Cumprindo seu quarto mandato de deputado federal, sempre pelo MDB do seu estado, o gaúcho Alceu Moreira, ex-presidente da Frente Parlamentar do Agronegócio e atual presidente da Frente Parlamentar Mista do Biodiesel, atraiu para si todas as atenções de 20 empresários da agropecuária cearense com os quais se reuniu sexta-feira em Fortaleza.
Nos primeiros três minutos de sua minuciosa fala sobre o cenário de hoje e de amanhã da economia brasileira, sob o ponto de vista político e empresarial, ele resumiu assim, mas com outras palavras, o que se passa e o que se passará no futuro próximo:
“O Brasil não tem política industrial, não tem segurança jurídica e não tem regulamentação, razão pela qual o que sobra no país é a imprevisibilidade.”
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Sentado ao lado do agroindustrial Carlos Prado, primeiro vice-presidente da Fiec, e em frente ao presidente da Faec, Amílcar Silveira, Alceu Moreira referiu-se à COP 30 – a Conferência sobre o clima que a Organização das Nações Unidas (ONU) promoverá em Belém do Pará, em 2025. E criticou a anunciada decisão do governo paraense de comprar e colocar em circulação na capital do estado, até aquele ano, 1 mil ônibus elétricos.
“Será um erro. Por que não aproveitar a palma e o sisal, que existem lá, para a produção de biodiesel? A natureza agradecerá”, indagou ele sem, porém, impactar os que o ouviam. O impacto veio com a seguinte previsão, pronunciada, de novo, com outras palavras:
“Prestem atenção, senhores! As melhores e maiores chances do agro brasileiro não virão do Tocantins. Elas virão do Nordeste, que já está tirando proveito de duas dádivas da natureza: o sol e o vento. Agora, é preciso criar a ‘vaca do Nordeste’, que se alimenta de um pasto que se transforma em leite”.
Com um sorriso nos lábios provocado pelo que ouviu, o presidente do Sindicato da Indústria de Lacticínios do Ceará, José Antunes Mota, abordou a questão do preço do leite pago pelos industriais ao produtor, mas o parlamentar gaúcho o interrompeu, com esta informação:
“O custo da produção do leite, aqui e no mundo todo, é de US$ 0,26 (vinte e seis centavos de dólar)”.
Alceu Moreira abordou o tema ambiental e disse que o discurso do verde e do desenvolvimento sustentável veio para ficar, “e isto deve ser incluído no custo de produção dos senhores”. Segundo ele, a Tecnologia da Informação já invadiu as áreas de produção das empresas agropecuárias.
“Já temos, e teremos em toda nossa cadeia produtiva, o QR Code que revela, num clique do celular, a rastreabilidade de tudo o que se produz no campo – do leite ao queijo, da fruta ao camarão.”
Em alto e bom som, que cresciam por causa do seu forte sotaque gaúcho, o deputado Alceu Moreira enveredou por um tema que tem sido, também, motivo de duros pronunciamentos do seu colega Aldo Rebelo, do PCdoB: o da presença, na Amazônia, de Organizações Não Governamentais (Ongs), que, “financiadas por entidades estrangeiras”, criam dificuldades ao desenvolvimento do agro brasileiro. E isto tem um motivo, de acordo com o que, outra vez com outras palavras, afirmou o emedebista:
“Nenhum país agrícola do mundo tem a produtividade que o Brasil alcançou hoje, graças aos investimentos que a iniciativa privada, com o apoio da Embrapa, fez e segue fazendo na tecnologia. O Brasil ocupa menos de 10% do seu território para a produção de sua agropecuária, e a Nasa já o confirmou. O Brasil é campeão mundial na produção e na exportação de soja. E dentro de pouco tempo será campeão também em milho e algodão. Nos países cujo agro é também desenvolvido, usam-se mais de 60% de sua área geográfica para a produção. São os agropecuaristas brasileiros que preservam as áreas verdes. É por isto mesmo que há um claro esforço estrangeiro no sentido de impedir o avanço do agro no Brasil, cujos preços são e seguirão sendo competitivos”.
No fim de sua conversa – foi mais um monólogo, entrecortado por curtas opiniões e perguntas dos presentes – Alceu Moreira falou sobre a Reforma Tributária. E disse o seguinte, usando mais uma vez outras palavras:
“Ela será aprovada, porque esta é a melhor oportunidade que já se criou no país e no seu Parlamento para a substituição do atual ‘manicômio tributário’ por um modelo moderno, que pode não ser o ideal, mas é o possível. A Reforma, eu posso assegurar, reduzirá o encargo tributário do agro brasileiro.”
Neste ponto, ele não conseguiu dissipar as dúvidas e as desconfianças dos agropecuaristas que o ouviram. Um plantador de algodão, à moda São Tomé, disse:
“Só acreditarei nisso quando a reforma tiver sido aprovada, e ela só agora começa a ser debatida na Câmara dos Deputados. Eu temo que ela seja rejeitada”.