Acompanhei pouco o trabalho de Elza Soares.Cantora e compositora negra brasileira. Referência não só na música, mas em toda a história e memória que as canções de vida representam pra um país, entre tantas gerações. Mas a mulher Elza sempre me instigou a imaginar até onde (e quando) eu posso ir na vida.
Não tenho domínio em detalhes de sua obra. Gosto do que sua voz canta, e esbraveja. Mas, para além de admirar e respeitar muito o seu trabalho, Elza sempre acendeu em mim uma inspiração: embora já não andasse, a certeza de estar de pé até o fim.Em plena produção. Nos círculos latentes de vida e arte. De resistir enquanto persiste. De não calar quando machuca, a si, aos seus, ao seu redor.
Hoje, não é só a voz de Elza que vibra em meus ouvidos, é a carga de vidas inteiras que bate no meu peito quando eu vejo ou ouço suas canções. Mulher para além do fim do mundo, início de tudo. É inquietante demais olhar para ela. Emociona. Sempre me deu esperança de que a vida continua. E continua. E e a gente permanece de pé, apesar dos nossos pesares.
Fecho os olhos e vejo que Elza continua igual aqui dentro de mim. Uma mulher que posava belíssima, de calça apertada em tons de couro brilhante, cabelo arrebitado, de jeitos tantos, que me fazia saltar até a alma. Uma senhora gigante, que tenho aqui como alguém de história infinita, entre discursos e canções de amores e dores, de tantos quantos mundo afora. De atrevimento incansável, e acolhedor.
E quantas vezes vi Elza ainda de pé e imaginei que ela doía e sorria ao mesmo tempo. De olhar espremido, latejava em tantas vertentes. Mas entoava a tantos o seu mundo, tão necessário de ser. Porque Elza gritava a nossa voz, pra um mundo que, se hoje nos oprime, tanto mais esmagava há tempos atrás. Não dá pra contar os anos de Elza entre idos de uma idade, porque a sua trajetória cantou demandas de dilemas que atravessam feito faca cortante gerações e corações.
Aos 91 anos, Elza findou o 2021 cheia de planos. Tinha compromissos, agendas e apresentações para 2022. Inclusive para este nosso incansável janeiro. Como se voz e coração também incansáveis pulsassem dentro da artista. Como se teimasse com o tempo cronológico e social da vida. Quero ser como Elza. Para sempre de pé. “Até o fim cantar”, como dizia sua voz. Cantar seja qual for a minha expressão de vida.
Deu certo pra ela! Inspiração. Mente viva em corpo. Por aqui, também penso, e planejo, e persisto ser feito Elza. Viver e sentir dentro de tudo que for ou quanto quer que seja meu oficio-amor todas as dores e amores desse mundo, e seguir. Seja qual for minha ocupação de vida. Mente atenta. Sempre a postos para a próxima agenda de existir. E lutar. Porque também quero ir, e ser. Até o fim.