O impacto da solidão e sobrecarga de empresários de pequenas e médias empresas no negócio e na vida pessoal

Legenda: De acordo com o levantamento, 98% dos líderes de PMEs assumem diretamente decisões estratégicas em pelo menos uma área de suas empresas, enquanto 96% chegam a executar tarefas operacionais em uma média de quatro áreas
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Para muitos, o empreendedorismo é sinônimo de liberdade e realização pessoal. No entanto, a realidade dos líderes de pequenas e médias empresas (PMEs) no Brasil mostra uma rotina exaustiva, com responsabilidades que vão muito além de um simples “ser o próprio chefe”. A pesquisa Cabeça de Dono, realizada pelo Itaú Empresas em parceria com o Instituto Locomotiva, revela que a solidão e a sobrecarga estão presentes no cotidiano de quase todos esses empreendedores, com consequências que se estendem à vida pessoal e familiar.

De acordo com o levantamento, 98% dos líderes de PMEs assumem diretamente decisões estratégicas em pelo menos uma área de suas empresas, enquanto 96% chegam a executar tarefas operacionais em uma média de quatro áreas. Com tantas responsabilidades, esses empresários têm pouco tempo para dedicar ao crescimento sustentável dos negócios ou para pensar em inovação. Muitas vezes, acabam absorvendo atividades como a gestão financeira, questões jurídicas, e até operacionais, que poderiam ser delegadas ou apoiadas por profissionais especializados.

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O excesso de tarefas não apenas limita o potencial de crescimento dessas empresas, mas também evidencia a ausência de uma rede de apoio que ajude os empreendedores a enfrentarem os desafios do mercado. Sem esse suporte, o empresário acaba sobrecarregado e, muitas vezes, isolado nas decisões estratégicas, carregando sozinho o peso de manter seu negócio em funcionamento. Esse cenário cria o que chamo de “Dilema do Mirante”: o empresário precisa atuar estrategicamente sem perder a visão das demandas operacionais. O dilema está em quanto tempo dedicar à base (operacional) e ao topo (estratégico). Muitos pensam: “se eu não estiver no operacional, nada funciona, e enquanto não funcionar, não posso focar no estratégico.” No entanto, o mercado não espera pelo momento perfeito; por isso, na maioria das vezes, é preferível algo feito a algo idealizado e não realizado.

Impacto na qualidade de vida do empresário

Essa realidade tem um impacto direto na vida pessoal dos líderes. Com a rotina extenuante, 62% dos empreendedores manifestam o desejo de passar mais tempo com a família, e muitos já enfrentaram problemas de saúde relacionados ao trabalho. A pesquisa aponta que 50% dos líderes de PMEs convivem com o cansaço, 46% se sentem sobrecarregados, e 44% lidam com o estresse. Esses números refletem um ciclo em que a pressão e a responsabilidade prejudicam o equilíbrio entre a vida pessoal e profissional.

Para os pequenos empresários, aqueles com faturamento anual entre R$ 360 mil e R$ 4,8 milhões, esses problemas são ainda mais intensos. Mais da metade (53%) já enfrentou problemas de saúde devido à rotina do negócio, enquanto 63% já passaram por desafios financeiros que afetaram suas vidas pessoais. Esse cenário mostra que o preço do empreendedorismo, especialmente para PMEs, é alto e muitas vezes desgastante.

Caminhos para o equilíbrio

Quebrar esse ciclo de solidão e sobrecarga requer iniciativas que promovam o apoio ao líder de PMEs, para que ele possa se concentrar no que realmente importa: o crescimento e a sustentabilidade do negócio e a própria qualidade de vida. Uma das possíveis soluções é a criação de redes de troca de experiências, onde os empreendedores possam compartilhar suas dificuldades e estratégias. A pesquisa Cabeça de Dono indica que 57% dos entrevistados gostariam de ter mais oportunidades para dialogar com outros empresários, evidenciando a necessidade de espaços de suporte mútuo.

Além disso, muitos empreendedores desconhecem a possibilidade de buscar apoio especializado, ou não se sentem seguros em delegar tarefas. Soluções como consultorias ou programas de mentoria, que forneçam um olhar externo sobre o negócio, podem aliviar o peso das tomadas de decisão e promover uma gestão mais estratégica. Dessa forma, o empreendedor pode se afastar das tarefas operacionais e dedicar mais tempo a questões estratégicas e ao desenvolvimento pessoal.

Para que as PMEs brasileiras alcancem todo o seu potencial e sejam reconhecidas pelo impacto que geram na economia, é essencial que a sociedade – e o próprio governo – ofereçam suporte a esses empreendedores. Com políticas de incentivo e acesso a serviços de capacitação, esses líderes podem não apenas fortalecer seus negócios, mas também manter uma vida pessoal equilibrada, contribuindo de maneira ainda mais significativa para o país.

A mudança de mentalidade também importa

Com certeza! E é o início de toda a jornada! O empresário precisa mudar sua mentalidade, para conseguir olhar o negócio de maneira diferente e realinhar sua postura na gestão. Valorizar o planejamento estratégico, a contribuição de outras pessoas e não se culpar pelos momentos de lazer e bem-estar, são partes essenciais para o crescimento saudável do negócio e para a saúde mental do empreendedor.

Acompanhe as perguntas a seguir e avalie seus próprios hábitos e percepções. Quanto mais sinceras forem suas respostas, mais claro será o caminho para construir um modelo de gestão que equilibre suas prioridades:

1. Como lido com feedback e críticas construtivas?

a. Eu me defendo e justifico minha posição?
b. Ouço atentamente para encontrar maneiras de melhorar?

2. Como vejo a necessidade de delegar?

a. Acredito que, se eu quero algo bem-feito, preciso fazer eu mesmo?
b. Ou reconheço o valor de contar com uma equipe e dividir responsabilidades?

3. O que penso sobre os erros que cometo?

a. Sinto que erros são fracassos ou limitações pessoais?
b. Ou vejo os erros como uma oportunidade de aprendizado?

4. Como reajo aos desafios?

a. Evito desafios para não correr riscos?
b. Aceito novos desafios, mesmo quando saem da minha zona de conforto?

5. Como lido com a ideia de pedir ajuda?

a. Vejo isso como sinal de fraqueza ou perda de controle?
b. Considero pedir ajuda como uma estratégia para melhorar e crescer?

6. Como vejo o desenvolvimento e a inovação na empresa?

a. Penso que os processos e modelos atuais são suficientes?
b. Ou busco constantemente novas maneiras de aprimorar e inovar?

7. Como enxergo o sucesso de outros empresários?

a. Vejo o sucesso de outros como sorte ou como uma ameaça?
b. Encaro o sucesso de outros como uma inspiração e fonte de aprendizado?

8. Quando penso sobre minha própria capacidade de aprendizado e mudança, como me sinto?

a. Acredito que já sei o suficiente e não preciso mudar?
b. Ou acredito que sempre há algo novo a aprender e melhorar?

Das oito perguntas acima, em quantas você assinalou a letra a? Mais de quatro? Se sim, você precisa rever estes comportamentos para abrir espaço para uma postura mais aberta ao aprendizado e a um novo modelo de gestão. Os desafios são muitos, mas, com a mentalidade certa e o apoio adequado, o caminho para o equilíbrio e o crescimento sustentável se torna possível.

Nesta coluna, abordo temas relacionados a carreira, liderança, coaching e as principais tendências do mercado. Contribua deixando sua pergunta ou sugerindo um tema nos comentários ou através do meu Instagram @delaniasantosds. Inscreva-se também no canal do YouTube: @delaniasantosds. Será maravilhoso compartilhar essa jornada com você. Até a próxima!

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