Combater desertificação com cajueiro é jogar dinheiro fora

Consultor em agropecuária afirma que planta do caju só vinga em solos profundos. Em Irauçuba, por exemplo, é impossível nascer cajueiro. E mais: Um debate sobre o Livre Mercado de energia

Legenda: O cajueiro -- anão precoce ou de copa larga -- só vinga em solos profundos. No cristalino, a planta não se desenvolve
Foto: Diário do Nordeste - Arquivo

Prossegue a polêmica em torno do que disse na Cop17, no Egito, o secretário Executivo da Casa Civil do Governo do Estado, economista Célio Fernando, segundo quem o processo de desertificação da área da Caatinga cearense só não é maior porque a Secretaria do Meio Ambiente (Sema) executa ações que a minimizam, entre as quais a ampliação das áreas de preservação ambiental. Os empresários da agricultura disseram desconhecer essas ações. 

Ontem o empresário Antônio Lúcio Carneiro, sócio majoritário e CEO da Resibras, grande produtora e exportadora cearense de castanha de caju, pôs sua colher de pau na panela de pressão do debate, afirmando que, para conter a desertificação, uma das soluções é plantar cajueiro anão precoce. E o mundo desabou.

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Empresários agropecuaristas e, também, consultores nessa área estranharam a sugestão de Lucinho Carneiro, alegando que o cajueiro só é possível de ser cultivado em terrenos de solo profundo, ou seja, onde as raízes da planta alcancem a água de que necessitam para desenvolver-se. 

Um consultor, com formação superior em agronomia, disse que 97% da geografia do Ceará estão no semiárido. Desse percentual, 47% localizam-se em solo cristalino, “onde a planta não cresce”. Resumindo: nessa área, plantar cajueiro é jogar dinheiro fora, porque, simplesmente, a planta não se desenvolve.

A mesma fonte acrescentou que solo profundo, próprio para o cultivo do cajueiro anão precoce, só existe, no Ceará, nas proximidades do litoral. E, para tornar mais compreensiva a sua tese, o consultor falou assim:

“Se você viajar de automóvel daqui para o sertão, saindo de Fortaleza em direção, por exemplo, a Icó, reparará que o cajueiro estará presente nos primeiros 100 quilômetros da viagem. Até Russas, mais ou menos. Depois daí, o solo, que era profundo, fica raso, porque começa a aflorar o cristalino, onde a cajucultura não tem condições de existir. Plantar cajueiro anão precoce em Cascavel, Beberibe, Acaraú, Paracuru, enfim, nas áreas do litoral, cujos solos são muito profundos, é uma coisa. Mas plantar cajueiro de qualquer variedade em qualquer lugar de Irauçuba – na cidade ou na zona rural -- será um ato suicida, do ponto de vista econômico, pois todo o solo daquele município é cristalino, sendo uma das manchas de desertificação do Ceará”.

Confrontando com o que disse Antônio Lúcio Carneiro, o consultor lembrou que a africana Costa do Marfim não tem Caatinga, razão pela qual “lá podem conviver o cajueiro anão precoce e o cacau, ambos exportados, gerando bilhões de dólares para a economia do País”. 

O consultor sugeriu que a Faec e a Fiec reúnam no mesmo auditório, para uma troca de ideias, os que no governo falam sobre o processo de desertificação da Caatinga cearense, os empresários da agropecuária, que estão permanentemente produzindo no campo, e os técnicos da Embrapa Agroindústria Tropical, com sede em Fortaleza, que dominam a tecnologia do cajueiro anão precoce. 

“Uma reunião assim poderá explicar, cientificamente, por que não há cajueiro antigo ou anão precoce nos sertões de Quixadá e de Quixeramobim, por exemplo”, sentenciou o consultor, que acrescentou uma informação:

O Ceará tem hoje uma área de 272 mil hectares plantados de cajueiros, dos quais 100 mil hectares são cultivados com a variedade anã precoce, criada e desenvolvida pela Embrapa.
 
Um dos motivos da baixa produtividade da cajucultura cearense é a desobediência dos produtores, que não seguem as orientações técnicas da Embrapa, entre as quais a de que é necessário fazer, anualmente, a poda da árvore do cajueiro anão. Onde isto acontece, a produtividade “é muito alta”. Onde não acontece, “a produtividade é baixa, é franciscana”.

 Por fim, o consultor ensinou:

“Se você quiser saber a qualidade do solo, não olhe para ele, mas para as árvores que estão lá. Se elas forem raquíticas, é sinal de que o solo é pobre, raso, assentado sobre o cristalino. Se as árvores tiverem troncos grossos, robustos, é sinal de que o solo é profundo, do jeito que o cajueiro gosta”.

UM DEBATE SOBRE O MERCADO LIVRE DE ENERGIA

Vem aí, no próximo dia 29, na Fiec, a 20ª edição do “Energia em Pauta”, evento promovido pelo Sindicato da Indústria de Energia (Sindenergia) do Ceará. Ele debaterá sobre o Mercado Livre de Energia e reunirá representantes das seis empresas associadas ao Sindenergia, as quais atuam no mercado livre de energia – 2W Energia, Elétron Energy, Kroma Energia, Soma Energia, Tendência Energia e Vessel.

Para o Mercado Livre de Energia estão correndo grandes, médias e pequenas empresas do país. Trata-se de um mercado em pleno crescimento capaz de proporcionar mais economia, mais competitividade e mais previsibilidade para as empresas.

No Ceará, as grandes empresas industriais e comerciais já aderiram ao Mercado Livre, o que tem resultado na redução da conta mensal de energia elétrica.