Carapaça de camarão na pesquisa da UFC sobre Hidrogênio Verde
Professor doutor Ênio Pontes e outros cientistas cearenses testam a Membrana Protônica na fabricação de eletrolisadores.
Alô, interessados em hidrogênio verde! O Laboratório de Fratura e Fadiga de Materiais (Lameff), da Universidade Federal do Ceará (UFC), está a desenvolver uma pesquisa sobre o uso da Membrana Protônica na fabricação de eletrolisadores, equipamentos que, por meio de descargas elétricas, separam as moléculas do hidrogênio e do oxigênio, permitindo, por exemplo, a produção do hidrogênio verde, pois, além de não liberar dióxido de carbono para a atmosfera, usa nesse processo energias renováveis, como a solar fotovoltaica, a eólica onshore e offshore e a hidráulica.
Dessa pesquisa faz parte o professor doutor Ênio Pontes, coordenador do Lameff, que ontem falou para 20 empresários cearenses da indústria e da agropecuária. Pontes deixou alegres o auditório com a informação de que ele e outros cientistas estão empenhados em implantar, de preferência no Ceará, um Centro de Desenvolvimento Tecnológico.
Ele lembrou que o governo cearense já celebrou cerca de 40 Memorandos de Entendimento com grandes empresas nacionais e estrangeiras para viabilizar o projeto de instalação de um Hub do H2V na geografia do Complexo do Pecém, “o que já é meio caminho andado”.
Mas Ênio Pontes foi logo advertindo: os estados do Pará e do Piauí já o procuraram, mostrando grande interesse pela ideia de construção do Centro de Desenvolvimento Tecnológico, que será, também, voltado para o H2V.
A pesquisa que o Lameff desenvolve baseia-se na tese de doutorado do professor doutor Santino Laurian, a qual utiliza matéria prima local, nada mais nada menos do que a quitosana, que tem como origem o processamento de carapaças de caranguejos e camarões. E esta novidade acadêmica, já em fase de testes, despertou o interesse de grandes empresas que utilizam eletrolisadores para a produção de H2V e, ainda, aguçou a curiosidade de pesquisadores de Centros de Pesquisas nacionais e internacionais.
E todos esses interessados estarão reunidos no Energy Summit 2025, um evento global, que se realizará com a parceria do Massachussets Institute of Technology (MIT) nos próximos dias 24, 25 e 26, na cidade das Artes, no Rio de Janeiro, com a participação presencial e virtual de 10 mil pessoas – entre pesquisadores, empresários, executivos de empresas e técnicos de diferentes governos de várias partes do mundo. Um dos conferencistas desse evento – o único do Nordeste – será o professor Ênio Pontes, que falará sobre o H2V e as pesquisas que o Lamaeff desenvolve aqui.
O empresário Cristiano Maia, que é o maior criador de camarão do país, ficou entusiasmado com as informações do doutor Ênio e logo declarou que sua empresa – a Samaria Camarões - e as demais da carcinicultura nordestina estão prontas para fornecer a carapaça de camarão necessária ao desenvolvimento da pesquisa e, noutra fase, para as indústrias que produzirão os eletrolisadores.
Durante a exposição do doutor Ênio Pontes e do debate que houve em seguida, questionou-se sobre o interesse do governo estadual em torno da pesquisa do Lameff e sobre o projeto de criação do Centro de Desenvolvimento Tecnológico do Ceará, que, além do H2V, se voltará, também, para outros setores da ciência que possam atrair investimentos privados. Na opinião de alguns empresários presentes, não só o governo estadual, mas a Federação das Indústrias (Fiec) - parceira do Palácio da Abolição no projeto do Hub do H2V no Pecém - deveriam tomar a iniciativa de agregar-se a esse empreendimento, “antes que os paraenses ou os piauienses o façam”, como disse um agropecuarista.
A impressão que deixou o doutor Ênio Pontes nos 21 empresários que o ouviram falar sobre seu projeto foi a de que o Ceará e sua inteligência acadêmica dispõem de uma ideia “revolucionária” -- como disse um industrial com graduação em engenharia civil – da qual precisam fazer parte, obrigatória e urgentemente, o governo estadual e sua liderança empresarial da indústria e da agropecuária. O mesmo empresário argumentou que “essa pesquisa do Lamaeff poderá, quando for concluída, antecipar providências das empresas interessadas na produção do hidrogênio verde no Pecém.
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