Ceará já tem mais de 2 mil fazendas de criação de camarão

A atividade tem atraído a atenção de pequenos produtores, que estão trocando a agricultura pela carcinicultura. O Reino Unido poderá abrir seu mercado para o camarão do Nordeste

Legenda: A carcinicultura do Ceará tem avançado em alta velocidade e já tem mais de 2 mil fazendas de criação
Foto: Divulgação

Cresce a carcinicultura no Ceará, principalmente na região do Vale do Jaguaribe, com foco em Morada Nova, Jaguaruana e Aracati. Neste momento, segundo revela a Federação da Agricultura e Pecuária (Faec), há 2.056 fazendas de criação de camarão – a maioria de pequenos produtores – em pleno funcionamento na geografia cearense.

E a tendência é de que esse número cresça mais ainda, segundo estima Cristiano Maia, presidente da Camarão BR, entidade que congrega os maiores carcinicultores brasileiros, 90% dos quais são do Nordeste, região que responde por 95% da produção nacional.

Por que cresce em tão alta velocidade a carcinicultura no Ceará? Cristiano Maia – que é o maior criador de camarão do país – tem várias respostas à pergunta, mas ele destaca uma pela importância que ela encerra: pequenos agricultores trocaram a enxada do roçado pela nova atividade, que, embora exija muito trabalho e permanente cuidado com a criação, tem um retorno maior e bem mais curto.

Maia tem razão. Em Morada Nova, por exemplo, onde havia um mal planejado e mal executado perímetro de irrigação, há hoje grandes tanques nos quais os camarões são criados. A Associação Cearense dos Criadores de Camarão ajuda os pequenos produtores, prestando-lhes assistência técnica, e essa ajuda tem sido importante para o crescimento da carcinicultura no Vale do Jaguaribe.

A cearense Samaria Camarões, maior empresa da carcinicultura do país, com fazendas de criação em Beberibe e Paraipaba, no Ceará, e em Pendência, no Rio Grande do Norte, é a grande fornecedora de larvas para os antigos e novos criadores de camarão no Ceará e nos demais estados nordestinos.

A empresa de Cristiano Maia tem, também, um grande e moderno laboratório, onde se desenvolvem pesquisas para proteger a carcinicultura brasileira contra pragas e doenças, para o que conta com técnicos especialistas nacionais e estrangeiros.

Recentemente, sua Fazenda Potiporã, no vizinho Rio Grande do Norte, foi visitada por auditores do Ministério da Agricultura e Pesa do Reino Unido, que gostaram do que viram. Essa auditagem teve o objetivo de observar se todo o processo de criação, beneficiamento, estocagem e transporte do camarão produzido pela Samaria estão de acordo com rígidas exigências das leis britânicas.

Por todo este mês de novembro, os auditores emitirão um parecer técnico sobre se o camarão produzido pela Samaria está, do ponto de vista fitossanitário, apto a ser exportado para o Reino Unido. Se esse parecer for favorável à importação do camarão nordestino pelos britânicos, a carcinicultura desta região dará um salto não só econômico, mas também social.

E aí as entidades que congregam os grandes e os pequenos criadores terão de unir-se para garantir a manutenção da qualidade do seu produto, hoje consumido em todo o Brasil, principalmente nas suas grandes redes de restaurantes.

BRASIL PERDE EVANDRO TEIXEIRA, O ÁS DO FOTOJORNALISMO

Morreu ontem o melhor e mais premiado fotojornalista brasileiro, o baiano Evandro Teixeira, com quem trabalhei durante 15 anos no Jornal do Brasil e com quem fiz algumas de minhas melhores reportagens impressas.

Com Evandro Teixeira, cobri as enchentes que, em 1974, assolaram a região do Baixo Jaguaribe e a grande seca que castigou o Ceará nos cinco primeiros anos da década de 80 do século passado.

Evandro tinha uma sensibilidade incrível. Lembro-me de uma foto que ele fez na zona rural de Aracati, onde, em 1974, as águas da enchente chegaram a cobrir as casas de alvenaria e destruíram as de taipa. Na cumieira de uma delas, uma mulher e seus dois filhos menores aguardavam, chorando, o socorro de um barco do Corpo de Bombeiros.

Evandro clicou sua Canon e capturou exatamente o momento em que a mulher esticava os braços para transferir das suas para as mãos do bombeiro as duas crianças.

Durante o regime militar, em 1968, Evandro Teixeira ganhou prêmios nacionais e mundiais com uma foto em que dois policiais, de cassetete em punho, açoitavam um estudante na cidade do Rio de Janeiro. O estudante caiu, bateu com a cabeça no meio fio e morreu.

Ele também esteve no Chile, onde, com uma câmara escondida, fez fotos de dezenas de jovens presos políticos atrás das grades do Estádio Nacional de Santiago.

Evandro Teixeira publicou três livros com suas melhores fotos, e uma delas é a que ele fez, ao meu lado, em Aracati.  

Que Deus o receba em uma de Suas moradas.

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