No exato momento em que o Governo Federal, internamente, diverge sobre a produção do Hidrogênio Verde, a Comissão Especial do Senado Federal, presidida pelo cearense Cid Gomes (PDT), criada exatamente para debater o tema, promove às 10 horas de hoje, segunda-feira, 26, no auditório do Complexo do Pecém, em São Gonçalo do Amarante, uma audiência pública destinada à coleta de opiniões e sugestões de todas as partes interessadas na questão.
Estamos tratando de um assunto que divide autoridades do governo do presidente Lula, a começar pelo Ministério de Minas e Energia, que – de acordo com fontes empresariais com gabinete de trabalho em Fortaleza, Brasília, Rio de São Paulo – quer retardar a regulamentação da geração da chamada energia offshore (dentro do mar).
Faz três anos que as empresas que atuam na geração de energia eólica e solar aguardam essa regulamentação.
Neste momento, mais de 20 projetos de geração eólica offshore estão sob análise do Ibama, em Brasília, entre os quais há mais de 10 de interesse do estado do Ceará, sendo a maioria localizada no Litoral Norte, entre o mar de Caucaia e Camocim.
Qual é a razão da questão? As fontes consultadas por esta coluna indicam que o lobby das petroleiras – a Petrobras no meio – tem o máximo de interesse de postergar os investimentos que a iniciativa privada deseja fazer para a produção do Hidrogênio Verde.
Para ser verde – todos sabemos – esse hidrogênio terá de ser produzido com energias renováveis, como a eólica e a solar, que existem em abundância no Nordeste brasileiro, principalmente no Ceará.
Segundo as mesmas fontes, trata-se de um lobby mundial, liderado pela OPEP, que tem à sua testa a Arábia Saudita. Para a descarbonização do mundo – que virá pela redução da emissão de gases de efeito estufa, que aquecem o planeta – as energias de origem fóssil terão de ser substituídas nos próximos anos pelas de fontes renováveis. E isto já começou.
Traduzindo: começam a sair das ruas os veículos movidos à gasolina e a óleo diesel. Em seu lugar, estão chegando os carros elétricos, cuja tecnologia se renova e se barateia anualmente. O petróleo poluente parece ter os dias contados.
Assim, o futuro próximo da indústria do petróleo parece cinzento diante do branco cenário das energias renováveis, uma das quais é a do Hidrogênio Verde, que, aqui no Ceará, será produzido por unidades industriais movidas por energias solar e eólica onshore ou offshore.
O Ceará tem 600 Km de costa, ou seja, dispõe de um banco extraordinário de vento marinho capaz de garantir energia à tranquila operação do Hub do Hidrogênio Verde do Pecém, para o qual duas grandes empresas – a gigante australiana Fortescue e a também gigante brasileira Casa dos Ventos – já celebraram pré-contrato com o Complexo do Pecém para a instalação de uma unidade de produção do H2V na geografia da ZPE Ceará.
Por enquanto, isso é um sonho que só se tornará realidade quando, e se, o Ministério de Minas e Energia der um passo adiante na direção da regulamentação da geração de energias renováveis dentro do mar.
As mesmas fontes consultadas por esta coluna disseram ontem que deputados e senadores interessados nessa regulamentação procurarão o presidente Lula com quem tratarão do assunto.
Se o Brasil quer mesmo mostrar-se ao mundo como uma potência industrial sustentável, está aí a grande oportunidade de viabilizar os projetos de geração de energia offshore, começando pela sua urgente regulamentação, algo que, aliás, dependerá de decisão do Congresso Nacional.
Um anteprojeto elaborado, há dois anos, pelo Ministério de Minas e Energia mostrou o tamanho do problema, pois incluiu vários ministérios na composição de um conselho que decidirá sobre o que pode e o que não pode na área da geração offshore. Esse conselho é tão grande, que parecerá uma assembleia-geral de grêmio estudantil.