Em 1992, o município de Colônia (Piauí) inaugurou um marco importante na política nacional ao eleger Kátia Tapety, a primeira travesti a ocupar um cargo de vereadora do Brasil. 32 anos separam o fenômeno Kátia das últimas eleições municipais, quando o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) registrou pelo menos 967 candidaturas de pessoas trans, com 27 delas eleitas para o exercício da vereança 2025-2028.
De acordo com o instituto VoteLGBT, no último dia 06 de outubro, 190 municípios de 22 estados elegeram um total de 225 pessoas autoidentificadas como Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis ou Transexuais pelo voto popular, incluindo três para o cargo de chefe do executivo municipal, o que representa 130% de campanhas vitoriosas a mais do que no ano de 2020.
É importante destacar que, com a eleição de Pâmela Nara (Podemos) em Sobral e de Edy Lopes (PT) em Paramoti, o estado do Ceará terá pela primeira vez duas representantes travestis em mandatos parlamentares. Em Fortaleza, duas mulheres bissexuais também foram eleitas para a vereança, Mariana Lacerda (PT) e Adriana Gerônimo (PSOL), que juntas alcançaram a marca de 17.125 votos válidos.
No que tange às candidaturas de pessoas trans no Brasil, o último pleito eleitoral trouxe um fato instigante: de acordo com o levantamento da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), o número de representantes trans eleitas/os diminuiu em relação ao pleito anterior (de 30 para 27), todavia, as candidaturas trans parecem ter se fortalecido e ganhado mais visibilidade entre o eleitorado.
Em 14 municípios brasileiros, as mulheres mais votadas eram trans. Thabatta Pimenta (PSOL), por exemplo, obteve a 6ª maior votação na cidade de Natal (RN) e foi eleita a primeira travesti vereadora da capital potiguar.
Apesar das conquistas recentes, as candidaturas LGBTI+ ainda enfrentam desafios de muitas ordens, obtendo representação em apenas 3,5% dos 5.570 municípios brasileiros em 2024. O levantamento supracitado demonstrou ainda que, para além do aumento quantitativo, uma maior diversidade entre os mandatos de LGBTI+ eleitos também é urgente. Dos três prefeitos eleitos e autodeclarados LGBTI+ eleitos no último pleito, todos são homens cisgêneros gays ou assexuais.
Há um lampejo de esperança quando um grupo social historicamente excluído dos e pelos espaços de poder segue em marcha e dá novos passos na direção de ocupá-los, mesmo enfrentando a violência política imposta pela LGBTI+fobia, pois um sistema de representação política diverso é condição fundamental para o estabelecimento de um regime democrático de fato.
Pense comigo: podemos falar em democracia enquanto sonhar com uma travesti prefeita ou presidenta do país soar irremediavelmente impossível? Se as eleições são “a festa da democracia”, nós também queremos dançar e tocar a música.
*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião da autora.
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