Com energia elétrica, Ceará dobrará produção de frutas, grãos e fibras
Empresários da agropecuária cearense não têm dúvida do potencial de produção das Chapadas do Apodi, Ibiapaba e Araripe. Enel diz que segue investindo.
Se a Enel fizer investimento que assegure o fornecimento de energia elétrica com tensão estável, o que hoje não existe na região, a Chapada do Apodi, sozinha, dobrará a produção agrícola e pecuária do Ceará, incluindo hortifrutis, grãos e fibras. Eis a conclusão a que chegaram 22 empresários da agropecuária cearense, que ontem se reuniram para debater “problemas angustiantes” que os castigam há algum tempo. Eles disseram – e este colunista anotou – que o clima e o solo do Apodi “são presentes divinos que precisam de ser aproveitados em benefício da economia do Ceará e de sua população”.
Um dos empresários presentes à reunião revelou que, por falta de energia na Chapada do Apodi, está produzindo apenas um quaro do que poderia produzir em condições normais, ou seja, se a energia fornecida pela Enel fosse estável, isto é, sem as intermitências causadas pela instabilidade da tensão, “o que é comum e recorrente na Chapada”, como contou um pecuarista com fazenda de produção naquela rica região.
Outro empresário disse que usa, na sua fazenda, pivôs centrais para a irrigação de áreas plantadas de soja e algodão. “Esses pivôs estão constantemente paralisados pela queima dos seus equipamentos, e o motivo é a constante oscilação da tensão da rede elétrica”, disse ele.
Na Chapada do Apodi há fazendas que produzem banana, algodão, soja, milho, sorgo, palma forrageira, capim e outras culturas, usando a irrigação por gotejamento com água captada do rio Jaguaribe em uma pequena barragem localizada bem diante da cidade de Limoeiro do Norte, ou de poços profundos. Há outras fazendas que usam somente a água da chuva, ou seja, desenvolvem suas culturas em regime de sequeiro.
Esta coluna ouviu o presidente da Enel, engenheiro José Nunes, que reafirmou que sua empresa está fazendo, neste momento, grandes investimentos não só na área da Chapada do Apodi, mas em todo o Leste do Ceará e em outras regiões, para garantir energia estável para o incremento de sua produção agrícola e pecuária. Já foram inauguradas algumas novas subestações, enquanto outras estão sendo instaladas, ao mesmo tempo em que são construídas novas e reforçadas antigas redes de distribuição de energia.
“Estamos trabalhando muito para assegurar energia elétrica para o desenvolvimento econômico de todas as regiões do Ceará”, disse José Nunes. Ele está ciente, por exemplo, de que a Chapada do Apodi promete muito mais.
Na semana passada, quatro técnicos da Embrapa e do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper) visitaram algumas fazendas de lá como primeira providência destinada à implantação de um projeto da Federação da Agricultura e Pecuária (Faec), que pretende fazer do Ceará um polo produtor de café. Os pesquisadores – segundo depoimento do presidente da Faec, Amilcar Silveira – ficaram encantados com o clima e o solo da Chapada do Apodi, que são propícios para a cultura cafeeira, do mesmo modo que o são os da Chapada da Ibiapaba, onde os mesmos pesquisadores estiveram.
“O futuro próximo da agropecuária cearense está no Apodi, na Ibiapaba e na Chapada do Araripe, onde já se provou que, em se plantando, tudo dá”, como disse à coluna o agroindustrial Raimundo Delfino, que cultiva algodão e soja no Apodi e é um entusiasta dos projetos da Faec. Na sua opinião, dentro de cinco anos, “ou menos, aquelas três regiões serão, por exemplo, grandes polos produtores de hortifrutis, com produtos de valor agregado”.
O secretário Executivo do Agronegócio da Secretaria do Desenvolvimento Econômico (SDE), agrônomo Sílvio Carlos Ribeiro, que é também presidente da Associação Brasileira de Irrigação e Drenagem (Abid), pensa da mesma maneira, confirmando que, em janeiro de 2026, técnicos da norte-americana Emco Cal iniciarão os testes para identificar que variedades de berries (morango, amora, fambroesa e mirtilo) melhor se adaptam ao clima e ao solo da Chapada da Ibiapaba.
De acordo com o secretário Sílvio Carlos Ribeiro, essas pesquisas também serão feitas nas Chapadas do Araripe, no Sul, e do Apodi, no Leste do Estado. Resumindo: o Ceará poderá ser, igualmente, um polo produtor de berries (o Peru exporta mais de US$ 2 bilhões em mirtilos). A produção dessas frutinhas é feita sob estufas, ou seja, utilizado a tecnologia da cultura protegida, usando pouca água (irrigação por gotejamento), algo já largamente em uso pelos produtores rurais da Ibiapaba, onde já foram instaladas o equivalente a 600 hectares de estufas.
Retomando o começo deste texto: os agropecuaristas cearenses, apear dos problemas causados pela intermitência da tensão da rede elétrica da Enel na Chapada do Apodi, mantêm o otimismo quanto ao futuro promissor do agro do Ceará.
“Não tenho dúvida: esse futuro está à vista, e ele está chegando mais rapidamente do que imaginávamos há cinco anos. E isto é fruto dos investimentos privados e da boa relação do setor produtivo com o governo do Estado”, disse Amílcar Silveira.
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