Esta coluna retoma o tema do projeto de implantação do Hub do Hidrogênio Verde no Complexo Industrial e Portuário do Pecém, tendo em vista a opinião do presidente da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), empresário Ricardo Cavalcante, segundo a qual “está avançando, de forma avassaladora, em algumas áreas do planeta, a mudança climática”, de que é prova o desastre social, econômico, financeiro e ambiental que se registra no Rio Grande do Sul.
Em mensagem a esta coluna, ele enxerga uma luz no fim do túnel da tragédia gaúcha e das que se registram em outras partes do mundo, extraindo delas uma lição:
“Isso está fazendo com que o planeta, seus habitantes, seus líderes políticos, seus empresários e seus cientistas invistam mais rapidamente em projetos de geração de energias renováveis”.
Ricardo Cavalcante – que desempenha papel proeminente nesse esforço nacional de trocar as energias fósseis, poluentes, pelas renováveis, como a solar fotovoltaica, a eólica, a hidráulica e a de biomassa – acompanha pessoalmente as providências do governo do Estado no mesmo sentido: neste momento, ele e o governador Elmano de Freitas conversam com deputados e senadores da bancada cearense no Congresso Nacional para que votem a favor do Projeto de Lei que regulamenta a atividade de produção do hidrogênio verde no Brasil.
Essa regulação está atrasada (o Chile providenciou-a em poucos meses, e por isto mesmo está à frente do Brasil na atração efetiva de investimentos para a produção do H2V). Por que aqui, neste país tão grande e de tanta riqueza, as coisas demoram tanto a acontecer?
Faz três anos que o Parlamento trata desta questão. O mais que até agora aconteceu foi a aprovação de um texto-base que regula a geração de energia offshore (dentro do mar). E aconteceu de modo enviesado, porque, no mesmo texto da lei, senadores e deputados incluíram um “jabuti” que, simplesmente, incentiva a operação de usinas movidas a carvão nos estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Acreditem, que é vero.
Este país não é para amadores, disto todos sabemos. Em toda a geografia brasileira – principalmente na dos legislativos federal, estaduais e municipais – criam-se dificuldades para a venda de facilidades. Pode haver alguma exceção, mas até agora desconhecida. E o que está ruim poderá piorar porque o crime organizado se organizou de tal maneira que já atua nas instituições – a mídia tem revelado casos de corrupção em licitações de municípios do Norte, do Nordeste, do Sul, do Sudeste e do Centro Oeste. No México, já é assim.
Retomemos o tema que abriu este comentário. No Ceará, só para citar o que conhecemos, há quatro empresas prontas para iniciar as obras de construção de suas plantas industriais que produzirão H2V na área da Zona de Processamento para Exportação (ZPE) no Pecém – Fortescue, Casa dos Ventos, AES e Cactus, todas com licenciamento ambiental prévio. São investimentos que alcançam mais de R$ 50 bilhões. E tudo paralisado porque suas excelências do Congresso Nacional não fazem o que lhes cabe fazer: elaborar e aprovar a lei de regulamentação da produção do hidrogênio verde.
(Na próxima semana, a Comissão Especial do Senado que trata do Projeto de Lei que regulamenta a produção do H2V reunir-se-á para debate-lo e aprová-lo, e estaé uma boa notícia).
O aquecimento da Terra é produto da antropia – que pode ser traduzida como produto da deletéria atuação do homem contra a natureza, que, revoltada, derrete o gelo no Ártico e na Antártida, eleva o nível dos mares, manda tornados para destruir cidades nos EUA, incêndios para o verão europeu e chuvas em demasia sobre grandes e populosas regiões da Ásia e da América Latina (olhem para o Rio Grande do Sul).
Só há uma maneira de barrar a ira da natureza: cessar a extração e o uso dos combustíveis de origem fóssil e substitui-los pelas energias renováveis, como sugere o presidente da Fiec, replicando o apelo dos maiores cientistas do mundo.
Não é uma tarefa fácil: a ganância é e continuará sendo um dos pecados mortais da humanidade.
É possível construir riqueza sem destruir matas e florestas, sem aterrar rios e riachos. Mas para que isto aconteça, é necessário, primeiro, que as lideranças políticas deixem de lado o interesse pessoal – aqui, nos EUA, na China, na Rússia, em Israel – e passem a editar e a respeitar leis que preservem o meio ambiente.
Regulamentar a produção do H2V no Brasil é uma dessas urgentes providências legislativas.
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