Leite no Ceará, o milagre com VBP de R$ 2,6 bilhões
Raimundo Reis, mais requisitado consultor em pecuária, desenhou no "Cresce Ceará" o cenário da produção leiteira cearense, que cresceu e segue crescendo com investimentos na tecnologia biogenética
Produzir leite bovino no Ceará é uma atividade sem glamour, que não chama muito atenção, requer muito trabalho, enfrenta grandes e graves desafios e exige a superação de enormes dificuldades, mas, em compensação, tem hoje um Valor Bruto de Produção (VBP) de fazer inveja: R$ 2,6 bilhões. Um milagre no semiárido cearense.
Com estas informações, ditas com outras palavras, Raimundo Reis, o mais requisitado consultor em agropecuária do estado, traçou um panorama da pecuária leiteira do Ceará, que saiu do nada, há 30 anos, para a posição de destaque que ocupa hoje na região nordestina. Está aqui – no município de Morada Nova – a maior e mais moderna indústria de lacticínios do Nordeste, a Alvoar (antiga Betânia).
Raimundo Reis foi o terceiro expositor do Painel do Agro do “Cresce Nordeste”, evento promovido pelo Sistema Verdes Mares com o apoio do BNB e da Enel Ceará Distribuição, realizado na recente sexta-feira, 6, no Hotel Gran Marquise. Ele chegou a surpreender o auditório cheio de empresários da indústria e da agropecuária, de autoridades do governo estadual e de pesquisadores da academia cearense ao revelar o seguinte:
“Nos últimos anos, a produção de leite no Sul e Sudeste do país cresceu 210%; no Nordeste, essa produção alcançou crescimento de 254%. E a produção nordestina de leite saltou no mesmo período de 11,2% para 17,8%. E a do Ceará cresceu mais: de 13% para 18%. Fruto do esforço, da competência e do investimento feito pelos pecuaristas em tecnologia e inovação, incluindo a melhoria biogenética dos rebanhos”.
Reis informou que, de 2011 a 2018, anos de baixa pluviometria, a produção cearense de leite aumentou, e isto foi resultado de boas práticas pecuárias, entre as quais o correto manejo do rebanho, o uso de volumosos ensilados e, novamente, a melhoria da qualidade genética do rebanho, o que teve reflexo direto no crescimento da produtividade, que, porém, ainda é raquítica.
Na opinião do consultor Raimundo Reis, o uso da irrigação foi outro fator que contribuiu para o aumento da produção leiteira, uma vez que ela fez crescer o cultivo de capim, milho, soja, sorgo e palma forrageira, que, devidamente estocados em silos de superfície, garantiram naquele período e garantem hoje o bom e nutritivo alimento dos rebanhos.
Mas Raimundo Reis também se referiu à indústria de lacticínios, que é o lado beneficiador da produção leiteira.
Ele disse que a gigantesca unidade da Alvoar, instalada e em operação nas cercanias da cidade de Morada Nova, onde começa o Sertão Central do Ceará, capta diariamente 600 mil litros de leite, dos quais produz diferentes produtos lácteos comercializados nas grandes, médias e pequenas redes de supermercados deste e de outros estados do Nordeste.
Reis falou com entusiasmo das pequenas indústrias de lacticínios, as quais, nos últimos 15 anos, tiveram o que considerou “um extraordinário crescimento quantitativo e qualitativo”, citando como exemplos “as excelentes queijarias que se espalham, principalmente, pelo Sertão Central do Ceará”.
Ele lembrou que é necessário que se unam os produtores de leite, os industriais e o governo no sentido de que seja ampliado, nas fazendas, o número de tanques de resfriamento, providência essencial e indispensável para a manutenção e, principalmente, para o incremento da produção.
“Se isto for feito, a produção leiteira duplicará”, ele disse.
Raimundo Reis disse ainda que o melhor programa social possível de executar no campo é o do investimento privado, pois são as empresas que, na zona rural, criam e mantêm os empregos formais, com carteira assinada. E acrescentou outra informação: 80% do leite produzido no Ceará o são nos municípios do Sertão Central, entre os quais Mombaça, cujo prefeito Orlando Filho, presente no “Cresce Ceará”, foi por ele citado como um dos que estão dinamizando a pecuária da região com medidas simples, mas eficientes de ajuda ao pecuarista da região.
No final de sua exposição, Raimundo Reis disse que é necessário aumentar a produtividade do rebanho leiteiro cearense, que está aquém do que pode alcançar, e para isto, lembrou ele, o caminho é o da tecnologia biogenética, que resultará na melhoria da qualidade do rebanho. Outro caminho é o do confinamento do rebanho.
“Só com esse confinamento, será possível aumentar em 200 mil litros a produção anual de leite no Ceará”, finalizou.
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