolidação da aviação comercial na Europa, que, pelo que se lê e ouve, envolverá, também, a TAP, e será bom que isto aconteça logo.