Hidrogênio Verde: Carlos Prado diz que o pessimista nada constrói

Abre-se um debate sobre o projeto do Hub do H2V do Pecém, que poderá mudar a economia do Ceará nos próximos sete anos

Legenda: O Hidrogênio Verde poderá mudar a face social e -econômica do Ceará com os grandes investimentos que ser farão na ZPE do Pecém
Foto: Shustterstock

Até agora, no futuro Hub do Hidrogênio Verde do Pecém, nenhum tijolo foi assentado por quaisquer das empresas nacionais e estrangeiras habilitadas e prontas para construir suas unidades industriais de produção do H2V. Com dinheiro no caixa e ouvindo a conversa, elas apenas aguardam, para iniciar suas obras, a aprovação pelo Parlamento do necessário marco regulatório.
 
Mas, em contrapartida, a concreta possibilidade de o Ceará transformar-se num dos mais importantes polos mundiais de produção do hidrogênio verde está gerando debate, com opiniões que tentam reduzir o entusiasmo dos parceiros desse empreendimento – o governo do estado, a liderança empresarial (a Fiec) e a inteligência acadêmica.

O primeiro a discursar – sugerindo a cautela e o abrandamento da visível euforia, principalmente nos executivos de grandes empresas como a Fortescue, Casa dos Ventos, Qair, Voltália, AES, Cactus e FVR – foi o ex-presidente do Banco do Nordeste, economista e engenheiro Marcos Holanda, hoje dedicado à tarefa de analisar o que faz ou deixa de fazer o governo federal ou estadual.
 
O que Holanda disse ontem a esta coluna – “não sou contra o H2V, mas insistir nessa fantasia de que ele vai transformar a economia do estado e resolver nossa pobreza é um grande erro” – teve má repercussão no empresariado cearense. 

Um dos seus líderes, o industrial e agropecuarista Carlos Prado, primeiro vice-presidente da Fiec, reagiu por meio de uma curta mensagem transmitida a esta coluna e cujo texto é apropriado para uma reflexão a respeito do tema. Ei-lo na íntegra:

“Em meus 83 anos de vida, não conheci pessimista que construísse algo.
 
“Quando foram iniciados os primeiros projetos de energia eólica e solar, o custo da energia gerada equivalia a algumas vezes o da energia hidrelétrica. Hoje, o custo de instalação e de operação desses projetos é muito menor. 

“No caso do Hidrogênio Verde, o quadro é o mesmo. Grandes grupos econômicos não estariam investindo aqui sem analisar a evolução dos custos dos insumos necessários para essa nova energia. 

“Esses grupos estão se estruturando, participando ativamente da mesma construção fiscal que permitiu o progresso da energia renovável e assumindo os compromissos e os riscos para viabilizar o novo produto que mudará o Ceará.” Ponto.

Este colunista testemunhou o que aconteceu no Ceará quando, no início dos anos 60, se levantou a ideia da construção de uma linha de transmissão para trazer a energia da novíssima hidrelétrica de Paulo Afonso, na Bahia, até Fortaleza. O que parecia impossível se tornou realidade em 1965, e os pessimistas – que integravam a oposição ao governo estadual – viram-se derrotados pelo avanço da engenharia e da tecnologia.

É o que acontecerá no Ceará, no resto do Brasil e no mundo todo, e – como diz Carlos Prado – os australianos da Fortescue não deixariam a Oceania e não cruzariam todo o Pacífico para instalar-se na ZPE do Pecém, se a produção do Hidrogênio Verde aqui não fosse econômica, financeira, social e ambientalmente viável. 

“Não temos dúvida dessa viabilidade”, insiste em afirmar em todos os auditórios o CEO da Fortescue no Brasil, Luís Viga.

Essa mesma certeza e esse mesmo entusiasmo são os que movem, também, os megaempresários cearenses Mário e Lucas Araripe – pai e filho – controladores da Casa dos Ventos, à qual se associou a gigante francesa Total, que adquiriu 30% do capital da empresa brasileira.

Assim como a Fortescue, a Casa dos Ventos está prontinha para começar as obras de sua indústria de H2V no Pecém, e se esse empreendimento não fosse viável, os franceses e os Araripe não estariam nele.

A tecnologia do H2V desenvolve-se na velocidade do som graças aos investimentos privados e às pesquisas acadêmicas que se realizam nos principais centros mundiais de geração do conhecimento. Em cinco anos, os custos de produção de 1 quilo de H2V – hoje por volta de 13 euros – estará reduzido a um terço, segundo estimam os especialistas. 

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