Conexão ODS: ONU e Somos Um querem colocar a pobreza no museu

O paulista Edu Lyra, da Gerando Falcões, e o cearense Rutênio Florêncio, da Pensando Bem, contaram como trabalham para mudar -- com projetos de impacto social -- a vida das pessoas que moram nas favelas.

Legenda: Aline Ferreira, Edu Lyra e Rutênio Florêncio, no painel da Conexão ODS que debateu nesta sexta-feira sobre o tema: "Mandando a pobreza para o museu"
Foto: Egídio Serpa

Como se faz para mandar a pobreza para o museu? – desejo comum do Pacto Global da ONU no Brasil e da Somos Um, uma articuladora de negócios de impacto com sede em Fortaleza, que se uniram para promover, desde quinta-feira, no Beach Park, o Conexão ODS, que debate sobre os negócios de impacto social e ambiental capazes de mudar a vida das pessoas mais carentes e do planeta castigado pela ação do homem.

A primeira e simples providência – sugerida pela empresária Ticiana Rolim Queiroz, da Somos Um, é tirar os sapatos, colocar os pés no chão, fechar os olhos e inspirar e respirar lentamente. E foi o que fizeram na tarde de hoje, sexta-feira, as 700 pessoas – a maioria jovens e mulheres, que ouviram atentamente e aplaudiram com entusiasmo dois líderes sociais – o paulista Edu Lyra, fundador e gestor da Comunidade Gerando Falcões, e o cearense Rutênio Florêncio, que criou e dirige a Comunidade Pensando Bem, ambas com forte, permanente e crescente atuação em favelas de todo o país.

Moderados pela empresária Aline Ferreira, sócia e diretora Comercial do Grupo Aço Cearense, que transformou o debate numa conversa rica em conteúdo, Edu e Rutênio confirmaram a expectativa que havia em torno deles. Disseram o que fazem, como fazem e com quem contam para isso, e ainda transmitiram lições que lhes deu a vida que levam em contato diário com a gente mais humilde das cidades.

Para incentivá-los, Aline Ferreira citou Leonardo da Vince, que criou e fez, mas não viu a melhor parte do que fez, algo que coube à posteridade, que o elevou à condição de gênio da humanidade. Ela resumiu a história do seu pai, Vilmar Ferreira, que, antes de fundar a Aço Cearense, morou na roça, a favela do sertão, onde sua juventude foi moldada.

“Como foi criar o Gerando Falcões, que dá decência às pessoas?”, indagou Aline Ferreira a Edu Lyra, que respondeu, dizendo, com outras palavras, o seguinte:

“Quando você nasce na realidade do barraco, você tem de ir para o sonho. Meu pai foi preso porque assaltou um grande banco, que hoje é patrocinador do Gerando Falcões. É importante valorizar os pequenos começos. Eu tive o melhor desses começos”.

Em seguida, ele aconselhou o atento plenário: 
“Tenham uma cabeça de negócios e um coração social, pois isto são boas sementes de árvores que dão bons frutos. Mas façam isto antes que Marte seja colonizado”.

Aline Ferreira cutucou Rutênio Florêncio:

“Por favor, calibre o trabalho social”, sugeriu.

Rutênio, tão exuberante na fala quanto seu colega paulista, declarou-se “extremamente nervoso, mas feliz, pois eu queria ser como o Edu Lyra, e hoje estou aqui ao lado dele”. E contou que o seu Pensando Bem – que executa projeto social semelhante, nos objetivos, ao do Gerando Falcões – cresceu na favela Inferninho, no bairro Vila Velha, em Fortaleza, mas agora expande-se muito rápida e eficientemente, graças ao apoio que lhe dá o Somos Um e seus vários negócios de impacto social e ambiental. 

Aline inquiriu Edu Lyra sobre como ele identifica os Rutênios (os líderes) nas seis mil favelas nas quais atua o Gerando Falcões, e a resposta veio assim, mas com outras palavras:

“A nossa grande força está no ecossistema de apoios em que todo mundo aprende. Investimos em centenas de líderes nas favelas, criando negócios sociais. Reparem: conheci hoje, há três horas, aqui em Fortaleza, um Prêmio Nobel da Paz, o Muahmmad Yunus. Não o conheci no eixo Rio-São Paulo, mas aqui no Ceará, onde uma nova economia, a economia social e ambiental, está prosperando, e por isto ele está aqui hoje. O Yunus faz isso. Ele palmilha um caminho que vai além da filantropia. Eu viajei pelo mundo em busca de uma solução. Impressionaram-me a colombiana Medelin, que foi a cidade mais violenta do mundo, e a asiática Bangladesh, que foi o país mais pobre do planeta. Não são mais. A nova economia, a economia dos projetos de impacto social mudou Medelin e Bangladesh.”

Edu Lyra encheu os pulmões de ar e acrescentou, com outras palavras, com o assentimento de Rutênio:

“O Gerando Falcões tem mentores e psicólogos para assistir cada família de uma favela. Fazemos pesquisa para ver como vivem essas famílias, e ficamos sabendo que algumas, alegando já recebem o Bolsa Família, resistem ao apelo pela abertura de um negócio de impacto, preferindo continuar sem saberem ler. Mas o nosso trabalho é insistente e persistente, e a maioria das famílias passa a entender que é melhor mesmo ter sua própria renda obtida de um negócio de impacto social.”

Aline Ferreira interveio para transmitir uma boa notícia: mais de 1.500 colaboradores do Grupo Aço Cearense – que tem um quadro de 4 mil funcionários – estão contribuindo com R$ 2, R$ 5 e até R$ 10 por mês para os projetos do Somos Um. Foi aplaudida.

Nesse instante, o CEO da Minalba Brasil, Aélio Silveira, foi chamado ao palco para transmitir uma novidade: sua empresa, integrante do Grupo Edson Queiroz, lançou um produto especialmente voltado para o Pacto Global da ONU no Brasil. Trata-se de uma embalagem da água mineral Minalba criada para contribuir com os projetos voltados para os negócios de impacto.

Segundo Aélio, 100% do lucro da venda dessas embalagens serão destinados ao Somos Um, que os utilizará no financiamento dos negócios de impacto.

No final, Edu Lyra disse, solenemente: 

“Neste mundo, o bem e o mal andam muito perto. Mas podemos criar um mundo sem pobreza. Podemos mandá-la para o museu, e esta é a nossa meta.”

O auditório, de pé, aplaudiu Edu, Lyra e Aline.

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