Férias: a temporada de exploração aos turistas na Praia do Futuro

Uma cerveja por R$ 22 pode ser barata para o Erlon Musk, o homem mais rico do mundo, mas é cara para o consumidor médio brasileiro

Legenda: Vista aérea de um trecho da Praia do Futuro, um dos pontos de Fortaleza mais visitados pelos turistas
Foto: Kid Júnior / Diário do Nordeste

Terminará segunda-feira, 31, graças a Deus, a temporada de exploração dos turistas que ainda costumam frequentar as barracas da Praia do Futuro, no lado Leste do belo litoral de Fortaleza. 

Neste mês de julho, essas barracas – a do Zé, a do Manuel, a do Chico, a do Ita, enfim, todas as do lado direito daquela praia, parecem haver combinado, tal qual os donos de postos de combustíveis, que estabeleceriam, como estabeleceram, uma tabela de preços que sangraria, como sangrou, o bolso de incautos paulistas, gaúchos, paranaenses, goianos, amazonenses, pernambucanos, cariocas, baianos e... cearenses. 

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Primeiro, dividamos, sem qualquer objetivo político-ideológico, a Praia do Futuro entre direita e esquerda: quem vai para lá pela Avenida Santos e dobra à direita no final dela, pegando o rumo da Sabiaguaba, enfrentará uma tabela de preços que começa pela cerveja, que custa R$ 22. 

Quem opta por entrar à esquerda, na direção do Porto do Mucuripe, terá a mesma cerveja por R$ 18, mas um serviço de atendimento que deixa muito a desejar. Alguém pode dizer: o barato sai caro, e estará perto da verdade.

A exploração é tanta na Praia do Futuro (um caranguejo por R$ 12 é demais para qualquer bolso) que ontem, bem no meio da última semana cheia deste julho de férias, havia pouca gente nas barracas exploradoras.

E menos gente ainda nas que ofereciam preços mais baratos – as do lado esquerdo. 

Esta coluna é produto do Dia dos Avós, ontem celebrado. Os netos do colunista o obrigaram a levá-los à praia, para um passeio de reencontro com o sol e o sal do mar e com o caríssimo cardápio das barracas: uma dúzia de pasteizinhos de carne de sol por R$ 28 pode ser barato para o Erlon Musk, o homem mais rico do mundo, mas é muito caro para o bolso de um profissional nordestino da comunicação. 

Uma “tangerinoska” (caipirinha de tangerina com vodka) ao custo de R$ 16,00 também é cara; e uma “cajaroska” (caipirinha de cajá com vodka) pelo mesmo preço é, igualmente, uma exploração.

Três caranguejos custam, nas barracas da direita, R$ 33; nas barracas da esquerda, R$ 28. Mas nestas você tem de suportar o vizinho de mesa que, com cara de sulista, exibe uma caixa de som “Alexa” que toca axé o tempo inteiro, e de modo ensurdecedor. 

Bom é quando passa o vendedor de poesias de cordel e, surpreso, depara-se com um cliente que é repentista como ele, e os dois passam a recitar versos de Zé Limeira, o poeta do absurdo, Patativa do Assaré, Geraldo Amâncio, de Oliveira de Panelas e do Cego Aderaldo. Tudo gratuito para uma plateia inculta que faz de conta que ouve.

Mas há, no lado esquerdo da Praia do Futuro, uma coisa boa: a presença de agentes autorizados da Prefeitura de Fortaleza, que fazem um serviço de guarda de automóveis que podem estacionar em ângulo de 90 graus na beira da avenida de dupla pista. 

Por R$ 8, o carro fica guardado e protegido dos escaldantes raios solares por um papelão que cobre, do lado de fora, todo o painel e o console do veículo, reduzindo ao mínimo os efeitos da insolação. 

Os guardadores usam farda, e isto transmite mais segurança ao usuário.  

Do lado direito, há estacionamentos que cobram R$ 20 pelo dia inteiro de “proteção” ao bem móvel, tanto faz sob a sombra de um telhado como a céu aberto. Há turistas que pagam antecipadamente pelo serviço, mas o bom senso aconselha que esse pagamento deve ser feito ao final dele. 

Fortaleza é uma cidade tão bela e acolhedora, com facilidades de mobilização que só existem aqui, que os turistas, mesmo diante da exploração que os castiga na Praia do Futuro, estão voltando hoje às suas origens com a promessa de que, nas próximas férias, retornarão com o mesmo entusiasmo que os trouxe agora.

Mas, com todo o respeito a quem pensa diferente, o trade turístico do Ceará deve tomar uma atitude que proíba tamanha exploração dos turistas. Mas não é só aqui.

A Praia de Jericoacoara começa a sofrer os efeitos dessa mesma exploração. Os preços de hotéis, bares, restaurantes e casas de show de Jeri são exorbitantes. Ganhará muito dinheiro o empreendedor que, em Jericoacoara, instalar um hotel de cinco estrelas e cobrar diárias de três estrelas.
 
Em Jeri, há hotéis cobrando diárias maiores do que as cobradas pelo Gran Marquise, o mais famoso cinco estrelas de Fortaleza. Não se pode matar a galinha dos ovos de ouro.