H2V: É preciso atrair a cadeia produtiva para o Pecém

Indústria cearense já se move nesse sentido. A Aeris fabricará pás de 80 metros por encomenda da gigante dinamarquesa Vestas, que fará em Aquiraz turbina de 4,5 MW

Legenda: Pá eólica fabricada pela Aeris Energy no Complexo do Pecém e doada ao Senai-Ceará, que forma e qualifica mão de obra para energias renováveis
Foto: Fiec/Senai / Divulgação

De olho nas indústrias do hidrogênio verde que se implantarão no Complexo do Pecém ao longo dos próximos cinco anos, está a mover-se no Ceará a cadeia produtiva das energias renováveis. E a grande e primeira novidade que surge da área é a decisão da cearense Aeris Energy, pilotada pelo seu sócio majoritário e CEO Alexandre Negrão, de fabricar uma pá eólica de 80 metros de comprimento por encomenda da gigante dinamarquesa Vestas, a maior do mundo na produção de turbinas de geração de energia pela força dos ventos e com uma unidade industrial instalada e em operação em Aquiraz, na Região Metropolitana de Fortaleza. 

Esta coluna obteve do engenheiro Victor Santos – diretor de Tecnologia e Inovação da Aeris, cujo parque industrial licaliza-se no Complexo do Pecém – a informação de que essa nova pá, denominada V163, foi desenvolvida pelos especialistas da Vestas e, por isto mesmo, só poderá ser usada em parques eólicos que utilizem suas turbinas. 

A propósito: a unidade cearense da Vestas – como antecipou o Diário do Nordeste no dia 27 de outubro passado, em matéria do repórter Luciano Rodrigues – passará a fabricar uma nova turbina com capacidade de gerar 4,5 MW, para o que exigirá uma nacele maior e pás também maiores. 

Feitas de pultrudado de fibra de carbono, tecido de fibra de vidro e resina epóxi, as novas pás da Aeris darão às turbinas da Vestas a possibilidade de gerar mais energia eólica, especialmente em condições de ventos mais fracos. Isto pode ser traduzido em melhor fator de capacidade, que, de forma simplificada, pode ser explicado como a otimização da eficiência da turbina, que converterá o vento disponível em energia elétrica, segundo explicou Victor Santos.

Do ponto de vista da sustentabilidade, o principal diferencial da pá V163 – um produto “made in Ceará”, como o será a própria nova turbina da Vestas – é que ela fortalecerá ainda mais a competitividade da energia eólica no Brasil. 

“Uma turbina mais eficiente permite que os novos parques eólicos gerem energia a custos ainda menores, tornando a energia eólica mais acessível e atraente para os consumidores finais”, disse Victor Santos, acrescentando que esse detalhe contribui para a expansão de fontes de energia limpas e renováveis, promovendo a sustentabilidade e reduzindo a dependência de fontes não renováveis, como as fósseis.

Para ser verde, o hidrogênio precisa de ser produzido com energias renováveis, como a solar fotovoltaica ou a eólica onshore ou offshore. Para que se tenha uma ideia do que essas energias representarão, basta dizer que somente o projeto de produção do H2V da australiana Fortescue, no Pecém, necessitará de 2,6 GW de energia – hidráulica, eólica ou solar – para produzir seu hidrogênio verde.

Esta coluna aproveita a oportunidade para abordar uma questão que inquieta parte do empresariado cearense. Essa inquietação é pertinente, uma vez que a dúvida ainda existente é se as grandes empresas que produzirão o hidrogênio verde no Pecém têm ou terão algum compromisso de atrair para cá os elos de sua cadeia produtiva.
 
Por exemplo: apenas produzir e exportar para a Europa o H2V em forma de amônia será algo fácil a partir do momento em que os processos industriais se azeitarem e alcançarem a plena operação, isto é, quando tudo ganhar voo de cruzeiro O difícil, mas essencial para o Ceará e sua economia, será a implantação concomitante de unidades industriais que produzam e forneçam aqui mesmo os insumos de que essa nova e potente indústria do hidrogênio verde precisará. 

Então, surgem perguntas: haverá mão de obra em quantidade e qualidade disponível aqui? As empresas cearenses disporão de tecnologia adequada às exigências da indústria do H2V? Resposta: a Fiec, por meio do Senai, já qualifica pessoal para as futuras produtoras do hidrogênio verde e para as atuais geradoras de energia eólica e solar fotovoltaica. 

Ao mesmo tempo, a UFC, a Unifor, a Uece e o IFCE ampliam sua grade curricular para incluir nela as novas disciplinas. É por isto, também, que o governo do Ceará alarga o número de escolas profissionalizantes, de tempo integral, correndo contra o tempo e tentando antecipar-se ao futuro científico e tecnológico que está chegando na velocidade do frevo.

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