Uma classe média rural está nascendo na geografia do município de Morada Nova. Aqui está a prova:
Na mesma área onde até muito recentemente operou um grande projeto de irrigação federal – que foi à garra por claros erros de origem no planejamento, um dos quais o do cultivo de arroz, que consome água em abundância – prospera hoje uma nova cultura.
Onde havia irrigantes sem esperança, há agora centenas de felizes famílias dedicadas à sua novíssima atividade – a da carcinicultura. Fez-se do limão uma boa limonada.
Na semana passada, o secretário de Recursos Hídricos do governo do Ceará, Robério Monteiro, e o superintendente de Gestão de Recursos Hídricos (Cogerh), Yuri Castro, acompanhados do empresário Cristiano Maia, presidente da Camarão BR, entidade que reúne os maiores carcinicultores do país, e do presidente da Federação da Agricultura (Faec), Amílcar Silveira, visitaram a área, conversaram com os carcinicultores, viram seus tanques de criação e não esconderam a alegria com o que testemunharam seus olhos.
“Vimos homens e mulheres sorrindo, produzindo e vendendo camarão, obtendo uma renda que é mais de três vezes maior do que a que obtinham na rizicultura”, disse Cristiano Maia, que está pessoalmente empenhado na superação de alguns gargalos que dificultam a vida dos criadores de camarão de Morada Nova e de todo o Vale do Jaguaribe.
Um desses gargalos é antigo: a falta de licenciamento ambiental, que é emitido pela Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace). Por este motivo, 95% dos carcinicultores daquela região, embora seguindo as boas práticas da aquicultura, operam de forma ilegal, ou seja, sem licença, “e isto é ruim para eles”, assevera Cristiano Maia.
Ontem, 22 agropecuaristas reunidos com o presidente da Faec e com o presidente da Camarão BR apropriaram-se, também, da alegria da boa notícia de que a carcinicultira criou e está expandindo uma classe média rural em Morada Nova “e no interior de outros municípios jaguaribanos”, segundo revelou Amílcar Silveira.
Em Morada Nova, a carcinicultura avança em ritmo de frevo e agora vê-se com facilidade a nova paisagem de sua zona rural: no lugar dos antigos alagados campos de arroz, que consumiam muita água e produziam muito pouco arroz, há espelhos d’água que produzem camarão, muito camarão, cuja produção é vendida, toda ela, sem dificuldade para restaurantes, bares e hotéis da região do Jaguaribe.
O secretário Robério Monteiro não escondeu seu entusiasmo, e concordou com a opinião de Cristiano Maia e Amílcar Silveira, segundo a qual é a carcinicultura uma nova realidade que se abre para a economia cearense e para sua população rural. Vale lembrar que o Ceará é o maior produtor brasileiro de camarão.
O secretário juntou-se aos presidentes da Faec e da Camarão BR no esforço de que possam ser reduzidas ao mínimo as exigências da burocracia estatal, facilitando a emissão da outorga de água e abreviando as providências para o licenciamento ambiental das áreas hoje se desenvolve a carcinicultura.
“Todo o objetivo da Federação da Agricultura é focado no projeto de criação de uma classe média rural no Ceará. Em algumas regiões do estado, isto já é uma realidade, e quem duvidar deve visitar a Chapada da Ibiapaba, onde a fruticultura e a horticultura, graças à tecnologia da cultura protegida, estão mudando a vida das famílias da zona rural. Se não quiser ir à Ibiapaba, vá à chapada do Apodi, onde, além da fruticultura empresarial, crescem a pecuária e a cotonicultura tecnificada”, afirma, cheio de orgulho, Amílcar Silveira, presidente da Faec.
Antes de conhecerem o milagre da carcinicultura em Morada Nova, o secretário Robério Monteiro e o presidente da Cogerh, Yuri Castro, visitaram a fazenda da Tropical Nordeste Agrícola Ltda, empresa liderada por Edson Brok, que produz e exporta banana “Cavendish” (nanica) para os países da Europa; visitaram, também, a área de 2.500 hectares na qual, há mais de dois anos, o agroindustrial Raimundo Delfino produz e colhe, mecanicamente, algodão de alta qualidade com tecnologia da Embrapa.