Espanha não crê na adulteração do Brasil e na infecção dos brasileiros
Para os espanhóis, é difícil de acreditar que seja permitido ao crime organização misturar etanol nas bebidas alcoólicas
Espanha assustada com a adulteração do Brasil e a infecção dos brasileiros
Almeria (Espanha) - Acompanhando bem à distância a marcha dos acontecimentos políticos, econômicos e policiais que hoje viram e reviram a vida dos brasileiros, a impressão que fica é de que, tanto pela esquerda quanto pela direita, o Brasil está gravemente adulterado e, como consequência direta, sua população começa apresentar fortes sinais de intoxicação causados, mais uma vez – a centésima nos últimos anos – pela repetição dos casos de 1) desvio de dinheiro de emendas parlamentares; 2) corrupção de R$ 6,5 bilhão no INSS, apurada pela Polícia Federal sem que, até agora, os acusados tenham devolvido o que roubaram dos velhinhos aposentados e pensionistas; 3) altos salários pagos, ilegal e indecentemente, a um grupo extenso de servidores do Poder Judiciário nas esfera federal e estadual; 4) má gestão nos Correios, que de novo estão com um rombo bilionário; e 5) a espetacular e bem urdida atuação do crime organizado, que hoje tomou conta até a Avenida Brigadeiro Faria Lima, o coração do mercado financeiro nacional.
Para os espanhóis com quem esta coluna tem conversado aqui -- professores, doutores, pesquisadores, investigadores, especialistas nos diferentes segmentos da agricultura tecnológica, principalmente a irrigada, objeto da Missão Técnica e Empresarial da Faec/Senar/Associação Brasileira de Irrigação e Drenagem (Abid) -- é difícil de crer no que acontece no que eles chamam de “gigante latino-americano".
Eles chegam mesmo a desconfiar de que não seja verdade o que lhes é narrado por brasileiros desta missão, embora estejam os espanhóis acostumados, também, a casos de corrupção, o mais escandaloso dos quais envolveu o próprio Rei de Espanha, D. Juan Carlos, que praticamente foi obrigado a renunciar ao trono diante de tantas acusações contra ele. Juan Carlos abdicou, e seu filho Felipe VI reina hoje com boa dose de popularidade.
Rememoremos. Tudo no Brasil começou de modo enviesado – desde a chegada da família real portuguesa, quando o escrivão da corte, na primeira carta transmitida da nova colônia, pediu emprego público para um dos seus familiares. Isto virou moda. Ao longo do tempo, as famílias - com raríssimas exceções, e o Ceará tem algumas – apoderaram-se do estado brasileiro, é só ver quais sobrenomes mandaram ou mandam nos estados e nos municípios. Há, neste particular, porém, uma novidade: a chegada de um polvo gigante, concebido, gestado e parido na maternidade da ineficiência do aparato da segurança pública e manipulado por mentes brilhantes voltadas para o crime. Esse monstro está, em alta velocidade, envolvendo e sufocando toda a estrutura formal republicana. E atraindo, pela ameaça física ou pela corrupção, os agentes da Lei. Resumindo: viver tornou-se perigoso.
O que fazer? -- é a pergunta que fazemos todos diante do crescimento dos braços e ventosas desse animal criminoso, que sofisticou a tal ponto suas atividades que hoje ele age naturalmente, sob as barbas do Banco Central, do Coaf, da Receita Federal, da Polícia Federal, da PGR, do STJ, dos Tribunais de Justiça estaduais, do Congresso Nacional, onde já teria representantes, enfim, sob as barbas do que o país tem de mais legal.
O crime organizado parece estar assim organizado para, usando o regime democrático, alcançar o seu objetivo: apoderar-se do poder formal e implantar sua ditadura. Por enquanto, esse plano segue sendo bem executado. Problema: há cisões internas no comando da organização, que se repartiu em facções.
O que mais tememos é a presença ostensiva do crime organizado nas próximas eleições gerais de 2026. Em todas as rodas de conversa de Fortaleza, principalmente nas da área empresarial, o que se ouve, por exemplo, são notícias de que, no município xis e na região ípsilon do Ceará, o crime organizado terá candidato ao Legislativo estadual e federal. Mas que partido poderia conceder legenda a essas candidaturas? Ora, fazer negócio é a arte dos sabidos (não os confunda com os sábios), que, tendo coração, têm medo. E propagar o medo é uma das tarefas das facções criminosas.
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