IV Anel Viário de Fortaleza: a licitação do absurdo

Uma empresa propôs R$ 6,5 milhões para fazer o serviço; a segunda, R$ 700 milhões. E mais: 1) Fialho mudou a irrigação, diz Teixeira; 2) Empresários cearenses na expectativa da política

Legenda: As obras de duplicação do IV Anel Viário já se prolongam há mais de 10 anos
Foto: Diário do Nordeste / Hermann Rabelo

Licitação de obras públicas no Brasil – as do Ceará no meio – podem virar objeto de pesquisa acadêmica, tantos são os absurdos que se registram em torno delas. 

Querem um exemplo? A Superintendência de Obras Públicas (SP) do governo cearense acaba de defrontar-se, mais uma vez, com a frustração de uma concorrência deserta para a conclusão das obras de duplicação do IV Anel Vário de Fortaleza, um projeto que, na China, duraria 12 meses, mas que aqui já caminha para os 12 anos. 

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Nem tão deserto assim foi o certame: duas construtoras participaram dele, o que por si só já seria surpreendente. 

Mas o que surpreendeu, pelo inacreditável, foi a diferença de preços entre as duas propostas: uma das concorrentes declarou-se disposta a executar o serviço por apenas R$ 6,5 milhões, muito abaixo do chamado preço de mercado. 

A outra empreiteira, enxergando a chance de superfaturar ao abrigo de uma licitação oficial, garantiu que executaria o serviço pelo preço de R$ 700 milhões, valor que financiaria a duplicação de três anéis viários. Coisa de louco!

Mas no Brasil a promiscuidade entre empreiteiras, governos (federal, estaduais e municipais) e políticos não é fácil de estancar. Sai governo, entra governo, sai Parlamento, entra Parlamento e segue tudo da mesma maneira. 

Reparem em que estado de encontram, hoje, as estradas federais e estaduais aqui no Ceará, com as raras exceções que confirmam a regra. 

Duvidam? Peguem a BR-116 e viaje até Icó – é uma buraqueira só. Ou, então, opte pela BR-020, de Fortaleza até Madalena, onde caminhões, ônibus e carros de passeio quebram molas e furam pneus por causa da precariedade da rodovia, cujo pavimento praticamente desapareceu. 

Trata-se da infraestrutura de transporte cuja manutenção cabe ao poder público. Como este, por desleixo ou inapetência, deixa de fazer o que lhe compete, os custos do frete agigantam-se, com imediata repercussão no preço das mercadorias transportadas, injetando inflação na veia da economia. 

O IV Anel Viário de Fortaleza é um caminho rodoviário que, além de transferir do centro urbano para a periferia da cidade o tráfego pesado de cargas, une os portos do Mucuripe e do Pecém, sendo ainda o caminho de quase tudo o que Ceará produz e exporta para outros estados e para o exterior. 

É, pois, uma estrada vital para a economia estadual cearense, e por isto mesmo sua duplicação já deveria ter sido concluída. Mas não o foi e, pelo visto, não o será nos próximos dois anos. 

Por dois motivos: Primeiro, poque falta dinheiro no orçamento do Estado e no da União para este exercício; segundo, porque o próximo governo federal e estadual, seja lá qual for, revisará o plano rodoviário, conferindo-lhe novas prioridades, de acordo, naturalmente, com seus interesses geopolíticos, que não são os interesses nacionais, mas os paroquiais, diga-se de antemão.

EMPRESÁRIOS NA EXPECTATIVA DA POLÍTICA

Empresários da indústria e da agropecuária cearense acompanham, com elevado interesse, as demarches em torno da escolha do candidato da coligação PDT-PT ao governo do Estado.

“As demandas do cearense sofisticaram-se. Não será qualquer um que terá condição moral e intelectual para conduzir o Ceará pelos novos desafios da ciência, da tecnologia e da inovação”, diz à coluna um industrial categoria cinco estrelas, advertindo:

“Estamos no Século XXI. Não podemos voltar ao Século XX”.

TEIXEIRA DIZ QUE FIALHO MUDOU A IRRIGAÇÃO

Depoimento do engenheiro Francisco Teixeira, secretário de Recursos Hídricos do Governo do Ceará sobre seu colega Vicente Fialho, ex-prefeito de Fortaleza e de São Luís e ministro da Irrigação, falecido na madrugada da última terça-feira, 12:

“Lamento a morte do nosso grande professor Vicente Fialho. De inteligência diferenciada e ousado, deixou sua marca em grandes empreendimentos de infraestrutura urbana e de aproveitamento hidro agrícola. Projetos de irrigação como Jaíba (MG), Irecê (BA), Formosos A e H (BA), Jaguaribe-Apodi (CE), Tabuleiros de Russas (CE), Baixo Acaraú (CE), Tabuleiros Litorâneos (PI) e muitos outros têm sua marca.

“Fialho levou a irrigação das várzeas de aluvião para os tabuleiros. Com isso fez surgir a fruticultura nos perímetros públicos irrigados. Induziu a entrada de técnicos agrícolas, agrônomos e de empresários nesses perímetros, introduzindo lotes específicos para tais atores. Com isso ajudou a qualificar a atividade da agricultura irrigada no Semiárido Brasileiro.

“Antes de Fialho, a atividade da irrigação nos perímetros públicos pautava-se, basicamente, na rizicultura. Sem dúvida, deu início a um processo de modernização dessa atividade.”