Hidrogênio Verde: Brasil está perdendo o trem da história

Projetos de geração da energia eólica offshore, que darão suporte à produção do Hidrogênio Verde, aguardam regulação, algo que Argentina, Uruguai e Chile já fizeram

Legenda: Brasil retarda a regulamentação da geração de energia eólica offshore (foto), ou seja, dentro do mar
Foto: Shutterstock

Mais preocupadas com as questões da política rasteira – que só vê, com olhos fisiológicos, o toma lá dá cá que esvazia o Tesouro Nacional e ajudam a manter o déficit primário – as autoridades do governo brasileiro ainda não viram o trem da história que transporta a nova matriz energética.

Nesse trem já embarcaram nossos vizinhos Argentina e Uruguai e ainda o Chile, que já aprovaram, nos seus parlamentos, a regulação da produção do Hidrogênio Verde (H2V) e da geração da energia eólica offshore (dentro do mar). 

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Esse trem está passando pela estação Brasília, onde o Congresso Nacional e o Ministério de Minas e Energia (MME) – mais ocupado com aquelas do que com esta – parecem ter dado as costas ao que o mundo chama de energia do futuro. 

Aqui no Ceará, passa-se o contrário: o governo e a liderança empresarial da Fiec, ambos apoiados pela inteligência da Universidade Federal (UFC), deram-se as mãos há três anos para viabilizar o projeto de implantação do Hub do H2V do Pecém.

Essa parceria cearense lamenta o que acontece na capital federal, onde o que importa são as emendas parlamentares e não a infraestrutura legal indispensável para receber os gigantescos investimentos na área das energias renováveis que garantirão a produção do Hidrogênio Verde.

Ao contrário dos governos argentino, uruguaio e chileno, o governo do Brasil permanece inerte em relação não só à geração de energia eólica offshore, mas também à criação do mercado regulado de carbono. 

Essa inércia – sejamos justos – não é só do atual governo esquerdista do PT; ela vem do governo direitista anterior. Isto levanta a suspeita de que nem a Petrobras de Bolsonaro nem a Petrobras de Lula quer o avanço das energias limpas e renováveis, como a solar fotovoltaica, a hidráulica e a eólica onshore e offshore.

De acordo com a Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústria de Base (ABDIB), o Brasil precisará de investir nos próximos 10 anos, somente na área energética, algo do tamanho de R$ 526 bilhões para a expansão da geração de energia renovável e mais R$ 1,05 trilhão para viabilizar a indústria do Hidrogênio Verde. 

Desse trilionário investimento, mais de R$ 100 bilhões estão previstos para o Hub do H2V do Pecém, se se confirmarem as intenções dos mais de 20 Memorandos de Entendimento celebrados pelo governo do Ceará com empresas nacionais e estrangeiras.

Enquanto outros países do continente latino-americano – incluindo a caótica Argentina, sem se falar no Chile, que avança nos projetos de geração do H2V – aceleram as providências legais e ambientais com esse objetivo, o Brasil perde tempo, e perderá dinheiro e oportunidade para tornar-se um player mundial do Hidrogênio Verde.

O MME e a Petrobras ainda não abriram os olhos para enxergar o futuro próximo, que está chegando com automóveis elétricos, aviões e navios movidos a biocombustível, indústrias e cidades operando e sendo iluminados com energias limpas e, de quebra, com fábricas produzindo o Hidrogênio Verde com energia solar e eólica.  

O MME e a Petrobras ainda acreditam que o combustível fóssil, extraído do petróleo e do xisto, é infinito. Estão enganados, o petróleo e o xisto têm seus dias contados. 

Infinitas são as novas energias, dádivas da natureza, bençãos gratuitas de Deus e para as quais o governo Lula tem de dar atenção o mais rapidamente possível, começando pela regulação da geração da energia eólica dentro do mar. 

O texto dessa regulação está pronto, mas ainda não foi encaminhado ao Congresso Nacional – ao qual cabe dar a palavra final – porque surgiu outra pedra no meio do caminho: a disputa dos empresários a favor e contra a geração offshore.

Um lado da questão entende que, antes de produzir dentro do mar, será necessário esgotar as possibilidades de geração eólica em terra firme (onshore). Não se sabe, até agora, de que lado está o MME. 

E tudo se complica diante do anunciado desejo da Petrobras, manifestado pelo seu presidente Jean Paul Prates, de ela mesma também produzir energia eólica offshore. 

Esse desejo é verdadeiro ou se trata, apenas, de uma estratégia diversionista? Falta uma resposta.