Primeira guerra nas estrelas e arma nuclear espacial russa se aproximam

Os EUA não se interessavam pelo espaço até a extinta União Soviética colocar em órbita, em 1957, o primeiro satélite artificial da história, o Sputnik

Escrito por
Ednardo Rodrigues ceara@svm.com.br
(Atualizado às 09:52)
Legenda: Satélite artificial em órbita da Terra
Foto: Shutterstock

Os EUA não se interessavam pelo espaço até a extinta União Soviética colocar em órbita, em 1957, o primeiro satélite artificial da história, o Sputnik. Este satélite era constituído basicamente por uma esfera de metal, quatro antenas e emitia bips que podiam ser ouvidos por qualquer radioamador da época. O satélite dava uma volta na Terra a cada 96 minutos.

O povo americano ficou apavorado e não é exagero. Se eles conseguiram fazer isso com uma bola de metal, poderiam fazer com uma bomba nuclear também. As pessoas saíram às ruas para protestar e o caos tomou conta das cidades americanas. A reação do povo americano ficou conhecida como crise do Sputnik.

Para não ficar atrás dos soviéticos, os EUA criaram a NASA. No início, a agência passou por muitos “perrengues” com astronautas morrendo em treinamento e foguete explodindo sem sair da plataforma em transmissão ao vivo. Pense numa vergonha. 

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Os soviéticos até “frescaram” dizendo que iriam “elaborar um programa para ajudar as nações menos desenvolvidas a chegarem ao espaço”. 

O jogo virou quando John Kennedy prometeu levar o homem em segurança à Lua até o final da década de 60, o que ocorreu quase no fim do prazo, em 1969, (a história também não terminou bem para John Kennedy que foi assassinado em 1963). Quem falou com os astronautas na Lua, direto da Casa Branca, foi o presidente Richard Nixon. 

No último dia 13, o serviço de inteligência dos EUA divulgou que a Rússia está desenvolvendo armas nucleares para usar no espaço. Isso é um perigo não só para a segurança dos EUA, mas para todo o mundo. 

No passado, já foram testadas armas nucleares fora da Terra e o resultado foi a derrubada ou pane de satélites. Em 1967, o Tratado do Espaço Exterior foi assinado por 111 nações, incluindo as duas superpotências da época, se comprometendo a não fazerem uso dessas armas fora do planeta. 

Me recordo que antes da Guerra da invasão da Ucrânia, o exército russo testou um míssil não nuclear capaz de atingir satélites. O resultado após o impacto foi um aumento do lixo espacial. Esse lixo pôs em risco a Estação Espacial Internacional (ISS), inclusive, com os próprios astronautas russos.  

Mas agora o serviço de inteligência norte americano divulgou que a Rússia pretende fazer uso de armas nucleares desafiando o tratado de 67. É provável, uma vez que os satélites das forças armadas americanas têm sido importantes para dar dicas aos ucranianos sobre as posições do exército inimigo. E como Sun Tzu ensina no livro de estratégia mais lido do mundo, a Arte da Guerra, “conhecer a posição do inimigo é fundamental”. 

Outros satélites recorrentemente usados pelos ucranianos são os da Starlink. Quando o presidente da Ucrânia provocou Musk, pedindo ajuda para usar sua internet Starlink, o CEO da empresa respondeu que ajudaria e moveria seus satélites para a região imediatamente.

A rede que dispõe de serviço de internet tem sido uma vantagem na comunicação e no controle de drones. Eles inventaram um drone aquático que era guiado pela internet da Starlink. Me recordo que, no dia que a Ucrânia usaria a internet espacial para destruir uma coluna na ponte da Crimeia, o dono da empresa, Elon Musk, interveio e mandou desligar temporariamente a internet. 

Muito estranho, o Elon Musk que, no início da guerra, chegou a desafiar Vladimir Putin para uma luta corpo a corpo, hoje, se posicionar contra a ajuda à Ucrânia. Muito contraditório. Parece até que está sendo coagido ou tem uma oportunidade de negócios muito boa. E como a economia de Vladimir não vai bem (inclusive quebrou o cofre das reservas de ouro essa semana), a outra opção é a mais provável mesmo. Seria uma ameaça aos seus satélites? 

Como é que uma nação com um PIB menor do que o Brasil, que não consegue manter um simples sistema de navegação, chamado GLOSNASS, que seria equivalente ao GPS, vai ter uma arma espacial capaz de ameaçar os EUA? 

E não ameaça apenas os EUA. Hoje existem mais de 9 mil satélites em órbita que servem, para além do GPS, para comunicação em rádio e televisão, internet (uma parte), monitoramento do tempo e do clima e, principalmente, espionagem. Sem satélites, nosso mundo regride à Idade Média. Geralmente, a queda de um satélite não causa muito risco à população civil, mas 9 mil? E muitos pesando toneladas é realmente preocupante. 

Além dos satélites ocidentais, tem os da China também. Já pensou se a Rússia derruba um satélite chinês? A China tem aliança com a Rússia apenas enquanto tem a oposição aos EUA em comum. Ali, na fronteira entre os dois, as coisas não são amigáveis. Além do mais, a China é uma economia de mercado, mesmo com suas diferenças, seus grandes clientes são EUA e Europa. Lembrando que um pulso eletromagnético gerado por bomba nuclear não derruba apenas um satélite não. Derruba de centenas a milhares. Não é muito difícil a China deixar de apoiar a Rússia. Basta um deslize do Putin.

Há quem suspeite que o serviço de inteligência americano só está divulgando essa informação agora para influenciar a votação na câmara dos deputados sobre o pacote de ajuda à Ucrânia. Claro, se não divulgasse agora, não seria inteligente!

Legenda: Me recordo que antes da Guerra da invasão da Ucrânia, o exército russo testou um míssil não nuclear capaz de atingir satélites
Foto: Shutterstock

Se fosse um jogo de xadrez, estaríamos vendo os primeiros xeques. Falando em xadrez, se não fosse pelos 25 anos de Putin no poder, o presidente da Rússia poderia ser Gary Kasparov, a maior lenda do xadrez internacional e opositor do atual governo. Como todo opositor lá acaba morrendo, ele está exilado em outro país. Inclusive, no momento que escrevo este texto, o maior opositor ao governo Putin, Alexey Navalny, acaba de morrer. 

Particularmente, não tenho nada contra a Ucrânia ou contra a Rússia. Mas torço para Ucrânia recuperar seu território por, pelo menos, três motivos: 

Primeiro, para cada país que pensar em modificar as fronteiras na nossa era saber que enfrentará resistência do mundo organizado. Se a Rússia ganhar, abre precedente para qualquer nação. Veja Nicolás Maduro na Venezuela querendo uma parte da Guiana alegando também motivos históricos. 

O segundo motivo, se a Ucrânia for dominada pela Rússia, o número de bombas nucleares no mundo irá aumentar. A Ucrânia já foi a terceira maior potência nuclear do planeta. Em 1990, o país se desfez do seu arsenal nuclear em troca do seu reconhecimento como país independente. Justo, não? Desta forma, se a Ucrânia não tiver a devida ajuda, nenhuma outra nação se sentirá segura sem uma arma de destruição em massa.

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Por isso, invadir um país que se desfez do seu arsenal nuclear é mais do que uma covardia, é o maior crime contra o futuro da humanidade. E o Putin só pensa em passado? Em sua entrevista a Tucker Carlson ele repetia coisas como: “No passado a Ucrânia era Russia... no passado éramos um só povo, no passado… blá, blá, blá”. Passado é passado. Ele está ameaçando nosso futuro por causa do seu passado!  

O terceiro motivo é que o governo de Vladimir manipula as informações com uso da força, censura jornalistas, os prende sem o mínimo de justificativa. Se ainda estivéssemos em um sistema similar ao russo, eu jamais poderia escrever este texto para vocês!

Óbvio que não há bonzinhos na história, mas o mundo precisa de equilíbrio. É como nas lendas de Dragon Quest, Yu Yu Hakusho e Senhor dos Anéis. Quando uma nação quebrar o equilíbrio, as outras devem se unir para restabelecer a harmonia. E, neste momento, quem quebrou o equilíbrio em campanhas expansionistas foi a Rússia. Veja que Alemanha e Japão já se precipitaram, mas hoje essas nações possuem condutas exemplares no cenário global. Torço para que a Rússia se transforme também e que a Ucrânia, o país atacado, se liberte.

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