O que estamos procurando no passado de Fortaleza?

Mara Hope, cápsula tempo, a cidade de antigamente… um emaranhado de narrativas a esclarecer fragmentos perdidos no tempo, que também contam as histórias de nós

Legenda: Praça do Ferreira em 1960
Foto: Arquivo Diário do Nordeste

O que tanto buscamos nos resquícios de nossas memórias e das histórias sobre nossos lugares de mundo? Mara Hope, cápsula tempo, Fortaleza de antigamente… um emaranhado de narrativas a esclarecer (ou não) fragmentos perdidos no tempo, mas que também contam as histórias de nós. 

A cidade também somos nós, e vice-versa. 

Nos últimos dias uns idos de passado ressoaram entre nós trazendo uma sensação de que buscamos a todo instante nos reconhecer, nos encontrar, nos encaixar ao território que habitamos, e talvez tão pouco conhecemos. 

Nostalgia? Saudade? Solidão?

O pouco que sei é que muito nos resta, embora tanto mais nos tenha sido renegado ante ao trato com a memória de nós que se perde junto a patrimônios desperdiçados pelo esquecimento e a falta de cuidado. 

Estamos a todo instante sentindo saudade, mas não fomos acostumados a preservar aquilo que não apenas nos conta, mas nos remonta e nos refaz enquanto seres sociais, sujeitos com raízes em universos físicos, simbólicos, místicos os quais atravessamos - esse eterno percurso de vida que nos faz gente. Um ser a cada instante.  

Queremos muito saber sobre o passado porque sentimos falta até de quem poderíamos ter sido não fossem alguns percalços de vida. E se… Estamos ávidos a descobrir as raízes de nós mesmos presentes feito rizomas entrelaçados à concretude do território que habitamos. 

Como era tudo aqui? Onde eu estava quando…? Quem eram nossos antepassados? Onde pisaram? O que sentiram? De onde viemos todos? 

Cidade visível, palpável, e também memorável. Uma paisagem exposta e expressa ao que somos, ao que nem éramos ainda, mas que influi absolutamente para aquilo que ainda vamos ser. Viver. Estamos (e somos) também sob as influências do território que experimentamos dia a dia. Por isso remontamos memórias de tempos atrás.  

Essa memória é cenário, personagem e cronologia na narrativa que nos define. Não há como separar porque vive e cresce no vazio das saudades que sentimos, da vontade insaciável que nos faz implorar ao tempo mais e mais tempo. 

Não queremos apenas saber mais sobre o que a cidade já foi, como era, onde estava há tempos atrás, buscamos suprir as saudades das paisagens rumo ao parque do bairro vizinho, da calçada de conversa fácil, do riso solto dentro do muro da escola que já não existe mais. A lembrança da cidade caminhante e saboreada pelos gostos e cheiros de meio de rua.  

Além da busca por nós mesmos, o que tanto estamos procurando ao cascaviar o passado de Fortaleza? Também queremos reaprender a contar-nos? Repassar os marcos de nossa história a ponto de tentar nos reconhecermos? Redescobrir-nos praticamente todos os dias.

A tarefa é contínua porque não é fácil saber quem estamos…