Os bombeiros, engenheiros e eletricistas da nova medicina cearense
Um time de jovens e competentes cirurgiões, principalmente na área vascular, especializados no Brasil e no exterior, fazem uma maravilhosa revolução nos hospitais do Ceará

No belo e apaixonante universo dos profissionais da saúde, há nomenclaturas e códigos próprios para identificar cada um no seu quadrado. Por exemplo: o cirurgião que executa a revascularização miocárdica – que na linguagem de arquibancada significa instalar, no coração, pontes construídas com veia safena ou com artéria mamária – é chamado de “engenheiro”; o que trata dos sintomas de palpitação, irregularidade dos batimentos cardíacos, coração acelerado e outros prenúncios que podem resultar na implantação de um marca-passo é o “eletricista”, cujo nome técnico é arritmologista.
Este colunista já havia tido três excelentes experiências com esses profissionais, o primeiro dos quais foi o Dr. Valdemiro Carvalho, um craque da “engenharia” médica, que, em 2007, usou uma safena e duas mamárias para instalar três pontes que me livraram de um enfarte, graças à prevenção e à providência do meu clínico, Dr. João David de Souza Neto, que, antevendo essa possibilidade, me mandou para o cateterismo, do qual saiu a indicação de imediata cirurgia, feita com sucesso no dia 9 de dezembro daquele ano, no Hospital São Mateus, ainda sob o comando do Dr. Cláudio Rocha e de sua mulher, D. Lenise Queiroz Rocha.
Em setembro do recente 2024, conheci outro “engenheiro” – Dr. Augusto Celso Lopes, da novíssima e competente geração da cardiologia cearense, também indicado pelo Dr. João David, que há vários anos é coordenador de Transplantes do Hospital de Messejana Dr. Alberto Studart. O Dr. Celso mandou-me para o seu colega radiologista Dr. Assis Carvalho, que, usando moderno aparelho de imagens, detectou uma estenose aórtica e, de quebra, uma obstrução importante numa das minhas três pontes coronarianas, confirmadas por uma tomografia com contraste feita na mesma Oto Clínica por outro jovem craque, o Dr. Ricardo Rocha.
Menos de uma semana depois, às custas do plano de saúde Multiplan celebrado pelo Grupo Edson Queiroz com a Unimed Fortaleza, o Dr. Celso Lopes colocou-me um Stent, desobstruindo a ponte calcificada, que passou a ter fluxo sanguíneo normal. Um mês depois, o mesmo Dr. Celso – que não só é, mas também parece ser um grande “engenheiro” – realizou, no mesmo Hospital da Unimed Fortaleza, o implante transcateter de Válvula Aórtica (TAVI, do inglês Transcatheter Aortic Valve Implantion), procedimento minimamente invasivo para a correção da válvula afetada pela estenose aórtica. Tudo com 100% de perfeição.
Ao final do procedimento, um eletrocardiograma apontou uma anormalidade: os batimentos cardíacos do “ramo esquerdo” do meu coração apresentaram disfunções. Foi, então, chamado o “eletricista” do time, Dr. Lucas Moura, um arritmologista de primeira, que, num procedimento minimamente invasivo, mas usando um cateter, mediu a intensidade da “rede elétrica” dos ramos direito e esquerdo, concluindo que não era necessário o uso de marca-passo, pois o ramo direito, cujo “gerador” opera a pleno, era, como tem sido, capaz de suprir as poucas necessidades do ramo esquerdo.
De volta ao Dr. Celso Lopes para a celebração dessa boa notícia, transmiti-lhe a informação de que não estava conseguindo caminhar além de um quarteirão: doíam-me as panturrilhas e surgia um imenso cansaço que me obrigava a paralisar a caminhada. Sintoma de que o fluxo sanguíneo nas artérias das pernas estava obstruído.
O Dr. Celso Lopes encaminhou-me, então, para o “bombeiro” da equipe, o Dr. Victor Cordeiro Zarate Júnior, um jovem de 42 anos, com cara de menino, conceituadíssimo cirurgião vascular, especialista – com cursos no exterior – no diagnóstico e tratamento dos problemas envolvendo os vasos sanguíneos das pernas, braços, tronco e pescoço – ou seja, o encarregado das “tubulações” do corpo humano.
Minucioso e demorado exame de imagens executado pelo Dr. Zarate identificou “doença arterial periférica por estenose suboclusiva em artéria femoral comum esquerda associada à fístula arteriovenosa traumática (entre a artéria femoral superficial esquerda e a veia femoral comum esquerda) e avaliação de estonese em artéria ilíaca comum esquerda e doença aterosclerótica em artéria ilíaca comum esquerda)”.
Com essa conclusão, descrita de modo tão detalhado, os Drs. Celso Lopes e Victor Zarate decidiram pela realização de uma cirurgia, realizada na noite do último dia 18 de fevereiro no Hospital da Unimed Fortaleza.
Em menos de três horas, o Dr. Victor Zarate fez uma endaterectomia de artéria femoral comum, superficial e profunda, associada à profundoplastia e tratamento da fístula artério-venosa em membro inferior esquerdo (Mie).
(De acordo com o Google, endaterectomia é um procedimento cirúrgico no qual é removido o material oclusivo do interior da artéria carótida, enquanto fístula arteriovenosa é quando uma artéria e uma veia se conectam diretamente, permitindo que o sangue flua incorretamente).
No mesmo procedimento, por meio de uma angiografia, foi identificada estenose de artéria ilíaca comum esquerda, contudo sem necessidade de intervenção endovascular (Stent). Concluída a cirurgia e transferido para a UTI do Hospital da Unimed, a enfermeira-chefe, reconhecendo-me, surpreendeu-se:
“O senhor aqui, de novo?”, ela comentou.
“Esta é a quarta vez em seis meses”, respondi.
Em menos de 24 horas, troquei a UTI por um leito da enfermaria do hospital, do qual, de alta, sai no meio da tarde de volta para o insubstituível recesso do lar. Ontem, 16 dias e muita fisioterapia depois da cirurgia, retomei minhas atividades profissionais, com a mesma disposição de um “foca”.
Estas informações são aqui publicadas para orientar pessoas que enfrentam problemas semelhantes. Nos últimos anos, a medicina evoluiu extraordinariamente, da mesma forma que evoluiu, também, o aparato hospitalar privado e público, o qual dispõe, hoje, em Fortaleza – com poucas exceções – do que há de melhor em máquinas e equipamentos de ponta tecnológica para as mais complexas cirurgias.
Melhor ainda: tão sofisticados equipamentos têm a manuseá-los aqui alguns dos melhores profissionais da saúde do país, que para isso especializaram-se em São Paulo e no exterior, tornando-se ases nos diferentes ramos da medicina moderna.
Em 1978, meu pai, José Oriá Serpa, sofreu, aos 57 anos, um infarto. Naquela época, o cateterismo era uma técnica que, mesmo recente, identificou problemas graves que desaconselharam, pelo alto risco, um procedimento cirúrgico de implante de veias safena e mamárias. Ele sobreviveu por 10 anos, morrendo de infarto aos 67 anos.
Eu caminho para os 82 com o entusiasmo de um jovem repórter de 20 anos, tudo isto graças a Deus, à moderna medicina, aos bons hospitais, ao plano de saúde e aos profissionais acima citados.
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