Ao “suspender temporariamente” o processo de venda de sua controlada Enel Distribuição Ceará, empresa responsável pela distribuição de energia elétrica na geografia cearense, o Grupo Enel, com sede na Itália, alarga as dúvidas sobre o que pretende aqui: enterrar a empresa no cemitério das decepções ou ganhar tempo para, de forma oportunista, buscar um valor melhor pelos ativos locais da companhia?
O anúncio da interrupção das negociações para a venda da empresa foi tornado público nesta quarta-feira em comunicado assinado pelo diretor de Administração, Finanças, Controle e de Relações com Investidores da Companhia Energética do Ceará (Coelce), uma companhia de capital aberto.
Os italianos da Enel fizeram tudo errado no Ceará, desde o começo, quando, logo após assumirem o comando da empresa com o pomposo nome de Enel, tiveram problemas de relações com governadores, com empresas e com empresários e clientes em todo o estado.
Ficou claro que o Grupo Enel veio aqui para ganhar dinheiro em troca de um serviço de baixa qualidade. Uma rápida vista d’olhos nos arquivos dos jornais revelará que a Enel Ceará é campeã de queixas no Decom, na mídia impressa, na televisada e nas redes sociais.
Mas o mercado de distribuição de energia elétrica no Ceará é atrativo, e tanto é verdade que duas gigantes da área – a Companhia Paulista de Força e Luz (CPFL), controlada pela chinesa State Grid Brazil Power Participações S.A. (SGBP) – e a Neoenergia disputavam a agora interrompida compra da Enel Ceará, cujos ativos são estimados em R$ 8,5 bilhões.
Mas não é só no Ceará que o Grupo Enel tem problemas. Em São Paulo e no Rio de Janeiro, a empresa tenta, sem êxito, livrar-se da acusação de incompetente diante do apagão que atingiu cidades daqueles dois estados sudestinos por causa de tempestades, problemas que ainda persistem em algumas áreas.