Há quase dois anos, no dia 21 de dezembro de 2021, esta coluna, jubilosa, publicou a informação de que o consórcio Portocém, liderado pela empresa norte-americana Ceiba Energy e com o apoio do Denra, um Fundo de Investimento em Energia com sede nos Estados Unidos, construiria uma usina termelétrica movida a gás natural que seria fornecido pela Shell. Tudo com investimento de R$ 4,2 bilhões.
A pedra fundamental do empreendimento chegou a ser lançada no dia 5 de maio deste ano, em evento que teve a presença de várias autoridades do governo estadual.
Pois bem: hoje, esta coluna cumpre o doloroso dever de informar que esse projeto, digamos assim, enfrenta problemas que poderão atrasar a sua implantação, ou mesmo inviabilizá-lo.
Primeiro problema: a Shell desistiu de associar-se ao projeto, no qual investiria US$ 50 milhões, conforme fontes enfronhadas na questão. Consequência: não haverá gás da Shell.
Segundo problema: a Ceiba Energy vem tentando, até agora sem êxito, atrair novos sócios para a Portocém.
Terceiro problema: a Portocém, que ganhou o leilão promovido pela Agência Nacional de Energia Elétrica no fim de 2021, tem contrato celebrado com a Aneel para o fornecimento de energia a partir de meados de 2026.
Se não cumprir o contrato, o consórcio Portocém será punido de acordo com a legislação vigente.
Esta notícia soma-se à de que, no mesmo Complexo Industrial e Portuário do Pecém, a Eneva decidiu desativar, no próximo dia 28, sua usina termelétrica a gás natural que tem capacidade instalada de 327 MW (megawatts). Nessa mesma data, a Petrobras suspenderá o fornecimento de gás natural à unidade da Eneva, que, porém, tem plano de produzir Amônia Verde no Pecém.
É preciso dizer que há quase dois anos a termelétrica da Eneva no Pecém não despacha para o Operador Nacional do Sistema (ONS). Mesmo sem operar, ela está sedo remunerada pelo seu custo fixo, conforme estabelece o contrato com a Aneel.
Pergunta: que destino dará a Companhia de Desenvolvimento do Complexo Industrial e Portuário do Pecém (CIPP S/A) à estrutura do Píer exclusivo onde operava o Terminal de Gás Natural? A direção da CIPP, que administra o Porto do Pecém, ainda não decidiu.
Como desgraça pouca é bobagem, vale lembrar que, há cinco meses, o Grupo Gerdau decidiu paralisar suas operações siderúrgicas no Ceará – a corporação tem uma usina em Maracanaú e outra (a antiga Silat) em Caucaia.
Segundo a Gerdau – um dos maiores grupos da siderurgia brasileira – a abertura escancarada da importação de aço, adotada pelo Governo Federal, inviabiliza o setor, razão pela qual resolveu pela suspensão de suas atividades na geografia cearense. Foi a medida que restou, a qual, todavia, poderá ser revertida se o governo impuser alíquota mais alta para a importação do aço.
Um consultor em siderurgia disse à coluna que o aço importado do estrangeiro está chegando aqui a preço menor do que o seu custo de produção no Brasil.
Desde janeiro deste ano, o PIB industrial do Ceará tem registrado queda, e uma das causas é a paralisação das siderúrgicas da Gerdau em Maracanaú e Caucaia e a falta de despacho da usina da Eneva no Pecém. Sem produzir e sem vender aço no Ceará, a Gerdau não fatura, não emprega e não ajuda o PIB estadual.
Por sua vez, sem despachar energia, a usina termelétrica da Eneva também deixa de gerar energia, deixa ter receita, deixa de empregar mão de obra e deixa de contribuir para o PIB da indústria cearense.
Até ontem, a Secretaria do Desenvolvimento Econômico (SDE) do governo estadual cearense não havia emitido comunicado a respeito do que está fazendo para contornar as questões ligadas à Eneva, ao projeto da Ceiba e ao Grupo Gerdau.
Observação: este texto foi modificado hoje, quarta-feira, dia 14/12, para corrigir a informação de que a usina termelétrica da Eneva é movida a gás natural e não a carvão mineral, como estava escrito.