Na sexta-feira passada, numa decisão já aguardada pelo mercado, a diretoria executiva da Petrobras anunciou um aumento dos preços dos combustíveis nas refinarias. O preço da gasolina subiu 5,18%, passando de R$ 3,86 para R$ 4,06; e o do óleo diesel subiu 14,26%, saindo de R$ 4,91 para R$ 5,61.
Resultado: ontem, sábado, de madrugada os postos já estavam vendendo a gasolina a mais de R$ 8. Isto quer dizer que o governo não tem meios legais, por enquanto, de interferir na política de preços da Petrobras, que segue obedecendo à paridade com os preços internacionais.
Ora, desde que, há quatro meses, a Rússia invadiu a Ucrânia, os preços do petróleo dispararam no mundo inteiro. Antes de a guerra começar, um barril de petróleo custava US$ 101. Hoje, ele está sendo negociado a US$ 119, depois de ter chegado a US$ 121 por barril.
A Petrobras, que já trocou duas vezes de presidente e se prepara para trocá-lo pela terceira vez, mantém sua política de preços, que, em linguagem de arquibancada, é a seguinte: subiu o preço lá fora, sobe aqui também. E assim tem sido feito.
A maior estatal brasileira é uma empresa de capital aberto, com ações nas bolsas de São Paulo e Nova Iorque. Muito recentemente, a empresa quase foi à falência, atacada pela corrupção que, entre outras coisas, fez elevar sua dívida para US$ 160 bilhões. Essa dívida está hoje em US$ 60 bilhões, e com viés de baixa, exatamente porque a empresa vem mantendo sua política de preços, de que resultou o lucro de R$ 44,5 bilhões no primeiro trimestre deste ano.
Deve ser lembrado que o governo brasileiro é o controlador da Petrobras, e por isto mesmo foi e tem sido o acionista mais beneficiado pelo seu gigantesco lucro, o maior de sua história.
Mas o brasileiro não está mais suportando tantos aumentos da gasolina, do óleo diesel e do gás de cozinha, porque eles provocam imediatamente o aumento dos preços dos fretes rodoviário, ferroviário e marítimo, que, por sua vez, como um efeito dominó, causam o aumento do preço das mercadorias; melhor dizendo, de todas as mercadorias.
Tão logo a Petrobras anunciou, na sexta-feira, 17, o aumento da gasolina e do diesel, o presidente Bolsonaro, no que pareceu um ato falho, sugeriu a instalação de uma CPI para investigar os diretores e conselheiros da Petrobras. Neste momento da política brasileira, em um ano eleitoral, com a polarização dessa política entre esquerda e direita, tudo de que precisa a oposição é uma Comissão Parlamentar de Inquérito, que começa de um jeito e termina de outro, inesperado. No palco de uma CPI, a oposição sabe fazer o seu teatro.
O presidente da Câmara dos Deputados, Artur Lira, aliado do presidente Bolsonaro, foi mais prudente e sugeriu a imediata saída do atual presidente da Petrobras, José Mauro Ferreira.
E mais: convocou para amanhã, segunda-feira, 20, no seu gabinete, uma reunião dos líderes dos partidos, aos quais apresentará uma sugestão: a de cobrar em dobro da Petrobras a alíquota da Contribuição Sobre o Lucro Líquido, cujos recursos seriam utilizados para compensações financeiras à população mais castigada pelos recentes aumentos dos preços dos combustíveis.
Mas aí surgem os problemas, o primeiro dos quais é a repercussão disso no mercado. Na sexta-feira, as ações da Petrobras derreteram, caindo 6,09% para R$ 27,31 (há poucos dias, elas valiam R$ 36). Amanhã, a Bolsa B3 reabrirá e, se persistirem as informações de que o Governo patrocinará esse tipo de medida legislativa, as ações da Petrobras poderão seguir caindo, e isto será muito ruim para a empresa, para os seus acionistas e para a economia brasileiro como um todo. As ações da Petrobras sempre foram as mais negociadas na Bolsa.
Como a política está, como acima foi dito, polarizada do ponto de vista ideológico, ou seja, está dividida entre a esquerda de Lula e a direita de Bolsonaro, fica difícil encontrar um ponto de equilíbrio na análise dos fatos. As informações chegam enviesadas, ou seja, elas mostram claramente o interesse de quem as divulga.
O que pode ser dito é que esta semana, que hoje se inicia, promete muitas emoções.