Cajucultura: produtor potiguar ensina que o segredo é o pedúnculo

Embrape elogia os pequenos produtores de caju do Rio Grande do Norte, que entendem do negócio, ampliam suas áreas plantadas, colhem safras maiores, obtêm alta produtividade e põem no bolso um lucro que cresce

Legenda: Gustavo Saavedra (de óculos escuro), chefe geral da Embrapa no Ceará, posa com pequenos produtores de caju sob a copa de um cajueiro anão precoce
Foto: DFivulhgação

Na cajucultura moderna, tal e qual a desenvolvida por pequenos produtores do município de Apodi, no Oeste do Rio Grande, na divisa com o Ceará, todo o foco concentra-se no pedúnculo, que é fornecido à indústria; a castanha ainda não virou produto de segunda classe, mas é armazenada como uma espécie de poupança para ser negociada no tempo certo e por preço justo. 

Este é o novo e lucrativo negócio no qual se envolveram, como protagonistas, agricultores de vários assentamentos norte-rio-grandenses, como informa Gustavo Saavedra, chefe geral da Embrapa Agroindústria Tropical, com sede em Fortaleza, que lhes dá orientação técnico-científica.

Na última semana, durante três dias, pequenos produtores de caju do Piauí, Ceará e Rio Grande do Norte, mobilizados pela Embrapa, reuniram-se em Apodi. E percorreram várias pequenas propriedades – de 10 a20 hectares – todas cultivadas de cajueiro anão precoce e com elevada produção e alta produtividade. 

Nessa imersão, o que chamou atenção do grupo foi o seguinte: para cada 1 quilo recolhido de castanha, recolhem-se 7 quilos de pedúnculo, que é fornecido às indústrias de doce e cajuína, ao preço de R$ 7,50 por quilo, “o que quer dizer que o custo de produzir caju em Apodi é pago com parte da colheita do pedúnculo”, diz Gustavo Saavedra.

Há mais: 70% da produção do pedúnculo vão para a indústria, enquanto os 30% que poderiam perder-se porque caem no chão e aí ficam por vários dias são recolhidos, expostos ao sol e, em seguida, “passando por uma máquina que os próprios pequenos produtores inventaram, transformam-se em ração para o rebanho bovino da região”.

Essa máquina – informa Saavedra – executa o trabalho de 20 homens na tarefa de separar o pedúnculo da castanha, o que contribui, também, para a excelente produtividade desses pequenos produtores. 

“Do jeito que eles fazendo, a conta toda fecha”, acrescenta o chefe geral da Embrapa Agroindústria Tropical, que elogia o “trabalho belíssimo” feito pelo Senar (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural) do Rio Grande do Norte, cujos técnicos acompanham os pequenos cajucultores.

Para Gustavo Saavedra, o que se passa na cajucultura do Rio Grande do Norte – e que poderia passar-se também na do Ceará – é uma autêntica revolução, produto de uma ação do Senar-RN que qualificou como “brilhante e decisiva”. 

Os pequenos produtores rurais envolvidos com a cajucultura do Rio Grande do Norte “entendem do seu negócio, e esta é uma grande diferença, uma enorme a vantagem comparativa”, como disse Saavedra, que foi adiante, falando numa linguagem coloquial:

“Eu e os cajucultores cearenses e piauienses ouvimos dos cajucultores do Rio Grande do Norte o seguinte: cajucultor que não investe na sua cultura é melhor fazer outra coisa. Aí, um produtor do Piauí perguntou aos potiguares: eu quero saber se vocês fazem adubação foliar para caju. O piauiense adiantou: Eu faço quatro, e acho que faço muito, mas meu amigo faz seis e eu acho que faço pouco. E aí o líder da comunidade de Apodi falou assim: vou lhe dizer uma coisa: aqui (em Apodi) nós fazemos adubação foliar semana sim, semana não, e do meu ponto de vista vocês estão jogando dinheiro fora. Se vocês continuarem a fazer só quatro ou seis adubações, o cajueiro continuará passando fome. Na hora em que estamos produzindo muito, precisamos de dar mais comida para o cajueiro, para as plantas. E os piauienses responderam: Quer dizer que vocês fazem 26 adubações? Os potiguares responderam: sim, é isso aí”, contou em detalhes Saavedra, revelando o que parecia ser um segredo.

Os cajucultores do Rio Grande do Norte – acrescentou o chefe geral da Embrapa Agroindústria Tropical – utilizam a genética da Embrapa, “mas isso é só o começo da história, pois se você não tiver um sistema de produção realmente bom, não haverá êxito. Você tem de ter um sistema que use a genética da Embrapa com um sistema de manejo eficiente, que é o que está acontecendo nas pequenas propriedades de cajucultores de Apodi”.

Está na hora de os pequenos produtores de caju do Ceará copiarem os seus colegas do Rio Grande do Norte. Para isso contam com o Senar-Ceará, que é tão ou mais eficiente do que o do vizinho estado potiguar.

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