Investimento em energia solar cresce e abre crise na eólica

Encomendas de equipamentos para parques de geração eólica desabaram, ao mesmo tempo em que dispararam as de painéis solares, cujos custos caíram de modo espetacular nos últimos três anos.

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(Atualizado às 06:00)
Legenda: Encomendas de equipamentos dos parques eólicos desabaram, enquanto cresceram e baratearam os equipamentos dos parques de geração solar
Foto: Tuno Vieira / SVM

Encomendas de equipamentos de geração eólica desabam, enquanto crescem as de placas solares fotovoltaicas, cujos custos caíram bastante. Os chineses estão por trás.  

Houve uma mudança radical no setor das energias renováveis: a geração eólica, que liderava amplamente os investimentos, está perdendo terreno – e põe terreno nisso – para a geração solar fotovoltaica. Causa: os custos da primeira seguem elevados, enquanto os da outra experimentaram, nos últimos três anos, uma queda vertiginosa.

Consequência: as encomendas de pás eólicas – que movimentam as turbinas e compõem o cenário das belas torres existentes no litoral e no interior do Nordeste – o Ceará no meio – desabaram, atingindo (no que o verbo atingir tem de mais dramático) as empresas que as fabricam. No sentido inverso, os projetos de geração solar cresceram e seguem crescendo como um foguete da Space-X.

O problema – e estamos tratando de um problemão sob o ponto de vista econômico e social – não se registra somente aqui no Brasil. Em outros países, a questão é mais grave, pois algumas fábricas de turbinas e pás eólicas estão muito ameaçadas pelo rapidíssimo avanço da energia solar, cujos custos caíram de forma espetacular. E qual é a causa desse avanço?

A resposta, em linguagem de arquibancada, é a seguinte: a China – sempre ela – é a maior e quase única fabricante mundial de painéis fotovoltaicos. O país comandado por Xi Jiping domina 90% desse crescente mercado. São os chineses que fabricam e exportam para o mundo os equipamentos que transformam os raios solares em energia elétrica. São os chineses, neste instante, que monitoram, com lentes de lupa, o drama das indústrias que fabricam pás e turbinas eólicas. Com a liquidez de que dispõe, a China tenta comprar as empresas que fabricam, mundo afora, as máquinas e os equipamentos dos parques de geração de energia eólica, incluindo pás e turbinas.

E o que pretendem os chineses? É clara a resposta: dominar a geração mundial das energias renováveis – a solar fotovoltaica e a eólica on shore (em terra firme) e off shore (dentro do mar). E pelo andar da carruagem, os asiáticos palmilham o caminho correto.

A matéria prima para a fabricação dos painéis solares fotovoltaicos é o silício, abundante na imensa geografia da China. Mas a indústria chinesa produz, também, as estruturas de suporte, os cabos, os inversores, os controladores de carga e as baterias de um parque solar fotovoltaico que são exportados para o mundo todo a um preço extremamente competitivo. Como enfrentar essa concorrência? – é a pergunta que surge.  

Essa mudança que o mundo – e o Nordeste e o Ceará, muito localizadamente – registra nesta segunda dezena do Século XXI é extraordinária. As energias renováveis caminham para dominar a atividade econômica, mas já enfrentam o poderoso adversário: o lobby do Petróleo & Gás, do qual faz parte o presidente eleito dos EUA, Donald Trump, que já anunciou uma de suas prioridades: explorar todo o petróleo que existe em seu país e, também, em outras áreas do planeta, como a Groelândia. Trump tem estreitas ligações com os empresários petroleiros do Texas, financiadores das campanhas eleitorais republicanas.

Subtraiamos a questão geopolítica e concentremos foco na única questão que hoje interessa à coluna e aos seus leitores: a crise que atravessa o setor industrial que fabrica pás eólicas. Ela existe e é grave, preocupa o governo do Ceará e sua Federação das Indústrias, que, juntos, estão buscando alternativas garantidoras da manutenção do “status quo”, ou seja, de que tudo se mantenha preservado – as empresas, os empregos e a atividade econômica. O governo do Ceará é liderado pelo PT, que tem a Presidência da República e todo o aparato institucional capaz de assegurar uma boa solução para o problema.

Terra do Sol e da Luz, o Ceará tem todas as condições de manter o protagonismo na geração das energias renováveis, pois aqui é o domicílio solar e, ainda, a sede dos melhores bancos de vento do país.

Esta coluna pode informar, com base em informações de fontes primárias, que a questão aqui abordada já é motivo de ação conjunta do governo do Estado e da Federação das Indústrias (Fiec). O secretário da Casa Civil, Chagas Vieira, garantiu à coluna que “providências já foram tomadas”, o que foi confirmado pelo presidente da Fiec, Ricardo Cavalcante.  

Ontem, à tarde, o secretário da Casa Civil do governo do Ceará, Chagas Vieira, transmitiu mensagem a esta coluna informando o seguinte:

“O Governo do Estado aprovou projeto de lei no fim do ano passado, visando estimular o desenvolvimento do setor de energias renováveis. A lei criou o Projeto Crédito Verde, objetivando o desenvolvimento da geração de energia elétrica a partir de fonte eólica. Para isso, permite a transferência de crédito verde (saldos credores de ICMS acumulados) entre o estabelecimento que fabrique equipamentos e componentes para geração de energia eólica para empresas instaladas e em operação no Estado. Essa transferência só ocorrerá para empresas que se comprometam a fazer novos investimentos que minimizem o impacto ambiental e sejam sustentáveis. As fabricantes cearenses de pás e turbinas eólicas certamente serão beneficiadas.”

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