Com farofa e diversão, família tem tradição de reunir gerações e montar caravana para acompanhar partos

Já são 10 anos do costume que movimenta unidades de saúde de Fortaleza com alegria, leveza e um amor capaz de transpor barreiras e dar força em um dos instantes mais especiais da vida

Legenda: O parto de Ana Paula Lopes aconteceu em 11 de novembro de 2024, com toda a família reunida, como de costume
Foto: Arquivo pessoal

Sempre falam da dor do parto. Do quanto o processo de trazer uma pessoa ao mundo é difícil. Virou até verbo na boca da rotina – “pari aquele trabalho”. Tem mãe, porém, dedicada a lembrar mais do quanto o nascimento de um filho tem dor, mas sobretudo amor. Satisfação. Há anos uma família de Fortaleza torna essa alegria realidade.

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Esqueça um pequeno núcleo acompanhando os últimos instantes da criança no ventre. Quando os parentes de Ana Paula Lopes se unem, é sempre muita gente no hospital. Tem lanche, farofa, falatório, quase acampamento na unidade de saúde. Tem fotografia, filmagem e uma coleção de olhos observando da janela cada movimento do vir a ser.

Uma caravana, no melhor dos termos. Coisa de 15, 20 pessoas. Carinho transbordando por todos os lados. “Nós realmente somos muito emocionados, achavam que eu era blogueira de tanta gente que tinha lá”, confessa Ana Paula ao lado de Mariana, dois meses de vida. É a primeira filha da advogada após duas perdas gestacionais. Por isso tão esperada, amada e munida desse acompanhamento vip da família.

Legenda: Não apenas o núcleo familiar mais próximo, mas quase todos os parentes compareceram ao parto de Ana Paula Lopes
Foto: Arquivo pessoal

“A gestação da Mariana foi especificamente difícil e aguardada. Tinha muita gente rezando para que desse tudo certo. E ela veio numa segunda-feira, às 22h51. Imaginava que ninguém fosse visitar – era dia de semana, quase 23h, muito tarde. Mas minha família realmente é diferente”, recorda, às gargalhadas, trazendo à tona o 11 de novembro de 2024.

Sim, estava todo mundo, brincadeira atrás de brincadeira, um fuá danado. Ana Paula lembra da inquietação. Não foram as poucas vezes em que pediu silêncio com medo de que fosse expulsa do quarto. Durava pouco o sossego. Logo alguém soltava piada e a galhofa voltava com tudo. Faz parte do DNA: tem turma cuja vida não se contém.

Legenda: Acima, a pequena Mariana e os pais; do outro lado, toda a família acompanhando o parto
Foto: Arquivos pessoais

Pai, mãe, avós, irmãos, esposo, sobrinhos e primas fazem parte do time. Estas últimas têm um chamego à parte. Criadas juntas, são praticamente irmãs. Não à toa, fazem questão de ser presença sempre. A própria ideia de reunir boa parte da família para acompanhar os partos nasceu de uma delas. Quando foi ter o primeiro filho, Carol Benevides pensou em tudo.

“Passei a gravidez todinha falando que eu queria minhas primas no hospital. A gente não sabia que podia esse tanto de gente, mas eu dizia que queria e fiz de tudo pra estar todo mundo lá. Dizia, ‘deem um jeito, fiquem no corredor… Mas eu quero todo mundo comigo’”. Quem ia desobedecer? Articularam-se logo, era feito festa. Faz 10 anos que isso aconteceu.

Legenda: Há 10 anos, o nascimento de Pedro Vinicius, em 22 de outubro de 2014, iniciou a tradição na família
Foto: João Italo

De lá para cá, basta alguma prima anunciar gravidez para os ânimos despertarem de novo. Carol diz que, apesar de experiências totalmente distintas – a de quem assiste ao parto e a de quem efetivamente está tendo a criança – os sentimentos convergem. A certeza de proteção, segurança, cuidado e, principalmente, leveza.

Para as mamães em trabalho de parto, faz toda a diferença. “Acho que eu não conseguiria se não estivesse todo mundo junto”, confessa Carol. “Me senti extremamente forte e empoderada naquele momento porque aquelas pessoas estavam comigo, me dando força, dizendo que ia dar tudo certo. A gente brincou, fez uma oração, entregamos a vida de minha filha nas mãos de Deus e de Nossa Senhora, e foi tudo lindo”, completa Ana Paula.

A passagem do tempo é outro diamante nessa dinâmica. Quem começou participando da turma novinho, hoje já é maior e se emociona de novo com o ciclo de amanhecer existências. Torna tudo mais gratificante e especial. Pedro Vinicius, por exemplo, o primeiro filho de Carol, primeiro foi abraçado por toda a família na hora do parto; depois, acompanhou de pertinho o irmão, Valentim, gritando anunciando vida.

Legenda: A família em diferentes momentos de registro, mas sempre reunidos
Foto: João Italo

Para ele e para todos, não dá para esquecer ficar com ouvido colado na parede do hospital tentando adivinhar o que se passava do outro lado da sala. Ou dezenas de pessoas espremendo-se na vidraça para observar o novo rebento da família na maternidade. Ou as chamadas de vídeo e ligações de quem está longe e não conseguiu ir, sempre tão engraçadas.

Essa intensidade tem nome e parentesco: Libório e Graziela. Avós maternos das primas-irmãs, sempre foram de encher a casa, reunir turma, gostar de ver os cômodos ocupados e barulhentos. Era natural que todos herdassem a mesma energia, a mesma sina celebrativa. E não apenas nos partos, que fique claro. A criança nasce e todo o repertório de conquistas – primeiro aniversário, ingresso na escola, festa do ABC e outros – nasce também.

Legenda: Pedro Vinicius com o irmão, Valentim, estendendo a tradição da família
Foto: Arquivo pessoal

“Mariana tem muita sorte. Ela nem sabe ainda, mas tem uma sorte danada de ter uma família doida que tem a nossa”, vibra Ana Paula. Ao que Carol estica: “Amor é doação. Quando você doa tempo, atenção, afeto para alguém, quando você se doa em presentear ou em ser presente,  é quando você verdadeiramente ama. A gente ser presente e se doar um pelo outro é, pra mim, o que mais tem significado no amor”.

Não se sabe quando será o próximo parto na família. Ainda não há indicativos de quem protagonizará mais uma festa no hospital. A depender da trupe de Ana Paula e Carol, ansiedade, tensão e medo, tudo se dissipará. Já estão prontos. No lugar da angústia, o riso. Na morada da ternura, alguém para receber e acolher. 

É sempre réveillon.

 

Esta é a história de amor da família de Ana Paula Lopes e de Carol Benevides pela vinda ao mundo dos filhos dos parentes. Envie a sua também para diego.barbosa@svm.com.br. Qualquer que seja a história e o amor

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