Vera Rubin: novo observatório homenageia uma mulher, supera todos os outros e está aberto no Chile

A cientista forneceu as primeiras evidências convincentes da matéria escura, mudando para sempre a cosmologia

Escrito por
Ednardo Rodrigues producaodiario@svm.com.br
Legenda: Imagem das Nebulosas Trifida e Lagoa na constelação de Sagitário obtido pelo novíssimo observatório Vera C. Rubin
Foto: NSF–DOE Vera C. Rubin Observatory.
Vera Florence Cooper Rubin foi uma renomada astrônoma. Ela nasceu em 23 de julho de 1928, na cidade de Filadélfia, nos Estados Unidos. Desde cedo, demonstrou interesse pela astronomia, observando estrelas da janela de seu quarto e construindo um telescópio com ajuda do pai. Formou-se em astronomia pelo Vassar College em 1948, sendo a única mulher da turma.
 
Ela tentou ingressar na pós-graduação em Princeton, mas foi rejeitada por ser mulher — a universidade só passou a aceitar mulheres no programa de astronomia em 1975. Rubin concluiu seu mestrado em Cornell e o doutorado em Georgetown, onde desenvolveu pesquisas pioneiras sobre a distribuição de galáxias no universo.

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Seu trabalho mais revolucionário veio nos anos 1970, quando, ao estudar a rotação de galáxias espirais, percebeu que as estrelas nas bordas giravam tão rápido quanto as do centro — algo que contrariava as leis da física conhecidas. Essa discrepância só podia ser explicada pela presença de uma massa invisível: a matéria escura. Rubin forneceu as primeiras evidências convincentes de sua existência, mudando para sempre a cosmologia. Ela faleceu em 25 de dezembro de 2016, em Princeton, aos 88 anos, deixando um legado científico e social que inspirou gerações de mulheres na ciência.

Em homenagem à sua contribuição, foi criado o Observatório Rubin, (Rubin Observatory). Ao contrário do James Webb, que é um telescópio espacial, o Rubin é terrestre localizado no Cerro Pachón, no Chile, o melhor país do mundo para observação astronômica devido à altitude e regiões desérticas desfavoráveis para formação de nuvens. 

O projeto conta com um telescópio de 8,4 metros de diâmetro, ou seja: é maior que o James Webb, com 6,5 metros. Além disso, ele é equipado com a maior câmera digital já construída: a LSST Camera, com 3.200 megapixels. Essa câmera é capaz de capturar imagens de altíssima resolução do céu noturno, cobrindo uma área de 9,6 graus quadrados por imagem — o equivalente a cerca de 40 vezes o tamanho da Lua cheia. 

O observatório começou a operar oficialmente em junho de 2025, com a divulgação de suas primeiras imagens científicas. Em apenas sete horas de observação, produziu uma composição de 678 exposições que revelou nebulosas como a Trífida e a Laguna com detalhes nunca antes vistos. Também capturou uma vista panorâmica do Aglomerado de Virgem, contendo cerca de 10 milhões de galáxias. Em apenas 10 horas, o Rubin identificou 2.104 asteroides nunca antes detectados, incluindo sete próximos à Terra — todos sem risco de colisão.

O principal projeto do observatório é o Legacy Survey of Space and Time (LSST), uma varredura completa do céu do hemisfério sul durante dez anos. Seus objetivos científicos são ambiciosos: entender a natureza da matéria escura e da energia escura, mapear cerca de 20 bilhões de galáxias, criar um inventário de asteroides e cometas do Sistema Solar, inclusive ele vai procurar o Planeta 9, explorar objetos que mudam de brilho ou posição como supernovas e buracos negros, e reconstruir a história da Via Láctea. O Rubin também será o observatório mais eficaz para detectar objetos interestelares que cruzam o Sistema Solar.

Com uma infraestrutura tecnológica sem precedentes, o Rubin produzirá mais dados em seu primeiro ano do que todos os observatórios ópticos anteriores juntos. Esses dados serão públicos e acessíveis a cientistas e cidadãos do mundo inteiro, democratizando a exploração do cosmos. O observatório não apenas honra o nome de Vera Rubin, mas também continua sua missão: revelar o invisível e expandir os limites do conhecimento humano.

Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor