Por que o Brasil é atrasado? Aldo Rebelo é duro na resposta

Para o ex-ministro da Defesa, da Ciência e Tecnologia, do Esporte e de Coordenação Política dos governos Lula II e Dilma, as ONGs tomaram conta da Amazônia

Escrito por
Egídio Serpa egidio.serpa@svm.com.br
(Atualizado às 05:49)
Legenda: Localizado a 725 quilômetros de Manaus, no coração da Amazônia, o campo de petróleo de Juruá (foto) foi descoberto pela Petrobras em 1978
Foto: Petrobras / Divulgação

Tem razão o presidente Lula ao reclamar publicamente do Ibama, que, na sua opinião, faz “um lenga-lenga” que atrasa os planos do governo e da Petrobras de explorar as imensas reservas de petróleo existentes, segundo as pesquisas, na chamada Margem Equatorial, que se estende desde o litoral do Amapá até o Rio Grande do Norte, passando pelo Ceará.

A 80 quilômetros do Amapá, a Guiana já perfurou e segue extraindo e vendendo o óleo e o gás abundantes na sua geografia marítima. A Guiana já é chamada de Dubai da América Latina. Por que o Brasil não pode fazer o mesmo? – é a pergunta.

Quem dá a resposta é o ex-deputado federal Aldo Rebelo, ex-presidente da Câmara dos Deputados, que foi, por vários anos, estrela maior do Partido Comunista do Brasil, o PcdoB, e hoje abriga-se na legenda do Movimento Democrático Brasileiro, o MDB, antigo PMDB. Ele foi, também, ministro da Defesa, da Ciência e Tecnologia, do Esporte e de Coordenação Política e Assuntos Institucionais dos governos Lula II e Dilma Roussef. É, pois, acima de qualquer suspeita ideológica, uma personalidade que pode emitir opiniões a respeito do atraso brasileiro.

Pois bem, na dura e contundente opinião de Aldo Rebelo, o que há hoje, na Amazônia é a presença de um “estado paralelo” dominado por Organizações Não Governamentais (ONGs) financiadas por governos estrangeiros, entre os quais os escandinavos e o do Reino Unido, que se apropriaram das riquezas naturais da região, principalmente as riquezas minerais.

Lá, não entra o estado brasileiro – ou seja, o governo eleito pelo voto popular. Por esta razão, o crime organizado e seus tentáculos assumiram o controle da selva, dos rios e das cidades do interior da Amazônia.

Aldo Rebelo afirma que essas ONGs governam tudo, inclusive o Ibama, a Funai, o ministério do Meio Ambiente e o ministério das Populações Indígenas e governam ainda uma parte do Ministério Público Federal e dos estados, “havendo procuradores que integram os conselhos dessas ONGs”.

Em entrevista que concedeu à TV Bandeirantes na última quarta-feira, Aldo Rebelo deixou boquiabertos seus entrevistadores e os brasileiros que o ouviram, ao afirmar que “essas ONGs decidiram que a Amazônia brasileira deve ser imobilizada, não deve ser usada para enriquecer o país, seja com sua fronteira mineral, seja, como é o caso comentado pelo presidente Lula, da Margem Equatorial, onde há uma reserva de petróleo e gás que pode resolver o problema do nosso país”.

Ele disse que a Margem Equatorial é muito maior do que a área petrolífera agora explorada pela Guiana, que tem reservas estimadas em 11 bilhões de barris de petróleo e que, por isto mesmo, já está sendo chamada pela mídia internacional de “a nova Dubai”.

Aldo Rebelo com a palavra:

“A nova Dubai poderia ser o Amapá, mas o Ibama proibiu não a exploração do petróleo, mas a abertura do poço experimental, a 510 quilômetros da Margem Equatorial, a 176 quilômetros do litoral, em um estado (o Amapá) onde a violência é a maior do Brasil, onde a pobreza é a maior do Brasil, onde 73% da população vivem de transferência de renda. Na verdade, o presidente Lula se depara com a disputa entre o estado assistencial, que sustenta – com bolsas e transferência de renda – a ausência da atividade econômica, a atividade produtiva. Esse estado assistencialista é contraponto ao estado empreendedor, que pode abrir caminho para o desenvolvimento da economia, porque a cadeia produtiva de petróleo e gás mobiliza a economia como um todo”.

Aldo Rebelo diz mais:

“O presidente do Ibama é nomeado pelo presidente Lula. O rapaz que ele nomeou não sabe onde fica o Amapá. (...) Ele foi a Londres para dizer que o petróleo é tecnologia do passado, enquanto o governo inglês autoriza a abertura de 100 poços no Mar do Norte, e a Shell, com sede em Londres, amplia seus investimentos em petróleo e gás, e ele não vai ao Amapá, mas proíbe a perfuração de um poço experimental na Margem Equatorial, mostrando que o país está sem rumo. (...) Eu não sei onde está o apoio da ministra Marina Silva dentro do Brasil, eu sei onde ele está fora do Brasil: nas embaixadas dos EUA, da Noruega, da Inglaterra, da França, da Alemanha, da Dinamarca, da Sécia. Aí eu sei, porque aí eu vi de perto que há um apoio muito grande dessas ONGs, que têm uma porta giratória dentro do governo e dessas autarquias.

“Se você for examinar quem são os secretários, os responsáveis pelo Ibama, todos foram dirigentes de ONGs. Eles saem das ONGs, entram no Ibama. Esvaziam as funções de Estado dessas instituições, transferem essas atribuições para as ONGs. Você não viu agora um acordo que o Ministério das Populações Indígenas celebrou em Davos, na Suíça, com uma multinacional do ambientalismo, que vai cumprir o papel de gestora dos serviços dentro das terras indígenas que constituem mais de 1 milhão de km² no território brasileiro. O controle dessas autarquias já é exercido por interesses internacionais”.

Usando um chapéu modelo Panamá, igualzinho ao que o presidente Lula usou logo após a cirurgia a que, recentemente, se submeteu na cabeça, Aldo Rebelo respira fundo e adiante:

“Eu creio que o presidente Lula nem gostaria de ter nomeado a ministra Marina. Ele a nomeou porque é prisioneiro desses interesses internacionais, foi com esses interesses que ele foi eleito, é com esses interesses que ele está governando e ele não tem como se desvencilhar desses interesses, às vésperas da COP 30, a Conferência do Clima das Nações Unidas, agora já bastante esvaziada pela saída dos EUA, mas el queria fazer disso um grande momento do seu governo, e na verdade ele vai prorrogar a vida dessa agenda, desses personagens e dessas duas ministras, que dizem que a Amazônia é um paraíso, mas não vivem no paraíso, abandonaram o paraíso. Marina veio para São Paulo, instalou-se confortavelmente em São Paulo, elegeu-se deputada por São Paulo; a ministra das Populações Indígenas escolheu viver em São Paulo, ou seja, a tribo da Faria Lima, a tribo dos banqueiros, a tribo dos ongueiros, é assim que esse povo vive. A Marina diz ‘a Amazônia’ é um paraíso. E por que abandonou o paraíso?”.

Eis aí, em resumo, um pouco das causas do atraso do Brasil.

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