EUA x Brasil: nova tarifa derruba ações da Embraer em NY

A empresa brasileira, cujos aviões são exportados para os Estados Unidos, perdeu 8% após anúncio das novas tarifas. CNI lamenta decisão de Trump

Escrito por
Egídio Serpa egidio.serpa@svm.com.br
(Atualizado às 06:33)
Legenda: Um dos produtos que a indústria do Brasil exporta para os EUA são os aviões comerciais e executivos da Embraer
Foto: Embraer / Divulgação
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Está a geopolítica mundial polarizada entre o poderio econômico, financeiro e bélico dos Estados Unidos e o da China. E tudo ficou mais conturbado com a política de tarifas imposta pelo presidente norte-americano Donald Trump aos países que exportam produtos para o mercado dos Estados Unidos.

Ontem, numa atitude que causou surpresa em todo o mundo, Trump impôs uma tarifa de 50% às exportações brasileiras, a qual vigorará a partir do próximo dia primeiro de agosto.  

Ao fazê-lo e ao justificá-lo, o mercurial presidente norte-americano cometeu um erro, ao condenar, no mesmo comunicado, o processo movido pelo Supremo Tribunal Federal contra o ex-presidente Bolsonaro, de quem Trump é amigo. O presidente Trump meteu a política em um assunto eminentemente econômico. É que a questão envolvendo Bolsonaro está correndo no âmbito do Poder Judiciário, no qual nem o Executivo nem o Legislativo podem interferir, uma vez que os poderes são independentes.  

Imediatamente depois de divulgada a nota em que impôs ao Brasil uma absurda tarifa, o governo brasileiro respondeu em nota assinada pelo presidente Lula: 

“Qualquer medida de elevação de tarifas de forma unilateral será respondida à luz da lei brasileira de reciprocidade econômica”, disse o presidente brasileiro, deixando claro que “a defesa dos interesses do povo brasileiro é intransigente e orienta a postura do país nas relações internacionais”. Lula disse mais: 

“A soberania, o respeito e a defesa intransigente dos interesses do povo brasileiro são os valores que orientam a nossa relação com o mundo”. 

Como consequência imediata do anúncio da nova tarifa, as ações da Embraer - que exporta aviões para os EUA - desabaram ontem 9% na Bolsa de Nova Iorque.

A decisão de Donald Trump teve reação imediata na área empresarial brasileira e, também, no mercado financeiro. O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Ricardo Alban, emitiu uma nota em que afirma o seguinte:  

“A imposição de 50% de tarifas sobre o produto brasileiro por parte dos Estados Unidos foi recebida com preocupação e surpresa pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). Para a instituição, a prioridade deve ser intensificar a negociação com o governo de Donald Trump para preservar a relação comercial histórica e complementar entre os países."

A nota da CNI é a seguinte, na íntegra:   

“Não existe qualquer fato econômico que justifique uma medida desse tamanho, elevando as tarifas sobre o Brasil do piso ao teto. Os impactos dessas tarifas podem ser graves para a nossa indústria, que é muito interligada ao sistema produtivo americano. Uma quebra nessa relação traria muitos prejuízos à nossa economia. Por isso, para o setor produtivo, o mais importante agora é intensificar as negociações e o diálogo para reverter essa decisão”, avalia Ricardo Alban, presidente da CNI.   

“Brasil e Estados Unidos sustentam uma relação econômica robusta, estratégica e mutuamente benéfica alicerçada em 200 anos de parceria. Os EUA são o 3° principal parceiro comercial do Brasil e o principal destino das exportações da indústria de transformação brasileira. O aumento da tarifa para 50% terá impacto significativo na competitividade de cerca de 10 mil empresas que exportam para os Estados Unidos.   

“Resultados preliminares de consulta realizada pela CNI indicaram que um terço das empresas respondentes que exportam bens e/ou serviços aos EUA tiveram impactos negativos nos seus negócios. O levantamento foi realizado nos meses de junho e julho, ainda no contexto da tarifa básica de 10% e demais medidas comerciais setoriais.   

“A CNI reforça a importância de intensificar uma comunicação construtiva e contínua entre os dois governos. “Sempre defendemos o diálogo como o caminho mais eficaz para resolver divergências e buscar soluções que favoreçam ambos os países. É por meio da cooperação que construiremos uma relação comercial mais equilibrada, complementar e benéfica entre o Brasil e os Estados Unidos” destaca Ricardo Alban.   

“Ao contrário da afirmação do governo dos Estados Unidos, o país norte-americano mantém superávit com o Brasil há mais de 15 anos. Somente na última década, o superávit norte-americano foi de US$ 91,6 bilhões no comércio de bens. Incluindo o comércio de serviços, o superávit americano atinge US$ 256,9 bilhões. Entre as principais economias do mundo, o Brasil é um dos poucos países com superávit a favor dos EUA.   

“A CNI aponta que a entrada de produtos norte-americanos no Brasil estava sujeita a uma tarifa real de importação de 2,7% em 2023, o que diverge da declaração da Casa Branca. A tarifa efetiva aplicada pelo Brasil aos Estados Unidos foi quatro vezes menor do que a tarifa nominal de 11,2% assumida no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC).   

“A tarifa afeta a economia americana. O relacionamento bilateral é marcado por complementariedade, isto é, o comércio bilateral é composto por fluxos intensos de insumos produtivos. Na última década, esses bens representaram, em média, 61,4% das exportações e 56,5% das importações brasileiras.   

“A forte integração econômica entre os dois países é evidenciada pelas 3.662 empresas americanas com investimentos no Brasil e pelas 2.962 empresas brasileiras com presença nos Estados Unidos. Os Estados Unidos foram o principal destino dos anúncios de investimentos greenfield brasileiro no mundo entre 2013 e 2023, concentrando 142 projetos de implantação produtiva.   

“As exportações brasileiras para os EUA têm grande relevância para a economia nacional. Em 2024, a cada R$ 1 bilhão exportado ao mercado americano foram criados 24,3 mil empregos, R$ 531,8 milhões em massa salarial e R$ 3,2 bilhões em produção no Brasil. Portanto, o aumento da tarifa de importação americana para 50% impacta diretamente a economia brasileira e abala a cooperação com os EUA”. 

O anúncio da tarifa de 50% imposta pelos EUA ao Brasil repercutiu nos mercados financeiros, pois ele aconteceu quando ainda operavam os mercados futuros. Os economistas estão prevendo para esta quinta-feira um dia agitado na Bolsa de Valores brasileira, a Bovespa. Ontem, a Bovespa fechou em queda forte de 1,31%, aos 137.487 pontos. Foi a terceira baixa consecutiva e a expectativa é de que hoje ela tenha nova queda. 

As ações da Embraer – que exporta aviões comerciais e executivos para os EUA -- caíram 9% na Bolsa de Nova Iorque logo após o anúncio da nova tarifa.  

Os Estados Unidos são os maiores parceiros comerciais do Brasil, depois da China, para onde vão 30% das exportações brasileiras.  

A decisão de Trump veio três dias depois da reunião do grupo do BRICS, realizada sábado e domingo no Rio de Janeiro. No final dessa reunião, o presidente Lula fez críticas duras ao presidente dos EUA.

Na área da política, duas declarações que mostram o posicionamento da direita e da esquerda diante da decisão tarifária de Donald Trump contra o Brasil. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, que pode ser candidato a presidente da República em 2026, disse o seguinte, referindo-se ao governo do presidente Lula: 

“Tiveram tempo para prestigiar ditaduras, defender a censura e agredir o maior investidor direto no Brasil. Outros países buscaram a negociação. Não adianta se esconder atrás de Bolsonaro. A responsabilidade é de quem governa. Narrativas não resolverão o problema.” 

A ministra das Relações Institucionais do governo, Gleisi Hoffmann, disse o seguinte: 

“Enquanto o projeto de Lula é taxar os super ricos, o do ex-presidente Jair Bolsonaro e taxar o Brasil”.   

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