As dificuldades para os projetos do hidrogênio verde
Faltam compradores dispostos a pagar mais. Sem eles, o H2V não decola, diz Maurício Tolmasquin, um especialista em energia
Maurício Tolmasquim – braço direito de Dilma Rousseff, quando esta foi ministra de Minas e Energia, ex-presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) e, até recentemente, diretor da Petrobras – publicou em seu perfil no Likedin um texto em que, sintetizado, diz o seguinte sobre os projetos mundiais de produção de hidrogênio verde, o do Pecém no meio:
“Sem compradores dispostos a pagar mais, o hidrogênio verde não decola. Este é o ponto central trazido pelo setor privado. Muitos dos potenciais consumidores — siderúrgicas, indústrias químicas, transportadoras — ainda não têm modelos de negócio que absorvam um insumo mais caro, mesmo com menor pegada de carbono.”
Apoiado em informações da Reuters, uma das maiores agências de notícias do mundo, Tolmasquim acentua:
“Em vários países (o Brasil no meio, lembra esta coluna), ainda faltam rotas logísticas seguras, claridade regulatória, mecanismos de precificação das emissões que valorizem o hidrogênio verde e, principalmente, contratos de longo prazo que sinalizem demanda firme (offtakes).” Ou seja, falta muito, ainda, para o sonho do H2V.
Ainda de acordo com Maurício Tolmasquin, “a retração global no H2V nos lembra que tecnologia promissora não é suficiente”, pois será necessário “construir mercado”.
Ele se refere ao Brasil, dizendo o que segue abaixo:
“Temos vantagens comparativas evidentes — fontes renováveis abundantes, energia competitiva e já demos um passo importante com a aprovação do marco legal do hidrogênio de baixa emissão. Mas a regulamentação ainda não veio, e com ela seguem pendentes o detalhamento dos incentivos fiscais, a criação do programa nacional, as regras de certificação e os critérios operacionais. Sem uma estratégia integrada que vá além da lei, corremos o risco de ficar prontos depois que o mercado já estiver formado lá fora.”
São advertências que faz não uma pessoa qualquer, mas alguém que dedica sua atividade profissional ao permanente estudo e análise do que se passa no Brasil e fora dele na sua área do conhecimento: a energia.
Maurício Tolmasquin parece repetir o que fontes desta coluna já disseram aqui sobre o mesmo tema. No seu texto no LinkedIn, ele afirma, sempre sustentado pela Reuters, que publicou no último dia 23 ampla reportagem abordando o tema:
“O hidrogênio verde prometia ser a espinha dorsal da descarbonização em setores como indústria pesada, fertilizantes e transporte marítimo. Mas a realidade está cobrando seu preço — literalmente. Diversos projetos globais foram suspensos ou cancelados, colocando em risco metas climáticas ambiciosas assumidas por governos e empresas.”
No caso do Ceará, a australiana Fortescue e a brasileira Casa dos Ventos, empresas com projetos prontos para iniciar a produção de hidrogênio verde no Pecém, seguem na mesma expectativa, agora agravada pela abrupta questão do tarifaço imposto pelo presidente dos Estados Unidos a todos os produtos brasileiros exportados para o mercado norte-americano, cuja vigência começará na próxima sexta-feira. Essa mesma expectativa mantêm o governo do estado do Ceará e suas parceiras Fiec e UFC.
Todos desejamos que o Hub do H2V do Pecém seja implementado o mais rapidamente possível, uma vez que, pelo menos os dois maiores projetos até agora conhecidos, o da Casa dos Ventos e o da Fortescue, representarão investimentos de US$ 10 bilhões e a criação de milhares de empregos, e é de emprego qualificado de que precisa a economia cearense.
AMARÍLIO MACEDO ACERTA O ALVO
Sócio e presidente do Conselho de Administração do Grupo J. Macedo, o empresário Amarílio Macedo está sugerindo que o governo corte ou reduza o montante das isenções fiscais, que hoje representam um Pão de Açúcar de R$ 587 bilhões. Esta coluna tem dito a mesma coisa ao longo dos últimos dois anos. Mas, será preciso a contrapartida: o governo terá de, também, reduzir o tamanho do estado brasileiro, extinguindo a metade dos ministérios e os vencimentos e vantagens da elite do funcionalismo público no Executivo, no Legislativo e no Judiciário. Será necessário, também, o fim das emendas parlamentares, uma excrescência que precisa de ser excretada.
Aí, então, o país entrará nos eixos, diminuindo a dívida e seu alto custo de carregamento – os juros. O governo que fizer isso será aplaudido nas ruas, inclusive nas ruas e ruelas das favelas. E reeleito por aclamação.
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