Polo de irrigação da Ibiapaba é ótimo. Mas de onde virá a água?

Única grande barragem da região, o Jaburu tem problemas estruturais. O governo dispõe da solução, o açude Lontras, que custará R$ 700 milhões, exigindo a participação do governo federal

Escrito por
Egídio Serpa egidio.serpa@svm.com.br
(Atualizado às 06:05)
Legenda: Maior barragem da Ibiapaba, o Jaburu, sozinho, não garantirá água para o recém criado Polo de Agricultura Irrigada. Solução: construção do açude Lontras.
Foto: Governo do Estado do Ceará

Uma boa notícia chegou ontem do ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR) cuja Secretaria Nacional de Segurança Hídrica reconheceu, por meio da Portaria 49, de 9 de janeiro em curso, o Polo de Agricultura Irrigada da Ibiapaba, que passa a ser integrante dos Polos de Agricultura Irrigada, “estando inserido nas ações para a implementação da Política Nacional de Irrigação”.

Ponto a favor da Federação da Agricultura e Pecuária do Ceará (Faec), cujo presidente Amílcar Silveira, juntamente com o secretário Executivo do Agronegócio da SDE, Sílvio Carlos Ribeiro, e do ex-secretário de Agricultura Irrigada, Carlos Matos, esteve empenhado nesse sentido junto à diretora de Irrigação do MIDR, Larissa Rego.

Entre os produtores rurais e a população da Ibiapaba, já se faz a óbvia e natural pergunta: de onde virá a água para tornar ainda mais férteis as terras ibiapabanas, cujo clima é um presente do Céu para quem trabalha e produz naquela linda e próspera região. Lá, em se plantando, tudo dá – inclusive soja, milho, mirtilo, abacate, tomate, rosas, pimentão e trigo. 

O único grande açude existente na Ibiapaba, o Jaburu, tem problema nas fundações, fincadas em rocha arenítica, que o reduziu sua capacidade de represamento de 240 milhões de metros cúbicos para 75 milhões de metros cúbicos. Sozinho, ele não suportará a demanda de atender à população das cidades da Ibiapaba e, ao mesmo tempo, garantir água para os projetos do seu recém-criado Polo de Agricultura Irrigada.

Mas a solução já existe, está projetada e aguarda o que uma fonte do governo do Ceará chama de “um espaço fiscal”, ou seja, uma chance de serem incluídos no Orçamento Geral da União os R$ 700 milhões estimados à construção do açude Lontras. Isto estava previsto para o exercício de 2024, mas a tragédia do Rio Grande do Sul desviou para a reconstrução da economia gaúcha todas as dotações para a Secretaria Nacional de Defesa Civil do MIDR.

O projeto executivo do Lontras está pronto, faltando alguns ajustes do ponto de vista da sustentabilidade ambiental e, ainda, da parte ligada à adutora que, com a ajuda de uma Estação Elevatória, bombeará a água para a Serra da Ibiapaba, e este importante detalhe técnico também custa caro e onerará o orçamento do projeto.

Diante do alto custo da obra, o governo do estado, por meio de sua Secretaria do Desenvolvimento Econômico (SDE), está sugerindo a construção de cinco pequenas barragens em cinco diferentes municípios ibiapabanos as quais garantiriam a água suficiente para a operação daquele futuro Polo de Irrigação.

A SDE e a Secretaria de Recursos Hídricos (SRH) estão considerando como muito viável essa possibilidade, que custaria “uma ninharia em comparação com o que seria aplicado na implantação do Lontras”, como disse um engenheiro especialista.

Esta coluna ouviu o secretário Executivo da SRH, engenheiro Ramón Rodrigues, que transmitiu duas informações:

1) Sua pasta tem feito, com êxito, investimentos para assegurar a melhor operação do açude Jaburu, injetando cimento e asfalto nas cavernas que se abriram e se abrem, ainda, nas fundações e no sangradouro de sua barragem por causa da formação geológica daquela área, mas isso não causa qualquer risco à sua segurança;

2) Nas sedes municipais e nos distritos da região da Ibiapaba devem viver hoje cerca de 800 mil habitantes, que estão sendo hoje bem atendidos com regular oferta de água, mas sua atividade econômica, que passará a contar com um Polo de Agricultura Irrigada, necessitará de um bom reforço hídrico – e o Lontras, de modo definitivo, e essas pequenas barragens, como paliativo sugerido pela SDE, surgem como a solução.

Ramon sugere que as lideranças empresariais do Ceará se juntem às da política para garantir os recursos orçamentários necessários à construção do Lontras, sem prejuízo de outras prioridades da área hídrica, como a duplicação dos sifões do Eixão das Águas, cujos serviços estão em andamento. Esse apoio deve ser buscado nas bancadas do Ceará na Câmara dos Deputados e no Senado Federal. Três anos atrás, não havia demanda para a construção do Lontras, mas essa demanda passa a existir agora com a criação do Polo de Agricultura Irrigada da Ibiapaba.

O Lontras barrará o rio Inhuçú, em Ipueiras, no sopé da Ibiapaba, e será construído com um misto de terra e enrocamento com núcleo argiloso, como esta coluna informou há mais de um ano.

Sua capacidade de represamento será de 347,1 milhões de metros cúbicos. A barragem terá extensão de 1.150 metros e, no coroamento, largura de 9 metros.

Sua altura máxima será de 57 metros (para efeito de comparação, a altura da barragem do Castanhão é de 60 metros). 

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