A Fertilização in Vitro e o custo de produzir leite no Ceará

Um pequeno pecuarista de Maranguape aplaude a Faec pelo programa que desenvolve com o Sebrae, mas adverte: “O que dá leite é o tripé genética, mais alimentação, mais manejo”

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(Atualizado às 08:22)
Legenda: Gervásio Colares, pequeno produtor de leite em Amanari, zona rural de Maranguape, diz que o que dá leite é genética e vaca bem alimentada
Foto: Tiago Colares

Técnico em agropecuária graduado pela famosa Universidade Federal de Viçosa, em Minas Gerais, e com curso de Técnico em Agronegócio ministrado pelo Sistema Faec/Senar, Gervásio Colares é um pequeno produtor rural de Maranguape com fazenda de produção no distrito de Amanari, 50 quilômetros ao Sul de Fortaleza, onde também cria um reduzido rebanho leiteiro que lhe proporciona uma renda mensal “que dá para o sustento da família”, como ele diz à coluna.

Colares – cujo falecido pai, o também agricultor Zé Colares, ensinou-lhe os mistérios da agropecuária – gostou de ler o que esta coluna publicou ontem sobre o avanço do programa Fertilização in Vitro (FIV), criado e desenvolvido em conjunto pela Federação da Agricultura do Ceará (Faec) e pelo Sebrae-CE.

O objetivo exclusivo do FIV, que terá três anos de duração, é o de melhorar a qualidade genética do rebanho leiteiro cearense, e isto já está acontecendo em Milhã e Senador Pompeu, onde, por esse processo, já se registra o nascimento de 91% de fêmeas.

Para Gervásio Colares, o FIV “é uma ideia brilhante que vem sendo executada corretamente e com excelentes resultados, e eu sei disto porque estou sempre nas reuniões da Faec, muito bem presidida pelo Amílcar (Silveira)”.

Mas ele chama atenção para alguns percalços que, na sua opinião, a pecuária do Ceará “enfrenta e segue enfrentando há alguns anos”.

Falando do jeito peculiar de quem vive na zona rural, Colares diz:

“O que dá leite é comida farta, abundante e na hora certa para a vaca. Maquinário agrícola aumenta leite. Arame farpado, também. Porém, quentinhas não aumentam leite e nem o número de filhos por casal. Sabe qual é o caminho para a prática da boa pecuária? É o tripé genética, mais alimentação, mais manejo”.

Ele testa os pulmões, respira fundo e pronuncia a sentença:

“Não adianta ter genética super provada, como é o caso do programa FIV, se não tiver alimento verde para o gado”. Gervásio Colares refere-se à forragem ensilada, algo que já utiliza a maioria das fazendas de produção de leite bovino no Ceará.

Para sustentar seus argumentos e para mostrar que produzir leite nos dias de hoje custa caro, ele dá números ao problema:

“Uma saca de milho custa hoje o equivalente a 40 litros de leite; o preço de uma saca de resíduo de algodão (material resultante do processo industrial de beneficiamento do algodão em caroço) está custando o equivalente a 30 litros de leite; uma saca de farelo de soja custa hoje o equivalente a 60 litros de leite.

“Pois bem: o leite é vendido pelos pequenos produtores diretamente para a indústria de lacticínios ou para os atravessadores a um preço que varia entre R$ 2 e R$ 2,40. Como você pode verificar, a conta não fecha, pois dá prejuízo a quem produz. E para evitar esse prejuízo, o pequeno produtor – e só aquele que não tem atravessador no meio do seu caminho – é obrigado a cortar as despesas de casa.”

Esta coluna tem dito e repetido que investir no Brasil é difícil e que mais difícil ainda é investir no Nordeste. Mas investir na agropecuária nordestina, principalmente no Ceará, é um ato de coragem e bravura. Gervásio Colares não esconde o motivo pelo qual está no agro:

“Estou porque gosto, é a minha vida, foi a vida do meu pai. E vou continuar nela até a hora em que Deus me chamar. Há  muitas dificuldades a enfrentar, mas elas são menores hoje porque o setor ganhou força política pela união de toda a cadeia produtiva, principalmente a união dos pequenos produtores. Assim, sinto-me mais encorajado a enfrentar os obstáculos, inclusive os das prolongadas estiagens”, diz ele, finalizando:

“Acho que a agropecuária do Ceará, que era, politicamente, raquítica havia cinco anos, hoje é outra coisa e a Pecnordeste é a prova do que estou dizendo”.

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