Acredite! Almeria dessaliniza e consome 230 mil m³ de água/dia

Três usinas, a maor das quais produz 120 mil m³/dia, garante água potável, extraída do Mar Mediterrâneo, para a cidade, cuja população é de 350 mil habitantes. E para a agricultura.

Escrito por
Egídio Serpa egidio.serpa
(Atualizado às 00:02, em 09 de Outubro de 2025)
Legenda: Este oceano de estufas para o cultivo protegido de Almeria é irrigado com água dessalinizada do Mar Mediterrâneo
Foto: Egídio Serpa
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Sevilha (Espanha) - Para começar bem esta coluna, uma notícia que terá repercussão em Fortaleza: cerca de 90% da população de 350 mil habitantes da cidade de Almeria, na Andaluzia, no Sul da Espanha, são abastecidos com água do Mar Mediterrâneo, dessalinizada por três usinas – a de Carboneras, com capacidade para 120 mil m³/dia; a de Campo Dalías, com 97 mil m³/dia; e a de Mar de Alborán, com 13 mil m³/dia.   

Parte dessa água é usada para a irrigação do oceano de estufas da agricultura protegida de Almeria, maior centro produtor e exportador de hortifrutis da Europa. Temos tudo a ver com isto. 

Fortaleza está caminhando para implantar uma usina de dessalinização que terá capacidade para produzir 1 m³ de água por segundo. Por segundo. 

Se os ecologistas cearenses o permitirem.  

Bem, estamos em Sevilha, belíssima cidade que pode ser chamada de capital da Andaluzia, com 1,5 milhão de habitantes, construída à beira do rio Guadalquivir, em cujas margens foram travadas algumas das mais sangrentas batalhas da guerra civil espanhola, vencida pelas forças do generalíssimo ditador Francisco Franco, que governou a Espanha de 1939 até morrer em 1975, quando o país se tornou democrático.  

Ontem, quarta-feira, antes de chegar aqui procedente de Almeria, a Missão Técnica e Empresarial da Faec/Senar/Abid visitou o Perímetro de Irrigação denominado Regable BXII, que tem 14 mil hectares totalmente irrigados e em produção, divididos em lotes de 12 hectares cada um, os quais produzem algodão, arroz, batata e couve-flor, entre outras culturas. 

Toda a área é abastecida por uma barragem de 8 milhões de metros cúbicos de água captada do rio Guadalquivir, que, naquele trecho, mesmo distante 30 quilômetros do mar, sofre os efeitos da maré. Pelo canal principal do perímetro passam 5 mil metros cúbicos de água por dia (o Orós libera para o Castanhão algo como 4 metros cúbicos por segundo e este o mesmo volume para perenizar o Jaguaribe e, através do Eixão das Águas, abastecer Fortaleza), o que que mantém a barragem permanentemente cheia. 

“O que o Regable BXII faz é, exclusivamente, administrar e distribuir, com competência e rígidos critérios, a água da barragem. Os seus mais de 800 irrigantes, satisfeitos com essa operação, mantêm perto de zero a inadimplência do perímetro, ou seja, mantêm em dia o pagamento pelo uso da água, que é ouro nesta região de baixa pluviometria, que é a Abndaluzia”, como explicou David Lozano, um professor doutor andaluz que organizou a programação técnica desta viagem. Ele é amigo do secretário Executivo do Agronegócio da Secretaria do Desenvolvimento Econômico (SDE) do Governo do Ceará, que morou durante um ano em Córdoba e trabalhou junto com Lozano em alguns projetos de irrigação. 

No fim da tarde de ontem, o grupo reuniu-se na Universidade de Sevilha com professores e pesquisadores na área da irrigação. A universidade localiza-se bem no centro da cidade, numa área gigantesca, rodeada de belas e altas árvores e de bonitos jardins. Nessa reunião, os professores apresentaram algumas novidades relativas à produção de arroz irrigado, detendo-se no resultado de suas pesquisas que detectaram estresse por salinidade ou déficit de nutrientes no cultivo do arroz.  

No Nordeste brasileiro, não se produz arroz. No Ceará, até recentemente, produziu-se arroz na região de Iguatu, usando-se a irrigação por inundação, algo irresponsável pelo excesso de água e pela carência dela na região, e sem qualquer justificativa técnica.  

Para hoje, a programação da Missão da Faec/Senar/Abid prevê um dia intenso e cansativo, como o foram os anteriores. Às 7 horas, quando ainda é escuro na Andaluzia e em toda a Espanha nesta época de outono, o grupo se deslocará para Huelva, que fica a uma hora e meia de viagem de automóvel, mais ao Sul do país.  

Lá, todos os 35 integrantes da missão conhecerão a unidade de pesquisa e produção da Emconcal, grande empresa norte-americana com sede em Miami, na Flórida, especializada no desenvolvimento de variedades de berries, que são, por exemplo, os morangos brancos e vermelhos e os mirtilos, que têm a cor azul e por isto mesmo chamados de blueberries.  

Essa visita é uma iniciativa da própria Emconcal, que acaba de celebrar Memorando de Entendimento com o Governo do Ceará para o desenvolvimento de pesquisas que tornem a região da Chapada da Ibiapaba um polo produtor de berries.  

A visita ocupará o grupo durante toda a manhã e parte da tarde, quando se encerrará a sua programação. A viagem de retorno a Fortaleza será amanhã, sexta-feira, 10. 

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