Falas de Lula causam um dia complicado no mercado financeiro

Díolar chegou a R$ 5,54, mas fechou a R$, 5,39. Dólar, que subiu muito, encerrou o pregão com recuo leve de ),49%. E mais: economistas tucanos mandam carta ao presidente eleito

Legenda: Três economistas tucanos mandam carta ao presidente eleito, preocupados com a política econômica do futuro governo
Foto: Shutterstock

Ontem, para a economia, principalmente para o mercado financeiro, foi um dia que podemos chamar de esquizofrênico. 

A Bolsa de Valores, que abriu em queda forte e se manteve assim por boa parte da quinta-feira, fechou com recuo leve, de 0,49%, aos 109.702 pontos. 

O dólar, que na abertura dos negócios bateu em R$ 5,54, fechou cotado a R$ 5,39. 

Resumindo, houve pura especulação nos pregões da Bolsa de Valores B3 e nas negociações com o moeda norte-americana. 

Veja também

Todo esse sobe e desce teve a ver com mais repercussões sobre o que disse na Cop27, no Egito, o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, para quem não adianta pensar apenas em responsabilidade fiscal, mas em responsabilidade social, e desdenhou o teto de gastos, que, na sua opinião, precisa de ser furado para permitir o aumento da ajuda do governo à população mais pobre.
 
Imediatamente, os economistas Pedro Malan, ex-ministro da Fazenda; Pérsio Árida, ex-presidente do Banco Central; e André Lara Resende, principal estrela do Plano Real, que pôs fim à inflação e estabilizou a moeda brasileira, publicaram uma carta aberta, dirigida ao “Caro Presidente eleito Lula”, na qual afirmam que “não dá para conviver com tanta pobreza, desigualdade e fome aqui no Brasil. O desafio é tomar providências que não criem problemas maiores do que os que queremos resolver”.
 
Eles dizem ainda: 

“Uma economia depende de crédito para funcionar. O maior tomador de crédito na maioria dos países é o governo. No Brasil o governo paga taxas de juros altíssimas. Por quê? Porque não é percebido como um bom devedor. Seja pela via de um eventual calote direto, seja através da inflação, como ocorreu recentemente”. 

Os três economistas acrescentam: 

“O mesmo receio que afeta as taxas de juros afeta também o dólar. Imaginamos que seja motivo de grande frustração ver isso tudo. Será que o seu histórico de disciplina fiscal basta? A verdade é que os discursos e nomeações recentes e a PEC (proposta de emenda à Constituição) ora em discussão sugerem que não basta. Desculpe-nos a franqueza. Como o senhor sabe, apoiamos a sua eleição e torcemos por um Brasil melhor e mais justo. 

“Quando o governo perde o seu crédito, a economia se arrebenta. Quando isso acontece, quem perde mais? Os pobres! O setor financeiro recebe juros, sim, mas presta serviços e repassa boa parte dos juros para o resto da economia, que lá deposita seus recursos”.

Logo após a divulgação dessa carta, surgiu a notícia de que o ex-ministro da Fazenda do governo da presidente Dilma Roussef, economista Guido Mantega, deixou a equipe de transição do futuro governo Lula. A causa foi a péssima repercussão que a inclusão do seu nome teve junto ao mercado.

Para os analistas, isso quer dizer que a equipe econômica da ex-presidente Dilma, da qual fez parte também o economista Nelson Barbosa, ex-ministro do Planejamento, que está na equipe de transição do futuro governo, perdeu influência na composição da próxima gestão federal. E o mercado reagiu bem a isso, fazendo o dólar descer e a Bolsa reduzir suas perdas ao final das negociações de ontem.

Como esta coluna sempre diz, e o repete agora, o mercado financeiro vive da especulação. Qualquer declaração de uma autoridade do governo causa um problema, principalmente quando essa autoridade é o próprio presidente da República. Assim, o presidente eleito agirá melhor se deixar para seus assessores em economia a tarefa de falar sobre economia. 

Mas o presidente eleito, assim como o atual, Bolsonaro, fala do que o seu coração está cheio, sem ligar para as consequências que suas palavras causem ao chamado mercado. 

Para terminar: ontem, finalmente, saiu uma boa informação da equipe de transição: o economista e ex-senador Aloizio Mercadante disse que o futuro governo pode rever a política de renúncia fiscal. 

Hoje, o governo da União tem renúncias fiscais que somam R$ 350 bilhões, o dobro do que precisará o presidente eleito para bancar o valor de R$ 600 mensais do Bolsa Família. 

Já está na hora mesmo de dar um freio de arrumação nessa política de renúncia fiscal, que, em vários casos, já é dispensável.