O Mundo mudou! O Brasil tem chance de ser protagonista
Maia Júnior, ex-secretário de Infraestrutura e do Desenvolvimento Econômico do Ceará, vê a China como bom parceiro para projetos da transição energética

Ex-vice-governador, ex-secretário da Infraestrutura e do Desenvolvimento Econômico do Ceará, o engenheiro Maia Júnior é – além de um quadro técnico da maior importância para a gestão pública estadual – um profissional dedicado hoje à análise de propostas e de execução de políticas públicas voltadas para as diferentes áreas da economia, incluindo as mais atuais como a da geração das energias renováveis e da produção de hidrogênio verde (H2V).
Neste particular – juntamente com o presidente da Fiec, Ricardo Cavalcante, e com o então reitor da UFC, Cândido Albuquerque – ele foi protagonista, na gestão do governador Camilo Santana, da feliz ideia de projetar a instalação de um Hub de H2V no Complexo Industrial e Portuário do Pecém.
Nos tempos atuais, fora do serviço público – o governo cearense optou pela presença de políticos e não de técnicos no comando da área econômica estadual – Maia Júnior dedica-se a acompanhar os atos e fatos da economia global, com foco, naturalmente, na geografia do Brasil e, por óbvio, na do Ceará.
Neste momento, ele observa com muito interesse o turbilhão de eventos que – tendo como epicentro os governo dos Estados Unidos e da China – movem peões, torres, bispos, Rainhas e Reis no complicado e sofisticado tabuleiro do xadrez da nova geopolítica. E tudo tem a ver com a exploração do petróleo poluente e emissor de gases de efeito estufa e com a geração das energias renováveis e limpas, que garantirão o êxito da transição energética.
Há meio século, era a meia dúzia de países árabes que dominava a exploração do petróleo, como lembrou ontem David Zylberstain – professor do Instituto de Energia da PUC Rio, em artigo publicado no O Globo. Liderados pela Arábia Saudita, eles produziam 70% do petróleo mundial. Hoje, os árabes produzem apenas 30%, porque outros países como os Estados Unidos, a Venezuela, a Rússia e o Brasil, entre outros, descobriam petróleo sob seu chão.
Só um detalhe: a produção brasileira de petróleo dobrará quando começarem a ser perfurados e explorados os poços da chamada Margem Equatorial, área de águas profundas que se estende desde o litoral do Rio Grande do Norte até o Amapá.
Mas o que Zylberstain está vendo agora, com o aplauso e o entusiasmo de Maia Júnior, é algo mais importante ainda, para além do petróleo, que são os metais estratégicos como o nióbio, do qual o Brasil é o maior produtor mundial. Baterias de carros elétricos, turbinas eólicas, painéis solares e até o hidrogênio verde utilizam esses metais estratégicos na sua produção.
“O Brasil está bem nessa foto, que precisa de ser ampliada, e para isto é necessário que Brasília acorde para esta realidade, que é nova, e a encare com a pressa e a competência que o caso exige”, diz, com certa angústia, o engenheiro Maia Júnior, na opinião de quem, sob Donald Trump, os EUA parecem dispostos a investir mais na exploração do petróleo – onde ele estiver – e não nas energias renováveis, o que é lamentável, sob todos os pontos de vista, destacadamente o ambiental.
Maia Júnior considera que o Brasil – diante de impasses políticos com a nova administração do governo norte-americano – deve estreitar seus laços estratégicos com a China, que vem fazendo pesados investimentos não só na geração de energias renováveis – eólica e solar – mas na fabricação dos seus equipamentos.
Hoje, os chineses respondem por quase 100% dos painéis solares produzidos no planeta. Os chineses – ele observa – são parceiros ideais para as exigências da nova economia inserida na mutante geopolítica.
Na cabeça ex-secretário do Desenvolvimento Econômico do governo do Ceará, desenha-se um futuro próximo no qual o Brasil tem e terá papel importante, a depender da decisão do seu governo de estabelecer uma política voltada para encarar o novo desafio.
Grande produtor de petróleo, dono de um solo cheio desses minerais estratégicos, o Brasil tem de acelerar a decisão de tornar-se protagonista do novo jogo da política mundial. Para isto, dispõe de uma diplomacia bem equipada de inteligência e experiência na negociação, de uma elite empresarial adestrada no comércio exterior e nas relações internacionais, de uma academia antenada com as melhores do mundo, além de um estamento tecnológico capaz de responder pelos mais complicados desafios do mundo digital.
“O cavalo do novo mundo está passando, selado, à nossa frente. Montá-lo é uma decisão de governo que não pode ser retardada”, conclui Maia Júnior.