Consequência da crise que castiga o setor da indústria siderúrgica brasileira, a suspensão das atividades da unidade fabril da Gerdau em Maracanaú, na Região Metropolitana de Fortaleza, terá repercussão em outros setores da cadeia produtiva – que se inicia, pelo menos aqui no Ceará, no trabalho do pobre catador de sucata e termina na expedição do produto acabado e na sua exportação para o mercado externo.
Como esta coluna revelou ontem, com exclusividade, a Gerdau decidiu paralisar sua usina de Maracanaú, onde trabalhavam cerca de 300 pessoas.
Durante um ano e meio – de acordo com a estimativa de fontes do Sindicato da Indústria Metalmecânica do Ceará (Simec) – a Gerdau executará serviços de readequação de sua usina maracanauense, que passará a fabricar tarugo 6 a 12 metros para a sua unidade de laminação, localizada na geografia de Caucaia, a mesma que pertencia à espanhola Hierros Añon, que a vendeu ao grupo brasileiro. Tarugo é a matéria prima de uma laminadora.
Mas já circulam informações de que a usina de Maracanaú não será mais reaberta, preferindo a Gerdau transferir para sua unidade de Caucaia toda a produção de tarugos.
Um profissional que presta consultoria técnica e econômica às indústrias cearenses do setor disse a esta coluna que a decisão da Gerdau de suspender, “temporariamente”, as atividades de sua unidade de Maracanaú tem tudo a ver, primeiro, com o mercado internacional, que precifica o aço no mundo; segundo, com a tributação do produto importado; terceiro, com a sustentabilidade das usinas siderúrgicas; quinto, com a reciclagem, e é aqui que surge o drama social.
“Quando o preço do aço cai, o da sucata também cai, e isto gera um desestímulo no catador, que perde a vontade de executar o seu trabalho. Ora, isso gera um problema, também, na vida das cidades, pois aumenta o número de desocupados e cresce a estatística da violência, e estamos falando de quem vive nos limites extremos da sociedade, fazendo biscates, sem qualquer proteção legal. O trabalho do catador de sucata, qualquer que ela seja, é importante porque remunera o estrato mais desprotegido do tecido social”, explica o consultor.
O mesmo consultor sugere que o Poder Público deve adotar alguma medida que minimize essa questão social. Na sua opinião as prefeituras das cidades da RMF – Fortaleza, Maracanaú, Caucaia, por exemplo – deveriam criar um tipo de incentivo fiscal ou financeiro para estimular os catadores de sucata a que desempenhem melhor o seu serviço.
“Nós todos os dias ouvimos promessas de prefeitos de que vamos fazer isso e aqui, e o tempo passa e nada acontece. Já ouvi de um prefeito a explicação de que só pode pensar em criar um incentivo para os catadores quando eles se reunirem em uma associação. O problema é que, aqui no Brasil, quando surge uma associação, começa a bagunça, e tudo vira política”, comentou o consultor.
Outro consultor ouvido pela coluna manifestou opinião diferente a respeito dos catadores de lixo, que poderiam ter problema com a hibernação da usina siderúrgica da Gerdau em Maracanaú. Ele disse que os catadores continuam e continuarão fazendo o seu trabalho sem qualquer interrupção, pois a sucata é uma matéria prima utilizada por outras empresas do ramo siderúrgico.
E citou o exemplo da Sinobras, uma unidade industrial de siderurgia pertencente ao Grupo Aço Cearense, localizada na cidade de Marabá, no Sudeste do estado do Pará.
“Posso dizer que a Sinobras vai sair ganhando com a suspensão temporária da Gerdau de Maracanaú, porque ela passará a adquirir, quase com exclusividade, a sucata oferecida pelos catadores cearenses. A Sinobras, por sua vez, poderá, com o crescimento da oferta de sucata, aumentar sua produção de aços longos para a construção civil do Ceará e de todo o Nordeste,” como disse o mesmo consultor.
Os dois consultores convergiram para a opinião de que o mercado brasileiro do aço enfrenta uma crise, que poderá agravar-se no caso de o governo não adotar providências mais duras em relação ao produto importado, que está chegando ao mercado interno brasileiro a um preço menor do que o custo de sua produção no Brasil. É mais um setor da economia nacional que sofre com os produtos importados.
A culpa dessas dificuldades, de acordo com os industriais do aço, é o cipoal tributário e trabalhista que encarece a produção da indústria brasileira. É uma queixa antiga.
A assessoria da Gerdau, nesta quarta-feira, 29, informou: 1) A planta industrial da usina da Gerdau em Maracanaú será readequada para a produção de tarugos que serão laminados pela sua unidade de Caucaia; 2) os funcionários da unidade de Maracanaú serão realocados na unidade de Caucaia; os que não forem aproveitados, serão qualificados para aproveitamento futuro; 3) a unidade de Maracanaú será a principal praça da Gerdau no Norte e Nordeste.
A conferir pelos próximos um ano e meio.
Na coluna do jornalista Victor Ximenes, no portal do Diário do Nordeste, há novas informações sobre os planos da Gerdau para o Ceará. E são notícias muito positivas.
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