Casei três vezes, tive sete filhos e, quando todo mundo se reúne, a gente convive em paz

Um homem que amou demais faz com que as diferentes famílias se unam em uma só

Escrito por
Diego Barbosa diego.barbosa@svm.com.br
(Atualizado às 18:02)
Legenda: A grande família de Tom Barros: um sentir imenso, que transbordou para a convivência em paz

Minha mãe é noveleira nata – mas dos folhetins antigos, exibidos no máximo até 2012. Ultimamente, deu para assistir à mesma trama incontáveis vezes. “Chocolate com Pimenta”, “O Cravo e a Rosa” e “Cabocla” disputam um ranking acirrado e diabético. 

Mas os suspiros vêm é com “Laços de Família”. Da abertura à lá Jobim ao recorte cronista do Leblon, tudo a apetece e transborda. E se começo falando desse sucesso de Manoel Carlos é porque a história de hoje tem muito a ver com uma personagem daquela narrativa.

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Alma Flora Pirajá de Albuquerque – como esquecer? – se orgulhava de já ter tido quatro maridos. Mais: gabava-se por já ter enterrado três. “Não sei o que acontece”, lembro certa vez de ouvi-la comentar entre um sorriso irônico e uma taça de champagne. De fato, inexplicável. Sobretudo curioso. Pra gente, que fala e gosta de amar o amor, como mensurar esse sentimento quando vivido assim, de modo romântico entre e para tantas pessoas?

Não fui muito longe para descobrir. Tom Barros, ídolo e amigo, me explicou tudinho. Você deve conhecê-lo e, se ainda não sabe, te digo que ele foi casado três vezes oficialmente – leia-se, uma vez no religioso e três no civil. Também manteve um relacionamento que, embora não tenha chegado às portas do cartório, foi igualmente bonito e marcante.

Diferentemente de Alma, Tom não enterrou ninguém (demos graças a Deus!). Pelo contrário: o que fascina na trajetória apaixonada do meu amigo é o quanto ele foi capaz de conciliar os diferentes amores numa convivência pacífica, serena e não menos intensa. Quatro mulheres, sete filhos e, quando todos se reúnem – todos mesmo – o que sobra é a harmonia.

Legenda: As ex-esposas e a atual de Tom Barros dividem os mesmos espaços e realidades do jornalista
Foto: Thiago Gadelha

“Muitas pessoas me perguntam por que eu consegui manter a amizade com cada uma das minhas ex-esposas, algo que acho fundamental. Digo que, primeiro de tudo, é importante dar às pessoas o direito que elas têm diante de uma separação”. 

Sim, porque é claro que ficam arranhões – atire a primeira pedra quem já rompeu um relacionamento e saiu ileso. Mas, para Tom, quando se é adulto e existe habilidade para evitar que a coisa descambe para um desentendimento profundo, com o tempo compreende-se que fins de ciclo são naturais.

Você casa e, às vezes, o gênio de um é muito mais imperativo que o outro, o comportamento de um incomoda e faz o outro sofrer. Logo, não há mais razão para manter a (des)união. A partir daí, é preciso saber se separar, algo que o meu amigo tirou de letra e está aí, contando a história, cantando aquela canção do Bituca: “O trem que chega é o mesmo trem da partida”.

“Se operar o ódio, o ressentimento e o rancor, é claro que você não vai falar com a outra pessoa mais na frente”, Tom profetiza. Sim, aquela pessoa. Aquela com quem você conviveu por cinco, dez ou vinte anos, de repente se transforma em uma completa estranha, e tudo o que sobra é silêncio e sintoma.

“Precisamos compreender que temos diferenças. Cada um tem um pensar e, na hora que há uma separação, aí é que você tem que pensar bem. Acho que é essencial: se separar com dignidade, com altivez, com respeito, dando à pessoa o que ela tem direito, reciprocamente. O homem para a mulher e a mulher para o homem”.

Legenda: Os filhos de Tom Barros: mães diferentes, mesma união
Foto: Thiago Gadelha

É a fala de um coração que amou quatro vezes, e que sabe ter sido privilegiado. As mulheres com quem Tom esteve – para além de todas as pequenas mágoas, os miúdos ressentimentos que ficam – possuem a virtude de, depois de uma boa conversa consigo e com o outro, superar as questões e saber que o bom da vida é a amizade. Aquela paz de almoço de domingo, sabe? 

E que talvez isso seja o amor – essa coisa indefinida, por vezes indecorosa. Firme, mas escorregadia. Esse não sei o quê que não sei por que deixa a gente não sei como, frase que o meu amigo ouviu outro dia e tomou pra si. 

“O amor eterno? Muita gente pergunta, ‘ele existe?’. Rapaz, existe. Existem pessoas que se amam eternamente. No meu caso, quando gostei das pessoas, gostei pra valer mesmo. Não foi negócio de pouco gostar. Foi um gostar tão imenso que fui pra casamento. Agora, se depois vem o desgaste e as coisas vão mudando, isso acontece. É jogar a bola pra frente”.

O Natal já passou, o Ano Novo acena, e todos eles, do clã de Tom Barros, se preparam para a reunião. Estarão juntos novamente, frutos do amadurecimento do sentimento. Estar com um alguém presume-se primeiro estar-se consigo. Meu amigo precisou entender isso para chegar à orientação: meta a mão na consciência e veja o que você está fazendo para exigir do outro.

“A verdade é que eu consegui a paz entre todos. Isso é o que mais me alegra: a harmonia. O respeito, a admiração. É o que fica. Os ranços, cicatrizes, dores e decepções passaram. Acima dessas coisas, restou algo muito grande em nós – tanto de mim com as pessoas com quem casei, quanto vice-versa”. 

Mamãe assistiria, satisfeita, ao folhetim sobre a vida do Tom.


Esta é a história de amor de Tom Barros e os quatro relacionamentos dele. Envie a sua também para diego.barbosa@svm.com.br. Qualquer que seja a história e o amor.

 

*Este texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor