Na mesma reunião em que aprovou, ontem, o pedido de licenciamento ambiental para o projeto de construção de uma refinaria de petróleo na ZPE-Ceará, o Conselho Estadual do Meio Ambiente (Coema) aprovou, também, licença semelhante para a instalação da unidade industrial da Australiana Fortescue, que produzirá Hidrogênio Verde na mesma área geográfica – o Complexo Industrial e Portuário do Pecém.
A unidade de refino, que será implantada pela empresa Noxis Energy, produzirá bunker, um combustível marítimo usado pelos navios e iates, e ainda gasolina e óleo diesel.
Sua capacidade de refino será de 100 mil barris por dia, ou seja, 100 mil barris diários do que os ambientalistas chamam de “combustíveis sujos”, porque, tendo origem fóssil, é altamente poluente.
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O projeto da Fortescue, por sua vez, produzirá o Hidrogênio Verde, assim chamado porque a unidade industrial que o produzirá será movida por energias renováveis – inicialmente a solar fotovoltaica e a eólica onshore (em terra firme) e, posteriormente, daqui a 10 anos ou menos, a energia eólica offshore, gerada dentro do mar.
O evento de ontem no Coema foi, explicitamente, contraditório, pois abrangeu os dois lados da guerra ambiental em que todo o mundo está envolvido: o das energias limpas e renováveis com as quais os governos responsáveis contam para promover, no curto prazo, a descarbonização do planeta, e o das energias sujas e finitas, como a produzida pelo petróleo e pelo carvão, as quais ainda serão usadas por, pelo menos, mais três décadas.
Devemos entender que, menos nestes tempos de aquecimento global, o Ceará não pode renunciar a uma refinaria de petróleo que, além de dar emprego qualificado a muitos cearenses, poderá ser o embrião de um empreendimento maior, ou seja, capaz de produzir três vezes mais do que produzirá a partir do fim de 2026, quando está previsto o início de sua operação.
A refinaria, que produzirá combustível para navios, além de gasolina e óleo diesel, é um empreendimento privado, razão pela qual crescem as apostas de que os sócios da Noxis Energy a ampliarão à medida em que for crescendo a demanda por seus produtos.
Da mesma maneira, o Porto do Pecém, ao lado do qual estará a refinaria, também será ampliado, se necessário for, para atender às necessidades dessa indústria petroleira.
Por sua vez, a unidade industrial da Fortescue, que será instalada na mesma área do Pecém para produzir Hidrogênio Verde, está 100% adequada aos novos tempos, isto é, aos objetivos de fabricar, por eletrólise, o já chamado combustível do Século XXI – o Hidrogênio Verde. No seu projeto cearense, a Fortescue investirá uma montanha de dinheiro do tamanho de R$ 20 bilhões.
A Superintendência Estadual do Meio Ambiente do Ceará (Semace) ainda mantém sob análise o projeto da Casa dos Ventos, maior empresa brasileira desenvolvedora de projetos de geração de energias renováveis e agora voltada, também, para a produção do Hidrogênio Verde no Complexo do Pecém.
Assim como a Fortescue, a Casa dos Ventos – comandada por Mário Araripe, pai e filho – já reservou área na geografia da ZPE-Ceará, onde construirá sua indústria de Hidrogênio Verde, para o que se consorciou com a Comerc Eficiência.
Essa indústria terá capacidade de produzir 2,4 GW de eletrólise para a produção de mais de 1 mil toneladas de Hidrogênio Verde por dia e de 2,2 milhões de toneladas de Amônia Verde por ano.
O projeto do consórcio Casa dos Ventos-Comerc Eficiência, quando estiver em plena operação, evitará a emissão de até 430 mil toneladas de CO2 por mês — o Hidrogênio Cinza emite 2,4 kg de CO2 para cada quilo de amônia produzida. Há uma gritante diferença a favor do H2V.
Fontes do governo cearense admitem que a aprovação do licenciamento ambiental para o projeto da Fortescue “é o início de um processo que abrangerá outros projetos semelhantes”, como o da Casa dos Ventos, que tramitam na Semace.
Afinal, o Governo do Ceará celebrou 30 Memorandos de Entendimento com igual número de empresas nacionais e estrangeiras que demonstraram interesse em investir na produção de Hidrogênio Verde no Complexo do Pecém. A perspectiva é de que, nos próximos meses, o Coema aprovará mais projetos de H2V.