ONU, FMI, OCDE preveem: agro brasileiro alimentará o mundo

Ex-ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, disse na Pecnordeste que o o Brasil é o único país com tecnologia para garantir o abastecimento mundial

Escrito por
Egídio Serpa egidio.serpa@svm.com.br
(Atualizado às 07:16)
Legenda: Roberto Rodrigues pediu na Pecnordeste a união dos agropecuaristas em associações e cooperativas fortes
Foto: Egídio Serpa

Estamos vivendo a era da desordem, pois ninguém hoje sabe o que é e para que serve a Organização das Nações Unidas (ONU), nem a OMC (Organização Mundial do Comércio). Ninguém sabe, também, quem é o presidente da FAO (Fundo das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura). Mas os economistas, estudiosos e pesquisadores do Fundo Monetário Internacional (FMI) e da própria ONU já disseram que o único país com agricultura e pecuária de ponta capazes de garantir o abastecimento do mundo com grãos, carnes e fibras é o Brasil. Recentemente, um relatório da OCDE revelou que, em 2050, a população mundial necessitará de 20% a mais em alimentos, e é o Brasil a única nação cuja área agrícola pode expandir-se para aumentar em 40% a sua própria produção.

Eis o resumo da mais importante palestra pronunciada nos três dias da Pecnordeste – a maior feira indoor da agropecuária brasileira – encerrada sábado no Centro de Eventos do Ceará. Quem a pronunciou na sexta-feira, 6, à tarde, foi o ex-ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, um engenheiro agrônomo e agricultor, que, aos 85 anos, mesmo com lancinantes dores na coluna, segue dedicando todo o seu tempo ao setor primário da economia nacional. Falando em pé “porque este ambiente o exige”, ele começou dizendo:

“Sou movido pelos desafios. Por isto, estou aqui, maravilhado com a grandiosidade desta feira da agropecuária cearense e nordestina, que hoje é referência regional e nacional, e isto se deve ao trabalho de vocês todos, sob a liderança de Amílcar Silveira, a quem parabenizo”, disse Roberto Rodrigues para um auditório de 400 grandes, médios e pequenos produtores rurais do Ceará, do Rio Grande do Norte, da Paraíba, de Pernambuco e do Piauí que o ouviram em silêncio, entrecortando sua fala com calorosos aplausos.

O ex-ministro lembrou que, muitos anos atrás, “sempre ouvia a conversa de que a agricultura brasileira valia nada”, e contou que, em 1980, o Brasil importava 80% dos alimentos que consumia. Isto mudou, mas essa mudança só aconteceu porque a Embrapa, centro de excelência do serviço público brasileiro, e seus pesquisadores descobriram as até então desconhecidas virtudes da região do Cerrado, de cujo solo – cientificamente bem tratado – brotou a mais moderna e competitiva agricultura mundial, transformando o país no maior produtor e exportador de grãos, carnes e fibras.

Rodrigues disse que fica irritado quando lê e ouve meia dúzia de maus brasileiros que criticam e até desejam o insucesso “do nosso agro”. E afirmou que o Brasil é o único país do mundo com agricultura tropical tecnologicamente desenvolvida e produzindo hoje alimentos para o seu próprio consumo e o de mais de 100 países de vários continentes.

Ele anunciou que, em 2050, segundo os estudos da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económicos), o agro brasileiro estará produzindo o dobro do que nessa época produzirá a agricultura da Europa, da Ásia e da Oceania.

“Tudo porque temos o domínio da mais moderna tecnologia agrícola do planeta”, acrescentou, emendando em seguida com força na voz:

“Nós, os brasileiros, estamos no paraíso, mas precisamos de uma estratégia para o desenvolvimento do nosso agro. Qual é a estratégia (que o governo tem) para o agro? Zero! Qual é a estratégia para a saúde? Zero! Qual é a estratégia para a educação? Zero! O Brasil tem hoje um papel de protagonista que nunca teve antes, mas lhe falta, por exemplo, uma estratégia de logística.”

Ele pediu licença ao auditório, disse que as dores na bacia estavam aumentando, e sentou-se para continuar falando.

O ex-ministro Roberto Rodrigues lembrou que o Brasil destina hoje para a China 34% de suas exportações. Estamos muito dependentes das importações chinesas, cujo governo tem estratégia”.

Diante destes argumentos, ele sugeriu que – “como nenhum de nós é nada sozinho” – os produtores rurais nos unamos em associações, em cooperativas fortes, pois ainda nos falta organização, mas isto é algo cultural, pois cada um se organiza segundo suas características”.

Rodrigues disse:

“O mundo precisa de paz sem fome, e o Brasil é o único país do mundo capaz de garantir o alimento para matar essa fome. Faço aqui um pedido sagrado, como sagrada é a relação de Deus com a agricultura brasileira: unamo-nos o quanto antes.”

Na sua opinião, o urbano (a indústria, o setor financeiro) e o rural (a agropecuária) devem caminhar juntos. E sentenciou, pndo-se de pé, outra vez:

“Vamos segurar a Taça de Campeão Mundial da Segurança Alimentar. Essa taça é nossa”.

Ele assegurou que o Brasil está bem na foto da transição energética, pois tem energias renováveis de sobra, mas precisa de dar atenção às mudanças climáticas e à desigualdade social, que são preocupações do mundo de hoje.

Roberto Rodrigues foi demoradamente aplaudido pelo auditório, que ficou de pé para homenageá-lo.

Veja também