Lula está sozinho na raia da eleição de 2026. Até quando?
A oposição, dividida, ainda debate sobre se o melhor será um “bolsonarista raiz” ou Tarcísio de Freitas, que seria o candidato do “sistema”
Quando janeiro chegar, e ele está vindo na velocidade do raio, trará consigo a boa notícia para mais ou menos 15 milhões de brasileiros que ganham até R$ 5 mil por mês: seu salário mensal, a partir do primeiro minuto do Ano Novo, passará a ser pago – no dia 30 – sem desconto do Imposto de Renda. Na prática, essa multidão será beneficiada com um aumento salarial, pois o líquido a receber virá maior como consequência do fim do desconto do IR.
Foi promessa de campanha do presidente Lula, cumprida agora, dois anos depois do pleito que o elegeu. O cumprimento da promessa não demorou por culpa disto ou daquilo, mas se deu para coincidir com o ano eleitoral de 2026. Esse benefício será um dos protagonistas da campanha de reeleição, e já foi incorporado ao discurso do candidato.
Trabalhar seis dias da semana com um de folga, a chamada jornada 6x1, parece estar perto do fim. É um sonho antigo das centrais sindicais apropriado pelo presidente Lula e agora tramitando com rapidez no Parlamento. A ideia é permitir o trabalho por cinco dias seguidos, com dois dias de descanso. A proposta atende a todos os gostos ideológicos, e parlamentares no Senado Federal e na Câmara dos Deputados, incluindo boa parte dos oposicionistas, já anunciaram que votarão a favor. É outra boa notícia a tonificar a posição de Lula junto ao eleitorado.
Estas são apenas duas iniciativas adotadas pelo governo Lula. Como o Bolsa Família, o Fies, o Vale Gás, elas têm forte apelo popular e, por isto mesmo, ganharam apoiadores até na oposição e ampla divulgação da mídia.
O presidente já iniciou sua campanha pela reeleição sem que, até agora, tenha enfrentado o menor obstáculo do Tribunal Superior Eleitoral, cujos ministros, de uns tempos para cá, estão preocupados muito mais com o que se passa nas esferas estaduais.
Como a oposição segue divergindo internamente, procurando uma luz que a leve a enxergar uma boa e viável alternativa ao nome do ex-presidente Jair Bolsonaro, que está preso e proibido de quase tudo, as pesquisas eleitorais seguem revelando o óbvio: Lula é, de acordo com o retrato de hoje, o candidato favorito e a liderar todos os levantamentos de todos os institutos especializados.
O recente lançamento de Flávio Bolsonaro, anunciado de forma surpreendente, tem sido tratado como parte de uma estratégia para testar as ruas.
Há, porém, quem pense o contrário sob o seguinte argumento: Flávio é do tipo “bolsonarista raiz”, comprometido com todos os valores conservadores do pai. Isto significa dizer que a plataforma dele terá, por exemplo, discurso a favor da família e da propriedade privada; contra a ideologia de gênero; a favor do livre mercado e do combate severo ao crime organizado esteja onde ele estiver, nos corredores de Brasília ou nos escritórios da Faria Lima; a favor de uma profunda revisão dos programas sociais do atual governo e das renúncias fiscais; a favor de uma dura reforma fiscal, que envolverá a redução do tamanho do estado.
Mas ele enfrenta um problema: os partidos do Centrão ainda o veem como um pré-candidato sem carisma e sem apelo para atrair o eleitorado de centro, de direita, de extrema direita e até dos que seguem indecisos entre os dois polos do espectro político brasileiro.
Para o mercado – essa presença invisível, mas presente em todas as áreas da política e da economia nacionais – o candidato ideal para enfrentar e vencer Lula é o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas. Este, porém, pelo olhar bolsonarista, “faz parte do sistema”, ou seja, tem vínculos com o emaranhado de interesses corporativos que dominam e misturam as relações do público com o privado no Brasil.
Tudo tem de ser resolvido pela política, pois é ela o canal pelo qual, nas democracias, se desenvolvem os arranjos institucionais que se celebram ou deixam de ser celebrados. Enquanto na esquerda persiste sua única e muito forte opção eleitoral, que é o presidente Lula, no campo do centro e da direita o que se vê é uma disputa de vaidades que pode prejudicar o seu objetivo comum – tirar do poder, pelo voto popular, o PT e seus aliados.
Por enquanto, a raia eleitoral de 2026 tem apenas um candidato. Ela, todavia, ganhará pelo menos mais um ou dois candidatos com chances de vitória. Quais? Quando? Deixemos o tempo correr.
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