Ressignificar a carreira: redefinindo propósitos na segunda metade da vida
Passar dos cinquenta anos é uma dádiva, principalmente se, ao olharmos pelo retrovisor, tivermos a consciência de todos os aprendizados que a vida nos deu e conseguirmos perceber a jornada profissional que construímos.
O fato é que a segunda metade da vida nos traz também muitas dúvidas, sejam elas pessoais ou profissionais, e quando elas estão ligadas ao que queremos fazer na carreira, junto com as dúvidas, podemos vivenciar a insegurança da idade. Será que ainda há espaço para ressignificar?
Veja também
A insegurança de Mená
Mená, uma mulher de 55 anos, sempre foi uma profissional dedicada. Com uma carreira sólida de mais de 25 anos no setor corporativo, ela começou a sentir algo que a maioria das pessoas na sua idade enfrenta: a dúvida sobre seu propósito.
Apesar de seu extenso currículo e das inúmeras conquistas, Mená começou a questionar se o caminho que trilhou até ali era o que realmente queria continuar percorrendo. Era como se, de repente, o trabalho que antes a motivava, já não trouxesse mais a mesma energia. Ela se perguntava se estava ficando para trás ou se o mercado ainda tinha espaço para alguém com a sua experiência e bagagem.
Mená não está sozinha! Muitos profissionais, ao alcançarem essa fase da vida, deparam com um sentimento semelhante. A pressão do tempo, somada às rápidas transformações no mercado de trabalho, pode gerar uma sensação de obsolescência. Mas será que isso significa que não há mais espaço para um novo capítulo?
O processo de ressignificação da carreira não precisa ser um caminho solitário, tampouco algo que traga medo. Pelo contrário, pode ser uma jornada de redescoberta, durante a qual o conhecimento acumulado ao longo de décadas se transforma em um ativo valioso.
É importante perceber que a maturidade oferece, além de desafios, uma oportunidade ímpar para redefinir propósitos utilizando um olhar mais experiente.
Quais obstáculos devem ser vencidos para ressignificar a carreira?
Ao ressignificar a carreira na segunda metade da vida, é natural encontrar alguns obstáculos. O primeiro deles é o medo da irrelevância, que pode gerar a sensação de que o mercado valoriza mais os jovens e suas habilidades tecnológicas.
Crenças podem virar verdade absoluta em nossas vidas e, sendo assim, se esta crença for alimentada, duvidaremos da nossa própria capacidade, o que nos impedirá de entrar em movimento. Outros desafios incluem:
- Resistência interna às mudanças - uma vez que passou anos em um mesmo campo de atuação, o profissional pode sentir dificuldade de aceitar a necessidade de adaptação. Enfrentar possíveis críticas externas, sejam de colegas, familiares ou até de si mesmo, que questionam se é “tarde demais” para uma mudança significativa, também é necessário.
- Manter-se atualizado em um cenário que muda rapidamente, com novas demandas e formas de trabalhar - a velocidade das mudanças assusta e pode gerar o medo de não ter tempo suficiente para entrar no ritmo do mercado de trabalho, pois há muito o que atualizar. Perguntas como: ‘se tudo está mudando rapidamente e a realidade já está bem distante do que aprendi, terei tempo para conseguir um ‘lugar’ no mercado de trabalho?’ ou ‘conseguirei aprender novos conteúdos?’ ou ‘ainda sou útil para o mercado de trabalho?’ ou ‘ainda há tempo para empreender na minha idade?’
- Falta de flexibilidade para novas oportunidades – é bem complicado admitir que não está apto para assumir uma posição de gestor, por exemplo. Ficar afastado do mercado de trabalho ou não estar atualizado, pode exigir que considere ocupar um cargo inferior ou ganhar um salário menor para entrar no jogo.
- Etarismo - embora seja ilegal estabelecer limites de idade em anúncios de emprego, muitas empresas, seja de forma direta ou indireta, demonstram preconceito etário durante os processos seletivos. Para mudar essa realidade, o foco principal precisa ser nas competências e qualificações dos candidatos e não na idade. Uma pesquisa realizada em 2023, pelas companhias Robert Half e Labora, que atuam na área de recrutamento e inovação, mostra que cerca de 70% das empresas contrataram muito pouco ou nenhum profissional com mais de 50 anos. Na prática, isso representa 5% das novas contratações.
- Subutilização dos profissionais 50+ - ainda há a crença de que pessoas acima de 50 anos estão desatualizadas, são lentas e resistentes a mudanças. São rótulos que incapacitam e marcam vidas. É impensável que isso ainda aconteça!
Por onde começar?
Pense no porquê! Olhe para dentro e reflita sobre o que trará satisfação para a sua vida e está alinhado aos seus valores. Lógico que, para muitos, a necessidade é o propósito principal, e eles estão certos. Muitos profissionais precisam somente recomeçar e, quando suas necessidades estiverem supridas, aos poucos repensar.
Não há nada de errado em aceitar posições com salários menores ou posições diferentes da trajetória profissional, pois cada indivíduo tem uma necessidade específica, e isso deve ser respeitado. Abaixo trago algumas orientações sobre o que você pode fazer para dar o primeiro passo:
- Acredite – a empresa precisa acreditar em você, mas, primeiro, você deve fazer isso! Pense nos seus momentos mais difíceis, aqueles que você superou, e pergunte-se: o que eu fiz para vencer esta crise? Que habilidades utilizei para isso? Seus comportamentos e estratégias nesses momentos falam muito sobre o que você ainda é capaz de fazer. Acredite!
- Identifique e avalie – faça um inventário de habilidades para identificar como elas podem ser aplicadas de novas formas ou em novos contextos. Uma vez atendi uma profissional que tinha mais de 25 anos de experiência em Recursos Humanos em uma única empresa, foi demitida e estava perdida sobre o que fazer. Fizemos um levantamento sobre suas principais competências e sobre o que ela mais gostava de fazer, e descobrimos que sua principal paixão era desenvolver pessoas. Hoje ela é mentora e ajuda profissionais em início de carreira.
- Invista em aprendizado contínuo e redes de apoio - cursos de atualização, mentorias e imersões podem abrir portas para novas oportunidades. Além disso, contar com uma rede de apoio – seja um coach, um mentor ou mesmo grupos de networking – pode fornecer insights valiosos e encorajamento para seguir em frente.
- Considere empreender – a geração prateada surge com força total no empreendedorismo com o crescimento de empresários com idades entre 50 anos e 59 anos (Fonte Sebrae Nacional). Para considerar essa opção, recorra à avaliação de suas habilidades e reflita: o que faço bem e ainda posso ser pago por isso? Essa resposta pode indicar a área em que deve empreender.
- Cuide da saúde mental – lidar com mudanças internas e externas pode gerar ansiedade e dúvidas. Pratique o autocuidado e busque apoio psicológico, se necessário. Manter uma atitude positiva ajuda a navegar nessa fase com mais leveza e clareza.
Lembre-se: o mais importante é começar, mesmo que com pequenos passos, rumo à construção de um novo e inspirador capítulo profissional. Você pode em qualquer tempo!
Nesta coluna, abordo temas relacionados a carreira, liderança, coaching e as principais tendências do mercado. Contribua deixando sua pergunta ou sugerindo um tema nos comentários ou através do meu Instagram @delaniasantosds. Inscreva-se também no canal do YouTube: @delaniasantosds. Será maravilhoso compartilhar essa jornada com você. Até a próxima!