Você domina a conversa ou está sendo ignorado? Saiba a diferença
Você já saiu de uma reunião frustrado, sentindo que suas ideias foram ignoradas? Ou, quem sabe, já se percebeu falando mais do que ouvindo, sem dar espaço para os demais?
Essas situações são mais comuns do que parecem e podem gerar frustração tanto em quem não consegue se expressar quanto em quem, sem perceber, acaba monopolizando a conversa. Mas será que isso pode ser contornado?
Situações assim são comuns no ambiente corporativo. Profissionais perdem não apenas a chance de apresentar seus argumentos, mas também o brilho e a produtividade. Com o tempo, tornam-se invisíveis e, consequentemente, deixam de estar habilitados para as oportunidades que surgem na organização.
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Já quem adota esse comportamento acaba sendo isolado das rodas de conversa e tem sua reputação maculada dentro da organização. Para lidar com isso, é importante compreender porque alguns líderes ou colegas assumem esse comportamento. Muitas vezes, por trás de uma postura monopolizadora, escondem-se medos, inseguranças ou vaidades.
Quem interrompe ou silencia pode temer perder espaço para a sua capacidade, tenta encobrir falhas próprias ou simplesmente precisa sustentar a imagem de “dono da razão”.
Como resultado, podemos facilmente encontrar projetos que giram sempre em torno do mesmo ponto ou reuniões que têm discussões improdutivas e desabafos fora de hora.
Alguns comportamentos são comuns aos ‘atores de monólogos’. São eles:
1. Interromper constantemente: sob o pretexto de dizer algo muito importante para o que está sendo tratado, não deixam o outro concluir o seu raciocínio. É comum ouvir: “me permita interromper só um momento, isso é muito importante!”
2. Falar muito mais do que escutar: quando estão com o poder de fala se estendem muito, tratam a reunião como um palco ou uma sessão de terapia e não como espaço de troca.
3. Repetir os próprios pontos: reforçam as mesmas ideias diversas vezes para validar sua posição e forçam a concordância dos demais.
4. Desconsiderar falas alheias: não fazem referência ao que os outros disseram, como se não tivessem ouvido. Ou pior, fingem não ouvir e repetem como se o insight fosse deles.
5. Usar tom autoritário: impõem suas opiniões como verdades absolutas. Frases como: vocês sabem muito bem disso! Falo porque estou seguro disso! Tenho certeza de que vocês não querem errar fazendo diferente!
6. Desviar o foco: puxam a conversa para si ou para temas que os favorecem. É comum ouvir: “eu já tinha dito isso, mas ninguém me ouve!” ou “Sempre fui defensor desse ponto!”
7. Exibir vaidade intelectual: citam excessivamente experiências, dados ou conquistas pessoais. Tudo o que ele fez é melhor e mais importante para empresa. Faz isso para que o outro se sinta inferior.
8. Minimizar ou ironizar contribuições: utilizam frases como “isso não é relevante” ou “já tentamos e não funciona”.
9. Falar por cima: este é o comportamento mais frequente. Aumentam o tom de voz para sobrepor quem está falando e, às vezes, até toca na pessoa para forçá-la a parar de falar.
10. Encerrar discussões unilateralmente: concluem com frases como: “então está decidido”, sem validar com o grupo.
Ufa! São muitos comportamentos, e quer saber uma curiosidade? Quem faz isso, às vezes, não percebe. Já ficou tão enraizado em seu comportamento que não consegue reconhecer o que gera nas outras pessoas. Normalmente, veem-se como pessoas que contribuem com a equipe e, às vezes, não são compreendidos.
Como identificar?
Por isso, o primeiro passo é identificar em qual lado da mesa você está. Será que você é a pessoa que constantemente se sente calada ou invisibilizada? Ou, sem perceber, pode estar adotando alguns desses comportamentos e minando a contribuição de outros?
Essa autoanálise é fundamental para qualquer profissional que deseja evoluir em sua liderança. Se você está do lado que acaba minando a contribuição dos outros, reflita: por que faz isso? O que realmente ganha com essa atitude? Reconhecer o comportamento é o primeiro passo para desconstruí-lo.
Uma dica simples, mas eficaz, é organizar os espaços de fala, deixando um tempo específico para discussão ao final de cada exposição. E sempre que sentir vontade de interromper, anote seus pensamentos. Esse gesto permite avaliar se vale a pena falar naquele momento e mostra, muitas vezes, que ouvir pode ser ainda mais valioso.
Se você está do lado de quem sofre com isso, algumas estratégias podem ajudar:
- Planeje sua fala: leve para a reunião pontos objetivos e estruturados. Quanto mais claro e breve, maior a chance de ser ouvido.
- Use a assertividade: frases como “Gostaria de concluir meu raciocínio” ou “Posso terminar antes de mudarmos de assunto?” demonstram firmeza sem agressividade. Outra estratégia é negociar previamente o espaço de fala: “Antes de iniciar, gostaria de pedir que ouçam com atenção e que qualquer intervenção ou pergunta seja feita ao final da minha fala.”
- Busque aliados: combine com colegas para que reforcem sua participação, validando suas ideias em voz alta.
- Registre por escrito: quando não houver espaço, registre sua contribuição em ata, e-mail ou relatório, para que não se perca.
- Dê feedback sem julgamento: converse com seu líder ou colega sobre o que você tem percebido, evitando críticas diretas ao comportamento dele. Uma boa estratégia é falar a partir das suas necessidades. Por exemplo: “Fulano, gostaria de conversar sobre nossa última reunião. Percebi que não consegui concluir meu raciocínio, e isso me deixou inseguro em relação à minha contribuição. Podemos pensar juntos em uma forma de equilibrar melhor os tempos de fala?”
No fim, liderança não é sobre quem domina a fala, mas sobre quem promove o diálogo. E quando há espaço para que todos se expressem, o resultado aparece em decisões mais sólidas, equipes mais engajadas e líderes mais respeitados. Permitir que outras vozes sejam ouvidas fortalece a equipe, enriquece as decisões e aumenta a credibilidade.
Nesta coluna, trarei reflexões sobre carreira, liderança, coaching e tendências que impactam o mundo do trabalho. Sua participação é muito bem-vinda! Comente, envie sua pergunta ou fale comigo pelo Instagram: @delaniasantosds. Aproveite para se inscrever no canal do YouTube: @delaniasantosds. Será um prazer ter você comigo nessa jornada. Até a próxima!