Algodão no Ceará tem solo, mas precisa de água, energia e tecnologia
Para Sérgio Armando Benevides, do Comitê do Algodão da ABIT, o projeto Algodão do Ceará, para ter êxito, terá de copiar o que a Fazenda Nova Agro está fazendo na Chapada do Apodi
Há bons solos, bom clima e boa pluviometria para que o Ceará volte a ser um dos protagonistas da cotonicultura brasileira, e neste sentido avança o projeto Algodão do Ceará, lançado em setembro passado pelas federações da Agricultura (Faec) e das Indústrias (Fiec) com o apoio do governo do Estado, e já atraindo grandes produtores do Mato Grosso.
Há, porém, cuidados a serem tomados e um deles foi anunciado no “Cresce Ceará”, evento promovido sexta-feira passada, 6, pelo Sistema Verdes Mares com o apoio do BNB e da Enel Ceará Distribuição. E quem o anunciou foi Sérgio Armando Benevides, coordenador do Comitê do Algodão da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit), presidente do Conselho de Ética da Câmara do Algodão e comprador de algodão das indústrias têxteis do empresário Mário Araripe, controlador da Casa dos Ventos.
Benevides disse o seguinte:
“O cultivo do algodão só é economicamente viável se produzido em escala, ou seja, em grandes volumes, e se cultivado com tecnologia para a melhoria do solo, com o uso de sementes selecionadas que garantam fibra longa, e neste caso a Embrapa está à disposição de todos.
“Mas o algodão precisa de algo mais: ele precisa de energia elétrica e de água. E quem está fazendo tudo corretamente no Ceará é o empresário Raimundo Delfino Filho na sua Fazenda Nova Agro, na Chapada do Apodi, onde há água no subsolo, o que garante a irrigação, mas falta a energia. A que existe hoje tem uma tensão que sobe e desce, causando prejuízos ao empreendedor porque máquinas e equipamentos costumam queimar como consequência dessa intermitência”.
O auditório, que já escutava com atenção o que dizia Sérgio Armando Benevides, aguçou o ouvido para entender melhor o seu ponto de vista. Ele prosseguiu falando:
“Hoje, a indústria têxtil implantada no Ceará – cujas fábricas de fiação e tecelagem são modernas e tecnologicamente atualizadas – consome anualmente o equivalente a 150 mil toneladas de pluma de algodão. Para que se tenha uma ideia do que isso representa, e representa muito, basta dizer que, atualmente, a indústria têxtil brasileira, que já consumiu 1 milhão de toneladas de pluma por ano, consome só 700 mil toneladas, volume que o estado da Bahia, sozinho, produzirá neste ano.”
Benevides quis dizer que, para ser autossuficiente, a cotonicultura cearense precisa produzir, por ano, 150 mil toneladas de pluma de algodão, com o que atenderá à demanda de sua indústria de fiação e tecelagem. É um desafio e tanto, mas os agricultores cearenses e sua liderança adoram desafios.
Parágrafo: a produção brasileira de algodão está em volta de 3,3 milhões de toneladas anuais de pluma, o que quer dizer que o Brasil é hoje o maior exportador mundial de algodão, e um dos seus compradores é a indústria têxtil do Egito, que produz o que é considerado o melhor algodão do mundo.
Falando pausadamente, com o claro objetivo de chamar a atenção dos agricultores presentes para a importância de produzir algodão com tecnologia de ponta, Sérgio Armando Benevides revelou:
“Há um poderoso lobby do petróleo que sustenta a produção dos chamados fios sintéticos, já utilizados na fabricação de roupas em todos os continentes, nas Américas, também. É por isto que o consumo da indústria têxtil brasileira caiu 300 mil toneladas nos últimos anos. E o da indústria mundial não cresce há vários anos. Hoje, as roupas de elastano, feitas com esses fios sintéticos, concorrem com as de puro algodão, que são melhores e mais confortáveis e custam um pouco mais caro exatamente porque feitas de algodão”.
Sérgio Armando Benevides aplaudiu a iniciativa da Faec e da Fiec de lançarem o projeto Algodão do Ceará, cujos objetivos “são louváveis e estão em linha com a moderna agricultura brasileira e com a inovadora indústria têxtil do país, que, apesar do alto encargo tributário, segue produzindo fios e tecidos de algodão com alta qualidade, de que são prova suas crescentes exportações”.
Ele informou que os empresários cearenses envolvidos no projeto da nova cotonicultura estadual devem mobilizar-se para a criação da Associação dos Produtores de Algodão do Ceará, pois só abrigados em uma entidade filiada à Abit ser-lhes-á possível participar dos eventos e dos debates técnicos que ela promove constantemente. Esta coluna pode informar que já foram dados os primeiros passos para a fundação dessa associação, providência já liderada pela Faec junto à Abit.
Hoje, o Ceará já produz, na Fazenda Nova Agro, na Chapada do Apodi, algodão de qualidade semelhante ao do egípcio.
A área plantada, que neste ano foi de 700 hectares, será ampliada para 2,5 mil hectares em 2025, mas essa ampliação dependerá – segundo Raimundo Delfino Filho – da garantia de fornecimento de energia elétrica firme pela Enel. E, também, de boas estradas na região do Apodi, algo já prometido pelo governador Elmano de Freitas.
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