Como é bom festejar, estar entre os parentes, amores, amigos. Eu quero, todos queremos. Mas pensar em grandes eventos com públicos incontáveis e sem nenhum tipo de monitoramento neste momento seria deixar para trás um passado que, sim, continua entre nós.
Feito eco nos nossos ouvidos, sonho impregnado em noites que parecem repetidas, a pandemia transformou nossos tempos em contagens de dias, episódios e até demandas sem referência nenhuma. Mas com muitos temores ainda.
Tanto é que nos esquecemos do mês que estamos porque as datas frequentemente comemoradas já estão dispersas entre nós; os dias-limites não são os mesmos, e os parâmetros de tempo e espaço até se confundem desde quando tivemos que aprender a reinventar as rotinas. E quem somos.
Sim, muitos estamos vacinados contra a Covid-19, felizmente. E queremos celebrar, desde que com limites pautados em sensibilidade e empatia. Pois muitos ainda estão aos pedaços, sofrendo a perda de entes queridos levados pela pandemia ou mesmo amargando sequelas da doença que, no meio de nós, ainda deixa suas marcas.
Tantos entre nós sofrem os efeitos de um vírus que atacou corpos, mentes. Mas feriu também de morte ideias, esperanças, sonhos e metas de vida. Em sentidos que são concretos, em sentidos que são simbólicos. A saúde mental não é a mesma, ou piorou suas próprias pioras. Ainda há pessoas doentes, internadas. Gente aos prantos.
Sabemos que outros viéses da vida se sustentam frente a esses 2 anos sem grandes eventos. Não são apenas os sorrisos, abraços e cantares perdidos. Lamentamos, sim, as cargas de empregos afetadas, as famílias também despedaçadas pela fome. Que haja saídas de vidas, não de mortes.
Mas, hoje, pensar em uma festa pública e aberta, sem nenhum monitoramento, como evento oficial, legitimado, para celebrar o Réveillon em Fortaleza, em cidades do Ceará, por exemplo, seria também como se estivéssemos nos esquecendo dos lutos ainda abertos e vivos, de quem em breve não irá celebrar seus dias junto a quem se foi ou ainda tenta juntar seus cacos diante dos golpes da Covid em nós. Sim, em todos nós.