Agro: caminho para o crescimento é o cooperativismo
Um modelo próprio de associativismo que afasta a política e os políticos é a chave do êxito dos produtores rurais da espanhola Huelva
Huelva (Espanha) -- Os pequenos produtores rurais brasileiros, se quiserem prosperar e produzir na ponta tecnológica, devem unir-se em cooperativas de produção ou de comercialização, como o fizeram e seguem fazendo os de Huelva, na região da Andaluzia, na parte mais ao Sul da Espanha, quase na fronteira com Portugal.
Hoje, 37 anos depois de fundada, a Cuna de Platero desenvolve um “modelo cooperativo andaluz”, ou seja, distinto dos demais. Por exemplo: na assembleia geral, um sócio tem um voto, apenas um voto, seja ele quem for. Outro exemplo: seu presidente e seus conselheiros não são remunerados, mas todos os demais executivos, incluindo o diretor-geral e os diretores financeiro, administrativo, de operações e de recursos humanos são todos profissionais selecionados no mercado. E bem remunerados.
Resultado: a Cooperativa Cuna de Platero tem sua própria área de agricultura irrigada, produzindo, principalmente, berries (morango, fambroesa, amora e mirtilo), frutas de alto valor agregado, exportadas para toda a Europa. São 14.300 hectares, sendo 7.500 hectares cultivados de morango vermelho e branco, 4 mil de mirtilo, 2.500 de fambroesa e 300 de amora.
O faturamento previsto para esta safra de 2025/2026 é de 180 milhões de euros, o equivalente a R$ 1,137 bilhão.
Para tornar-se sócio e produtor da Cuna Platero, o interessado, obrigatoriamente produtor rural, tem de pagar uma taxa de matrícula de 18 mil euros. Matriculado, ele passa a receber toda a assistência da cooperativa, principalmente a técnica e tecnológica e a de comercialização do seu produto.
Os 35 integrantes da Missão Técnica e Empresarial da Faec/Senar/Associação Brasileira de Irrigação e Drenagem (Abid) ouviram com grande atenção e rigoroso silêncio as exposições dos principais executivos da cooperativa, após o que fizeram perguntas sobre como é a relação do produtor sócio da cooperativa e a direção da entidade.
A resposta, com outras palavras, foi esta: o produtor produz, colhe e entrega toda a sua produção de berries à cooperativa, cujos funcionários, -- oriundos de 10 países, inclusive latino-americanos, com salário médio mensal de 3 mil euros - a selecionam manualmente e por meio de equipamentos tecnologicamente sofisticados, embalam-na, entregando-a à equipe de comercialização, que a vende no mercado da Europa. Em oito dias, a cooperativa deposita na conta bancária do produtor o que lhe é devido.
Esta relação tem funcionado perfeitamente e não há registro de queixa dos sócios produtores.
Nas cooperativas brasileiras do Rio Grande do Sul, São Paulo e Santa Catarina, esse modelo de gestão é mais ou menos semelhante. E mais: no Brasil como aqui na Espanha, a política e os políticos não metem o bedelho nas atividades da cooperativa, cujos sócios, por meio de sua assembleia geral, decidem o que fazer e quem contratar para as suas funções executivas. Certamente é por isto mesmo que operem tão bem.
A Cuna Platero tem uma parceria firme com a Emconcal, empresa de tecnologia norte-americana com sede na Flórida (EUA), cujos especialistas e cujos laboratórios desenvolvem pesquisas para aprimorar a qualidade genética dos seus berries.
É a Emconcal que fará as pesquisas que identificarão as melhores variedades de berries que serão produzidos na Chapada da Ibiapaba, por cuja região começará o projeto da Secretaria Executiva do Agronegócio da Secretaria do Desenvolvimento Econômico (SDE) do Governo do Estado para tornar o Ceará um polo produtor dessas frutinhas saborosas, altamente consumidas no mundo inteiro, principalmente na Europa e EUA, e... caras.
Maria Carmem Sanchez, doutora e pesquisadora da Emconcal, dirigirá as pesquisas na Ibiapaba. Ontem, ele mostrou ao grupo da Missão Faec/Senar/Abid as variedades que serão testadas no solo ibiapabano, cujo é o ideal para a cultura de morangos, fambroesas, mirtilos e amoras.
O secretário Sílvio Carlos Ribeiro disse ontem à coluna que a Missão Técnica e Empresarial que ele organizou em parceria com a Federação da Agricultura e Pecuária do Ceará (Faec) e com o Senar-CE, “cumpriu todos os seus objetivos, e seus participantes retornam ao Brasil com outra cabeça e com novas ideias quanto à importância da agricultura irrigada, da correta gestão e manejo da água e da necessidade de redução dos custos de produzir”.
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